Internacional

Contradições ajudaram a incriminar pais de Asunta

21 novembro 2013 17:24

Rosário Porto e Alfonso Basterra só mantiveram testemunhos coincidentes até o segredo de justiça ser levantado. Logo depois, viraram-se um contra o outro.

21 novembro 2013 17:24

As explicações confusas e as contradições nos interrogatórios foram "determinantes" para o juiz acusar Rosario Porto e Alfonso Basterra de assassinarem a filha de 12 anos, em Santiago de Compostela, Espanha.

Segundo "La Voz de Galicia", o auto da acusação explica que os pais de Asunta Basterra "idealizaram e executaram em conjunto o plano de assassinar a filha", tendo apresentado versões idênticas dos factos durante os interrogatórios.

Porém, com o levantamento do segredo de justiça, os advogados tiveram acesso aos detalhes da acusação e levaram os seus clientes a alterarem as explicações anteriormente dadas. A advogada Rosario Porto diferiu na tese apresentada e acusou então o ex-marido de sedar a filha com ansiolíticos durante os seus últimos três meses de vida.

Já era sabido que as professoras da menina também alertaram para o facto desta chegar frequentemente às aulas de música e de balê em "estado de sonolência", tendo sido mesmo impedida de assistir a uma aula em julho por não estar em condições.

Confrontado pelo juiz José Antonio Vázquez Taín, Alfonso Basterra negou, contudo, ter administrado a substância à filha, garantindo ainda nunca ter tido esse medicamento em casa.

Para a acusação contribuíram também as análises toxicológicas que comprovaram a existência no corpo de Asunta de uma "dose excessiva" de lorezapam, um ansiolítico recomendado para combater estados de stresse e ansiedade, que era prescrito para a mãe. 

O auto da acusação sublinha ainda que os dois acusados têm total conhecimento dos factos que lhes são imputados. 

Imagens das câmaras alteram tese

"Conhecem perfeitamente que, na base dos resultados da autópsia e das análises toxicológicas, se lhes imputa a ação, com base em episódios anteriores, ao dia 21 de setembro. Alfonso Basterra foi quem administrou à menor uma dose letal de Orfidal, para privá-la de toda a voluntariedade e de defesa, para presumivelmente facilitar a ação de asfixia, num plano acordado com Rosario Porto", pode ler-se no auto de acusação.   

Além disso, as contradições nas teses partilhadas por ambos verificaram-se logo de ínicio, dando mais razões aos investigadores para formularem a acusação.

Inicialmente, Rosario garantiu que tinha saído de casa para realizar umas tarefas, deixando a filha a fazer os deveres da escola, com a porta fechada à chave. Mas quando a Guarda Civil disse haver imagens de câmaras de segurança que mostram a mãe a sair de casa com a  filha, num Mercedes, em direção a Teo, a advogada recuou nessa tese.

Os depoimentos de Alfonso Basterra também ficaram marcados por várias incoerências, sobretudo em relação à hora e ao lugar em que tinha visto a filha pela última vez.

Computador e telemóvel de Alfonso Basterra desapareceram

O juiz explica ainda que ficam por avaliar alguns elementos, como um computador e um telemóvel pertencentes a Alfonso Basterra, "que, por razões que se escapam a esta instrução, foram ocultados."

José Antonio Vázquez Taín justificou a necessidade de manter temporariamente o segredo de justiça neste caso para poder ter acesso às explicações dos "numerosíssimos indícios claros que existem contra eles [os acusados], antes destes prepararem uma explicação com as suas defesas."

Rosario Porto e Alfonso Basterra estão detidos desde 27 de setembro, cinco dias depois de ter sido encontrado o corpo da filha numa estrada florestal em Teo, próximo de Santiago de Compostela.

Ambos são acusados do  assassinato da filha, de origem chinesa, que adotaram quando a menina tinha cerca de um ano.