Orçamento do Estado russo financiou viagens luxuosas ao estrangeiro e segurança pessoal de filha de Putin
Putin e as filhas conhecidas de Putin, Maria e Katerina
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Dezenas de seguranças de Putin acompanharam, ao longo de vários anos, a filha do Presidente russo, Katerina Tikhonova, em viagens ao estrangeiro. Entre hotéis spa e jatos privados, em cada viagem voou quase um milhão de rublos pertencentes ao Estado russo
Milhões de rublos do Orçamento do Estado russo foram gastos em viagens ao estrangeiro feitas por uma das filhas de Putin, Katerina Tikhonova. Uma investigação conjunta da "Vazhnye Istorii" (ou "Important Stories", na versão em inglês) e da publicação alemã "Der Spiegel" revela que a filha mais nova do Presidente da Rússia usou uma quantidade substancial de recursos do Estado em benefício da sua vida privada: viagens em jatos privados, estadias em hotéis com spa ou resorts nos Alpes, e encontros com o bailarino Igor Zelensky, com quem terá um envolvimento romântico.
Durante anos, dezenas de seguranças de Vladimir Putin têm acompanhado Katerina Tikhonova nestas viagens. A investigação detalha que, em abril de 2018, vários funcionários do Serviço de Segurança Presidencial da Rússia viajaram de Moscovo até Munique. Os guardas do Presidente ficaram, então, hospedados por apenas um dia num hotel nos arredores da capital da Baviera, tendo-se mudado para um hotel mais próximo do centro no dia seguinte. Mais de uma semana depois, tornaram a mudar de instalações e assim foi durante um mês, enquanto reforços de Moscovo iam chegando, até um total de 12 pessoas. Tratava-se da "operação especial de Munique", que só terminava em maio, com o regresso da comitiva à Rússia.
Entre 2016 e 2021, os procedimentos repetiram-se: os seguranças do Presidente russo voaram para Munique dezenas de vezes; por vezes até com um intervalo de apenas alguns dias entre deslocações e sempre em grandes grupos, de sete a dez pessoas. A "operação especial de Munique" consistia em organizar, com todas as condições de segurança acauteladas, encontros entre a filha de Putin, instalada no Hotel an Der Oper, e o bailarino russo Igor Zelensky, que dirigia a Ópera Estatal da Baviera, localizada na rua ao lado, no edifício do Teatro Nacional de Munique.
Em maio, a "Vazhnye Istorii" e o "Der Spiegel" apuraram que Igor Zelensky é genro e pai da neta de Vladimir Putin. Este é o segundo envolvimento romântico conhecido de Katerina Tikhonova, que já tinha estado casada com Kirill Shamalov, um empresário do setor da energia na Rússia. A revelação acerca do bailarino colocou-o debaixo dos holofotes por motivos que se desviavam da carreira bem-sucedida enquanto artista. O bailarino chegou a ser solista do Teatro Mariinsky e, como convidado, do Royal Ballet britânico, do La Scala, em Itália, e de outros palcos mundiais.
As reservas de hotel para Katerina Tikhonova e os seus acompanhantes foram feitas por Alexei Skripchak, um alto responsável da segurança presidencial, cujo arquivo de e-mail foi consultado pelo site "Vazhnye Istorii".
O principal destino das viagens da filha mais nova de Vladimir Putin e da comitiva que a acompanhava era a Alemanha, onde Igor Zelensky trabalhava. Quase todos os meses Katerina Tikhonova partia para Munique. Entre 2016 e 2021, segundo o arquivo de e-mail do alto funcionário russo, foram feitas reservas de hotel para todos os viajantes em quase cem ocorrências: mais de 40 na Alemanha, um terço em território russo, e outras vezes na Áustria e em Itália. Em causa, está mais de um milhão de rublos (cerca de 16 mil euros, ao câmbio atual) por viagem. A investigação das duas publicações (russa e alemã) mostra que as "viagens de negócios" dos funcionários do Serviço de Segurança Presidencial foram pagas com o orçamento do Estado russo.
O contrato de Igor Zelensky com a Ópera da Baviera terminaria em 2025, mas o bailarino anunciou, em abril, que se demitia por motivos familiares. Outra versão, divulgada pelo "Der Spiegel, indica que a saída se deveu ao facto de se recusar a condenar publicamente a guerra desencadeada pela Rússia na Ucrânia.
O secretismo de Putin e a preocupação com a segurança
As identidades das filhas de Putin nunca foram confirmadas, nem pelo próprio ou pelo Kremlin, e nenhuma fotografia das duas mulheres em adultas foi divulgada oficialmente. Até mesmo o número de filhos que Putin terá é objeto de intensa especulação.
Segundo a BBC, Vladimir Putin tem apenas duas filhas, Maria e Katerina, que nasceram durante o casamento com Lyudmila Putina, uma ex-administradora da Aeroflot, de quem se divorciou em 2013, tornando-se o primeiro líder russo a separar-se desde Pedro, o Grande, em 1698.
De acordo com o jornal "The Guardian", Putin raramente prestou declarações públicas sobre as filhas. Durante uma conferência de imprensa em 2015, o líder russo limitou-se a desmentir a teoria de que as filhas teriam fugido do país, o que tinha sido objeto de especulação. Foi, de resto, cauteloso: "As minhas filhas moram na Rússia e estudaram apenas na Rússia, estou orgulhoso delas. Falam três línguas estrangeiras, de forma fluente. Mas eu nunca falo sobre a minha família com ninguém. Cada pessoa tem direito ao seu destino, vive a própria vida e fá-lo com dignidade."
Uma das rondas de sanções anunciadas pelos EUA teve como alvos Maria Vorontsova, de 36 anos, e Katerina Tikhonova, as pessoas que o Tesouro norte-americano afirma serem a descendência do líder russo. "Acreditamos que muitos dos bens de Putin estão escondidos com membros da família e é por isso que estamos a visá-los", declarou um alto responsável da Casa Branca. Putin já disse várias vezes: "Tenho uma vida privada na qual não permito interferência. Deve ser respeitada."
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