António Vitorino desiste após perder primeira ronda da corrida pela Organização Internacional para as Migrações
MARTIAL TREZZINI
A disputa foi inédita e terminou com uma desistência. O português e diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações retirou a sua recandidatura depois de Amy Pope, proposta pelos Estados Unidos, ter sido a mais votada na primeira ronda
Depois de perder a primeira ronda da eleição do novo diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), o português António Vitorino, atual titular do cargo retirou a sua recandidatura, avançou o “Público”. Segundo a agência Lusa, a nova diretora-geral. é Amy Pope, dos Estados Unidos.
É este o resultado de uma corrida invulgar ao cargo, que envolveu tensão diplomática: de um lado estava Washington, do outro Bruxelas. A eleição faz-se por voto secreto e começou esta segunda-feira de manhã.
Marcelo elogia Vitorino
O Presidente da República português deixou uma mensagem a felicitar Vitorino pelo trabalho que desenvolveu à frente da organização, desde 2019, “que se traduziu no significativo alargamento do apoio da OIM a dezenas de milhões de migrantes à volta do mundo”.
“Felicito por isso o Dr. António Vitorino por aquele excelente trabalho, certo de que terá mais oportunidades de pôr a suas capacidades pessoais e profissionais do serviço de Portugal e do Mundo”, escreveu Marcelo Rebelo de Sousa.
A OIM procura que os movimentos migratórios sejam feitos com humanidade e de forma organizada, dá apoio humanitário e promove cooperação internacional. Está presente em mais de 100 países, e conta com 175 Estados-membros.
Crise após crise, os números foram aumentando até um cenário “dramático”, como descreveu a Organização das Nações Unidas: mais de 100 milhões de pessoas foram obrigadas a abandonar as suas casas e a deslocar-se pelo mundo. As principais causas passam pela insegurança alimentar, crise climática, guerra na Ucrânia e emergências de África ao Afeganistão.
As duas forças em competição
Vitorino desistiu de tentar a segunda ronda depois de ter tido 67 votos numa primeira volta, contra 98 de Pope. “Nunca aconteceu termos um diretor-geral em exercício a enfrentar competição de um dos seus vice-diretores-gerais. Chamemos-lhe uma inovação”, disse Vitorino aos jornalistas, citado pela agência Reuters.
Estas declarações foram feitas antes do anúncio dos resultados, e o português dizia que tinha “forte encorajamento da União Europeia”. Diplomatas indicaram à Reuters que enfrentaram pressão de ambos os candidatos nas últimas semanas e que esperavam várias rondas de votação até se chegar à maioria de dois terços do Conselho exigida pela Constituição da OIM para eleger o diretor-geral.
Pope partiu para as eleições como adjunta de Vitorino. Dentro da organização, assumiu as pastas de gestão e reforma. Além disso, esteve nas administrações de Joe Biden e Barack Obama. Nessas passagens pela Casa Branca, desenvolveu estratégias de gestão de surtos migratórios.
Amy Pope, vice-diretora-geral da Organização Internacional das Migrações, aspira a subir ao cargo máximo
FABRICE COFFRINI/Getty Images
Num artigo publicado na Chatham House em 2019, Pope criticou o plano de segurança fronteiriça de Donald Trump e defendeu o apoio externo a países vulneráveis da América Central como “crítico” para reduzir a migração ilegal para os Estados Unidos. “Privar os países de recursos de que precisam desesperadamente para lidarem com crime, violência e a falta de oportunidades nos seus países é a receita para mais migração, não menos. Construir relações, e não intimidar os países na região, é a única forma de resolver o problema”, escreveu.
Na semana passada, o Presidente dos Estados Unidos deixou uma mensagem de apoio à candidatura de Pope. “Amy tem a experiência necessária para mobilizar eficazmente a OIM e os seus membros a responder aos desafios crescentes de migração, incluindo o impacto da alteração do clima, com soluções inovadoras e inclusivas. É a pessoa certa para o trabalho”, indicou Joe Biden em comunicado.
Dos 10 diretores-gerais que a organização teve desde que foi fundada, todos eram homens e oito americanos. Vitorino assumiu o cargo em 2018, ano em que o candidato proposto por Washington – durante a Administração Trump – ficou em terceiro lugar. Segundo noticiou na altura “The Guardian”, Ken Isaacs questionara as alterações climáticas e fizera comentários islamofóbicos na rede social Twitter.
Ao apoiar a recandidatura de Vitorino, o Governo português destacou a sua experiência e os resultados obtidos no primeiro mandato. “Implementou reformas na estrutura da administração de topo, aumentou a diversidade geográfica e de género e estabeleceu mecanismos de avaliação e responsabilização, ao mesmo que tempo que melhorou a eficácia das atividades humanitárias da OIM em resposta a crises várias, incluindo no Iémen, Afeganistão e Ucrânia”, sustentou o Executivo em novembro.
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