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Um ano de guerra na Ucrânia

Quando ouço os nomes

Soledar, no Donbas
Soledar, no Donbas
SOPA Images
Quando ouço ou leio notícias sobre cidades por onde passámos, como Soledar, pergunto-me sempre onde estará Raisa e os outros que só queriam poder ouvir de novo as crianças e vê-las correr, por toda a cidade, como só elas sabem? Esta é um a das crónicas de enviados da SIC à Ucrânia que publicamos ao longo de sta semana, em que se cumpre um ano de guerra

Pedro Miguel Costa

Naquela manhã, no final de junho, vestimos os coletes balísticos, os capacetes e rumamos os três, eu, o Odacir e o Max, nosso condutor e intérprete, a Soledar. A viagem obrigava a passar numa das mais duras estradas do Donbas, a M03, entre Slovyansk e Bakhmut, onde vários tanques ucranianos circulavam, tendo no chão marcas de disparos de artilharia, e depois mais uns 15 quilómetros de outro caminho até ao destino.

Os russos estariam a pouco mais de 10 quilómetros de distância. Chegámos a Soledar, famosa pelas suas minas de sal, e entramos num hospital completamente vazio. Deixaram-no para trás sem gente, blocos cirúrgicos com instrumentos desarrumados sobre as macas.

Os sons de artilharia eram uma constante, uns mais fortes e outros pareciam rasgar o horizonte, quase certamente seriam os tão comuns rockets Grad, mais finos. Vimos alguns habitantes perto de um conjunto de prédios de três ou quatro andares e decidimos sair ao seu encontro. De dez mil habitantes no passado, Soledar contava com pouco mais de quinhentos. A grande maioria já tinha fugido.

Sentada num banco de jardim, frente a um bloco de apartamentos, Raisa Kravchenko dizia-nos que queria que tudo fosse como antes, que tudo florescesse como antes, ver as pessoas a sorrir, os sorrisos das crianças, vê-las a correr por todos os cantos. Em seguida, as lágrimas começaram a cair-lhe pelo rosto enquanto contava o quanto amava a sua casa, apesar de velha, e dizia que não queria que a cidade ficasse em ruínas: “Eles destroem tudo”.

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