O presidente russo acusou esta quinta-feira o Ocidente de “alimentar” a guerra na Ucrânia e de dar “vários passos nos últimos meses em direção à escalada” do conflito. As declarações de Vladimir Putin foram feitas no seu discurso anual no Clube Valdai, um fórum de discussão com ligações ao Kremlin que decorre em Moscovo.
Foram várias as críticas de Putin: acusou os países do Ocidente de não terem “nenhuma unidade” e de participarem num “jogo perigoso, sangrento e sujo”. O chefe de Estado russo também apontou o dedo à “cultura de cancelamento” por parte do Ocidente, que “aniquila tudo o que é vivo e criativo” e “atrofia o crescimento do pensamento livre”.
“As elites ocidentais não têm o direito de impor aos outros que sigam o seu caminho. Ninguém pode ditar ao nosso povo como devemos construir a nossa sociedade”, vincou. E garantiu: “A história vai acertar tudo. Não vai cancelar os maiores génios reconhecidos da cultura mundial”. “Tem sido característica deles desde os tempos coloniais porque pensam que todos estão abaixo das normas, enquanto só eles pertencem à elite”, acusou ainda.
Apesar de todas as insinuações, Vladimir Putin disse que a Rússia não se considera inimiga do Ocidente, mas assegurou que “nunca tolerará o que o Ocidente lhe diz para fazer”. “A Rússia não procura hegemonia” e “não está a desafiar o Ocidente”, mas sim a “reservar o direito de se desenvolver”, acrescentou.
Guerra está a ser “alimentada” pelo Ocidente
O “direito de se desenvolver”, aos olhos de Moscovo, passa pela “operação militar especial”, ou seja, a guerra na Ucrânia. Putin acredita que a guerra “vai beneficiar a Rússia e o seu futuro” no final de contas: “Vai reforçar a nossa soberania em todos os domínios e, em particular, no campo económico. Há perdas económicas, mas há aquisições enormes”.
Segundo o presidente russo, o conflito está a ser alimentado pelos países ocidentais, que “impõem sanções contra aqueles que não querem estar sob o seu controlo”. “O Ocidente deu vários passos nos últimos meses em direção a uma escalada [do conflito]. Estão a alimentar a operação na Ucrânia, organizar provocações em Taiwan e a desestabilizar o mercado alimentar e de energia”.
Houve tempo para falar sobre a NATO. Vladimir Putin afirmou que Moscovo tentou “estabelecer relações” e “fazer amizades”, mas tal não foi possível. “Tínhamos uma mensagem para a NATO: 'Parar de ser inimigos e construir um diálogo, confiança e paz'. Fomos absolutamente sinceros nisso. Mas o que é que recebemos em troca? Pressão permanente e zonas de conflito nas nossas fronteiras. Qual era o objetivo? Desestabilizar, tornar a Rússia mais vulnerável e instrumentalizá-la para cumprir os objetivos” da Aliança Atlântica.
No mesmo discurso, esta quinta-feira, o chefe de Estado russo referiu-se ainda a uma “nova ordem mundial”, que “deve ser baseada na lei e na ordem” e na qual “o diálogo entre a Rússia e o Ocidente e outros centros de desenvolvimento irá tornar-se mais importante”.
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