“Quanto à guerra em larga escala na Ucrânia, iniciada pela Federação Russa, as intervenções do Santo Padre Francisco são claras e inequívocas ao condená-la como moralmente injusta, inaceitável, bárbara, sem sentido, repugnante e sacrílega." Foi com estas palavras que o Vaticano afirmou pela primeira vez, esta terça-feira, que a Rússia foi a parte agressora na guerra da Ucrânia. A igreja católica condena assim, de forma veemente, a invasão orquestrada por Moscovo, em oposição aos comentários anteriores do pontífice, que suscitaram as críticas de Kiev.
De acordo com o jornal “The New York Times”, especialistas que estudam o Vaticano garantem que se trata da primeira vez que o papa Francisco culpou explicitamente a Rússia pelo conflito.
Desde a invasão total da Ucrânia, iniciada a 24 de fevereiro, os críticos têm apontado que Francisco arriscou a sua autoridade moral ao não criticar Vladimir Putin, nem mencionar o seu nome, mantendo a política de longa data do Vaticano de não escolher lados em conflitos, para preservar a possibilidade de a igreja de desempenhar um papel conciliador nas conversações de paz.
O caso de Darya Dugina
As autoridades ucranianas mostraram-se chocadas, quando, na semana passada, Francisco se referiu a Darya Dugina - uma ultranacionalista russa de 29 anos que se assumiu a favor da invasão da Ucrânia e foi morta num ataque com uma bomba - como uma vítima “inocente”.
Referindo-se à “loucura da guerra”, Francisco disse, na sua audiência geral semanal: “Os inocentes pagam pela guerra. Os inocentes! Pensemos nessa realidade e digamos uns aos outros: ‘A guerra é uma loucura.’" O discurso fez com que o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano se apressasse a convocar o embaixador do Vaticano na Ucrânia, para expressar “profunda deceção” quanto à posição adotada pela igreja.
Em resposta, o Vaticano emitiu e enviou um comunicado à publicação ucraniana “Vatican News”, já que o papa procurava estar “próximo de todos aqueles que sofrem as consequências da guerra; em primeiro lugar, a população inocente da Ucrânia, que está a morrer em ataques com bombas".
O passo dado nesta terça-feira, no entanto, evidencia uma tentativa mais contundente de o papa se posicionar, depois de, nos últimos dias, se ter elevado o tom dos debates públicos em torno do significado político das palavras de Francisco. O jornal “The New York Times” aponta que os peritos em questões da igreja católica acreditam que essas palavras devem ser lidas como iniciativas em defesa da vida humana e não como um posicionamento político.
O papa esperava poder encontrar-se com o patriarca Kirill, líder da Igreja Ortodoxa Russa, durante uma reunião de líderes religiosos no Cazaquistão, que se realizará em meados de setembro. A agência de notícias estatal russa informou, contudo, que a Igreja Ortodoxa Russa seria representada por uma delegação oficial e que Kirill não estaria presente no encontro.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: piquete@expresso.impresa.pt
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes