Numa casa em Odessa, Iwen Puddu, 55 anos, tenta recuperar de uma cirurgia ao joelho que o afastou da frente de combate em Mykolaiv, no sul da Ucrânia. Os ligamentos rebentaram de vez a meio de agosto, durante dois dias debaixo de fogo, em que perdeu um amigo e viu outro ficar ferido. Passa o tempo a ver vídeos, alguns de guerra, outros de surf na Nazaré. Nascido em Ulm, na Alemanha, filho de pai italiano e mãe germânica, familiarizou-se com armas de fogo logo na adolescência.
Esteve 12 anos preso. Paraquedista, caçador em terra e nas profundezas dos mares, decidiu juntar-se às forças ucranianas no combate contra a Rússia para defender a Europa e a memória da mãe, violada por soldados soviéticos na II Guerra Mundial. Rejeita o rótulo de mercenário e acredita que a vitória ucraniana acontecerá já no inverno. Em português fluente, com sotaque de Peniche — embora temperado com expressões italianas e alemãs —, o combatente relata ao Expresso a experiência de sete meses numa guerra infernal.
Porque decidiu juntar-se à Ucrânia na guerra contra a Rússia?
Na noite em que a guerra começou nem consegui dormir. Estava chocado. Só pensava que os russos iam ganhar em dois ou três dias e depois quem os parava? Mamma mia, iam continuar pela Polónia, Lituânia, até chegarem a Berlim e quem sabe a Portugal. Não quero viver nesta ditadura russa. Gosto da Europa e do nosso estilo de vida, achei que era altura de a defender. Estava em Estugarda, tinha saído da prisão há pouco tempo e não tinha muito a perder. Vendi umas coisas, agarrei no dinheiro que tinha, enfiei numa malinha umas roupas de inverno e dois drones e pus-me a caminho.
Levou armas?
Não, era proibido entrar com armas na Ucrânia.
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