Comissão independente diz que houve "crimes de guerra" na Ucrânia
Investigações a bombardeamentos em zonas residenciais e civis, execuções e violência sexual, levaram a comissão de inquérito independente das Nações Unidas a concluir que foram cometidos crimes de guerra na Ucrânia
“Com base na evidência recolhida pela comissão, concluiu-se que foram cometidos crimes de guerra na Ucrânia”. Foi com esta frase que Erik Mose, presidente da comissão de inquérito independente sobre a Ucrânia, revelou esta sexta-feira a gravidade das provas recolhidas nas regiões de Kiev, Chernihiv, Kharkiv e Sumy. Em declarações ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU, descreveu que a comissão visitou 27 cidades nestas regiões e entrevistou mais de 150 vítimas e testemunhas.
Mose afirmou que ao nível das hostilidades se verificou o uso de armamento explosivo numa vasta zona com consequências em “áreas populosas”, o que descreveu como “uma fonte de intenso sofrimento e dano aos civis”. Nas suas declarações, aponta que foram verificados em primeira mão os danos causados a edifícios residenciais, escolas e hospitais. E citou uma mulher que fugiu durante os ataques a Kharkiv, e disse à comissão “eu não vivo, eu só existo; nada resta na minha alma”.
Algumas das vítimas entrevistadas pela comissão disseram ter sido transportadas para prisões na Rússia, onde permaneceram durante semanas e foram sujeitas a choques elétricos, violência e nudez forçada. A violência sexual e de género também foi alvo de investigação, tendo a comissão concluído que “os soldados da Federação Russa cometeram tais crimes”. A idade das vítimas variou entre os 4 e os 82 anos.
Ataques indiscriminados
O organismo considera que foram realizados ataques indiscriminados contra civis e soldados, incluindo recurso a mísseis em zonas com população. Além disso, referiu que estão a ser investigadas execuções em 16 cidades e vilas e que foram recebidas “alegações credíveis” de mais casos de execução.
As descrições que deu são gráficas. “Elementos comuns a tais crimes incluem a detenção prévia das vítimas, bem como sinais visíveis de execução nos corpos, tais como mãos atadas atrás das costas, feridas de disparos na cabeça e gargantas cortadas”, descreveu.
O foco da atualização da investigação foram violações contra a integridade pessoal, ficando a indicação de que outros temas podem vir a ser investigados, como as alegações de transferência forçada de pessoas e a adoção de crianças.
As conclusões são as primeiras comunicadas pela comissão desde foi criada pelo Conselho de Direitos Humanos, em março passado, e abrangem especialmente os atos cometidos em fevereiro e março nas zonas próximas de Kiev, Chernigov, Kharkiv e Sumy.
“A recente descoberta de mais valas comuns ilustra a gravidade da situação”, apontou o presidente da comissão, que indicou que as autoridades ucranianas colaboraram nas investigações, enquanto a Rússia se recusou sempre a sequer comunicar com a comissão.
De acordo com as autoridades locais, foram descobertas 443 sepulturas, incluindo uma que continha os corpos de 17 soldados ucranianos e uma inscrição que dizia “Exército ucraniano, 17 pessoas. Izium, morgue”.
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