Naquela manhã, no final de junho, vestimos os coletes balísticos, os capacetes e rumamos os três, eu, o Odacir e o Max, nosso condutor e intérprete, a Soledar. A viagem obrigava a passar numa das mais duras estradas do Donbas, a M03, entre Slovyansk e Bakhmut, onde vários tanques ucranianos circulavam, tendo no chão marcas de disparos de artilharia, e depois mais uns 15 quilómetros de outro caminho até ao destino.
Os russos estariam a pouco mais de 10 quilómetros de distância. Chegámos a Soledar, famosa pelas suas minas de sal, e entramos num hospital completamente vazio. Deixaram-no para trás sem gente, blocos cirúrgicos com instrumentos desarrumados sobre as macas.
Os sons de artilharia eram uma constante, uns mais fortes e outros pareciam rasgar o horizonte, quase certamente seriam os tão comuns rockets Grad, mais finos. Vimos alguns habitantes perto de um conjunto de prédios de três ou quatro andares e decidimos sair ao seu encontro. De dez mil habitantes no passado, Soledar contava com pouco mais de quinhentos. A grande maioria já tinha fugido.
Sentada num banco de jardim, frente a um bloco de apartamentos, Raisa Kravchenko dizia-nos que queria que tudo fosse como antes, que tudo florescesse como antes, ver as pessoas a sorrir, os sorrisos das crianças, vê-las a correr por todos os cantos. Em seguida, as lágrimas começaram a cair-lhe pelo rosto enquanto contava o quanto amava a sua casa, apesar de velha, e dizia que não queria que a cidade ficasse em ruínas: “Eles destroem tudo”.
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