Internacional

Cronut: um bolo viral (e delicioso, já o provámos)

3 janeiro 2014 18:10

Pedro Cordeiro

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

O chef Dominique Ansel inventou o cronut

getty

Criação de um francês instalado em Nova Iorque, o híbrido de donut e croissant foi um êxito imediato.

3 janeiro 2014 18:10

Pedro Cordeiro

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

É um pássaro? É um avião? É um donut? É um croissant? É tudo isto. Bom, é tudo isto menos um pássaro e um avião. É um cronut, isto é, a fusão entre um donut e um croissant. Visão divina para os mais gulosos, anátema para quem luta com o peso ou prefere um estilo de vida detox, este bolo nasceu em Nova Iorque, há ano e meio, e fez furor. O Expresso teve ocasião de o provar.

O cronut é uma criação do chefe Dominique Ansel, pasteleiro francês instalado em estabelecimento homónimo em Spring Street, na baixa de Manhattan, a dois quarteirões da nova torre One World Trade Centre e do Museu e Memorial do 11 de Setembro. Feito de massa folhada, como o croissant original (não os de brioche que por aí pululam), por fora parece-se com o donut. Tem forma de aro e é frito em óleo de grainha de uva, a uma temperatura controlada e sempre igual, e coberto de açúcar, levando ainda recheio e cobertura glacé. O processo completo dura três dias. Se o leitor se sentir engordar só com a descrição, não se admire. Mal por mal, porém, é melhor engordar saboreando-o.

Lançado em maio de 2013, o cronut foi um êxito inesperado. Três dias após a estreia, havia mais de cem pessoas à porta da pastelaria, onde trabalhavam apenas quatro pessoas. E assim foi nos dias seguintes, em crescendo. As portas abrem às oito da manhã, mas às cinco já havia gente à espera. Passou a haver duas filas: uma só para cronuts, outra para tudo o mais. A casa produz apenas 350 por dia, ao preço unitário de 5 dólares (4 euros), e cada cliente só pode comprar dois cronuts.

Este limite serve para evitar o açambarcamento destinado ao mercado negro, onde a cotação do cronuts chegou a atingir os 100 dólares (80 euros). Segundo Ansel, houve tentativas de suborno de empregados e até quem vasculhasse os caixotes de lixo da pastelaria na esperança de encontrar restos do bolo para provar. Para suavizar a espera de horas, a casa já ofereceu chocolate quente ou madalenas e, no Natal, houve cânticos para entreter os mais pacientes.



Gratos pela chuva

O Expresso provou o cronut, tendo beneficiado de uma manhã de chuva miudinha que deve ter afastado muita gente. Às oito da manhã havia cerca de 30 pessoas na fila. A intervalos regulares, empregados da pastelaria vinham mandar entrar alguns, os poucos que cabem no exíguo estabelecimento (além dos que lá estão para tomar café ou comer outra iguaria, e não são poucas). Olhando para o comprimento da fila, dizem, simpáticos: "Não se preocupem. Por agora todos vão ter cronuts!". Ao fim de 20 minutos a promessa cumpriu-se. Comprámos dois.

Feita a prova, o leigo que assina estas linhas só tem palavras elogiosas. O cronut será uma bomba calórica, mas é uma delícia. Estaladiço sem ser crocante, suave e macio no interior - sem sensação de gordura na boca -, tem uma dimensão ideal e nada excessiva, o que não é um dado adquirido nos Estados Unidos, país do jumbo size. O recheio e a cobertura eram de abóbora e chá, saborosos, perfumados e doces no ponto certo, sem exagero. Não tendo sido uma escolha (só há um sabor por mês), cumpriram na perfeição.

Atualmente, Dominique Ansel está a servir cronuts de chocolate preto Valrhona com framboesa e um toque de licor Chambord. O Expresso não sabe qual será o sabor para inaugurar 2015, mas deixa, a título de curiosidade, a lista de declinações pretéritas: baunilha e rosa; limão e árcer; amora e lima; coco; figo e mascarpone; maçã com crême fraîche; doce de leite salgado; chocolate Valrhona com champanhe; manteiga de amendoim com rum e caramelo; framboesa e líchia; leite e mel com um toque de alfazema; maracujá com caramelo; mirtilo, limão e verbena; morango balsâmico e mascarpone; cereja morello com creme de amêndoas torradas; pêssego amarelo com chá preto; pera bosc e salva; abóbora e chá; rum das Caraíbas com passas.



Surpresa e solidariedade 

Ansel já contou que, quando inventou o cronut, estava apenas "a fazer um bolo para a equipa, que dissera querer comer donuts". Como não tinha a receita, decidiu fazer o seu próprio donut, usando uma massa folhada que, explica, "é semelhante, mas não igual à do croissant". Passados dois meses (e dez receitas, confessa), lançou o cronut, que hoje é marca registada. 

Face ao sucesso rápido, o pasteleiro resistiu a conselhos de aumentar o preço ou vender a patente do cronut, incluído pela revista "Time" na lista das 25 melhores invenções de 2013. Ansel garante que a uma recomendação que seguiu foi: "Imagina o que terias feito caso o cronut nunca tivesse existido. E faz isso mesmo".

A única extravagância do chefe foi colocar o cronut ao serviço de boas causas. Doze deles renderam mais de 6000 dólares para o Banco Alimentar de Nova Iorque, no ano passado. Noutra iniciativa, Ansel fez uma parceria com a cadeia de fast-food Shake Shack e vendeu "buracos" de cronut (o que sai do centro do aro) com creme de caramelo e manteiga castanha. Mil "buracos" renderam 5300 dólares para o Fundo de Viúvas e Órfãos da Polícia nova-iorquina e para a conservação do Madison Square Park. Noutro leilão, uma dúzia de cronuts foram arrematados por 14 mil dólares, a favor de outro banco alimentar, em menos de 20 minutos.

Parentes e recomendações

Ansel empenha-se em evitar confusões entre o seu cronut, o verdadeiro, e as "n" cópias ou mesmo antecessores. Uma cozinheira de Massachusetts assegura que o seu "dosant" foi inventado em 2008 e outro chefe do Ohio reivindica "doughssants" desde 1991. Já depois da consagração do cronut, a conhecida cadeia Dunkin Donuts lançou o "croissant donut", a metade do preço do de Ansel e sem recheio.

Alheio a polémicas, o francês prefere explicar a melhor forma de comer o seu bolo-vedeta. O ideal é fazê-lo o mais rapidamente possível, sem cortar (caso seja inevitável, usar faca de serrilha), nunca guardar no frigorífico (ficam borrachosos) nem aquecer. O Expresso seguiu involuntariamente o conselho e, como já se referiu, os resultados foram positivos.

Pode-se comprar cronuts ao balcão da pastelaria Dominique Ansel, no nº 189 de Spring Street, em Manhattan (Nova Iorque), de segunda a sábado das 8h as 19h e ao domingo das 9h às 19h. Quem chega antes das 7h, aos dias de semana, costuma ter cronut garantido, embora isto não seja um compromisso oficial. Durante o inverno há bilhetes para quem quer voltar mais tarde sem ficar horas na fila.

Outra forma de conseguir a guloseima é visitar www.cronutpreorder.com, onde se aceitam encomendas todas as segundas-feiras, às 11h, para daí a duas semanas. O limite é de seis unidades e de uma encomenda por cliente. A terceira e última opção é encomendar mais de 50 cronuts através do correio eletrónico info@dominiqueansel.com, sempre para o mês seguinte. Da nossa parte, a recomendação é aproveitar qualquer ocasião de o provar.