França

Antigo membro da Resistência Francesa quebra silêncio sobre execução de prisioneiros alemães em 1944

Antigo membro da Resistência Francesa quebra silêncio sobre execução de prisioneiros alemães em 1944
Stéphanie Para

Depois de guardar segredo durante mais de sete décadas, Edmond Réveil decidiu contar, aos 98 anos, a história até agora desconhecida dos prisioneiros alemães assassinados em Meymac, em 1944. Em breve, uma investigação vai procurar encontrar cerca de 40 corpos

Mais de 70 anos depois, um antigo membro do grupo FTP (Francs-Tireurs et Partisans) – organização da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial – quebrou o silêncio sobre o massacre de alemães que testemunhou em Le Vert, na região francesa de Meymac, em junho de 1944. Aos 98 anos, Edmond Réveil conta como o destacamento de 30 combatentes, a que pertencia, estava a vigiar prisioneiros quando recebeu ordem para os matar.

O comandante do destacamento “chorou como uma criança quando recebeu a ordem, mas havia disciplina na Resistência”, recorda Réveil, citado pela BBC. “Pediu voluntários para cumprirem a ordem. Cada combatente tinha alguém para matar. Mas houve alguns de nós – e eu era um deles – que disseram que não iam participar”, conta. “Obrigámo-los a cavar as suas próprias sepulturas. Foram mortos e deitámos-lhes cal viva em cima. Lembro-me que cheirava a sangue. Nunca mais falámos disso.”

A história foi divulgada pelo jornal local “La Montagne” nesta terça-feira, mas foi em 2019 que Réveil se levantou no final de uma reunião da Associação Nacional de Veteranos e anunciou que tinha algo a dizer – devido à pandemia de covid-19, o caso foi reaberto apenas há algumas semanas.

“Ao longo dos anos, ele teve muitas oportunidades para contar a história e nunca o fez. Mas ele era a última testemunha. Era um fardo para ele. Ele sabia que, se não falasse, nunca ninguém saberia”, explicou o presidente da câmara de Meymac, Philippe Brugere, à BBC.

Após o Dia D, a 6 de junho de 1944, os combatentes da Resistência organizaram uma espécie de revolta em Tulle, em que entre 50 e 60 soldados alemães foram feitos prisioneiros. Os alemães responderam, a 9 de junho, com o enforcamento de 99 reféns – o conhecido massacre de Tulle.

No dia 12 de junho, cerca de 50 prisioneiros chegaram a Meymac. “Se um prisioneiro quisesse urinar, tinha de ser vigiado por dois de nós. Não tínhamos planeado nada para a alimentação. Estávamos sob as ordens de um centro de comando aliado em Saint-Fréjoux e foram eles que deram as ordens para os matar”, relata.

Historiadores locais indicam que, em 1967, foram exumados 11 destes corpos, mas as escavações pararam e não foram mantidos registos do local exato. Entretanto, um homem que se recorda desse momento e que era um jovem na altura deu uma indicação aproximada do local onde poderão estar as sepulturas dos cerca de 40 restantes soldados. Membros da Comissão Alemã de Túmulos de Guerra (VDK) vão deslocar-se a Meymac nas próximas semanas, com o objetivo de determinar o sítio exato, através da utilização de um radar de penetração no solo.

“É um velhote maravilhosamente amável. Era contra a violência e, na Resistência, nunca disparou um tiro. Tudo o que ele quer agora é que os soldados mortos sejam recordados e que as suas famílias saibam onde jazem. E talvez um pequeno memorial seja erguido no local”, conclui Brugere sobre Réveil.

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