Música, rosas e gente numa manifestação de amor aos livros: é o dia de Sant Jordi em Barcelona
Sant Jordi, a grande festa do livro (e das rosas vermelhas) em Barcelona
Europa Press News
Há rosas vermelhas à espera de quem as compre, ofereça ou receba, livros que querem o mesmo, autores que dão autógrafos, leitores que os esperam em filas. É a grande festa do livro em Barcelona, onde quase tudo é permitido e as Ramblas são só dos peões - com a circulação interdita a bicicletas e trotinetas para evitar acidentes. Há risos, abraços, cerveja e música, milhares de pessoas nas ruas, monumentos e edifícios governamentais de portas abertas para celebrar o dia da língua e da cultura catalã
É uma manifestação com a força e a alegria de quem espera uma dádiva, e a dádiva são presentes de rosas e livros que se oferecem. A tradição diz que os homens oferecem uma rosa vermelha à namorada/mulher/companheira e as mulheres oferecem um livro ao namorado/marido/companheiro, ninguém sabe ao certo quando começou a tradição, mas os livreiros editores admitem que é uma boa tradição para um negócio tantas vezes mal tratado e relegado para segundo plano na correria dos dias.
As famílias trocam presentes de livros entre si, os amigos também, as Ramblas e o Passeio de Grácia parecem o Metro em hora de ponta, a multidão sai à rua e festeja o livro como em Lisboa se festeja o Santo António e no Porto o São João.
É uma celebração onde a cultura se mistura com a festa e a vontade de partilhar o espaço público, e o vermelho das rosas forma uma onda em jeito de procissão.
Se os números forem semelhantes ao que acontecia antes da pandemia e dos confinamentos que abalaram tradições, celebrações e formas de vida, este domingo seriam vendidos/as e oferecidos/as seis milhões de rosas e três milhões de livros.
A Câmera Livreira de Catalunha não se pronuncia sobre o comércio de rosas vermelhas – cujo preço unitário rondas os 3 euros – mas prevê que sejam transacionados dois milhões de livros, o que corresponderá a uma faturação que ronda os 25 milhões de euros.
Os livreiros contam que o trabalho e a festa começa uns dias antes, mas nada disso faz esmorecer a energia de Iolanda Batallé, diretora da (livraria) Ona Llibres, que quinta-feira foi palco de um concerto inaugural e experimental de uma banda formada exclusivamente por músicos e escritores catalães.
A Livraria Lello, a “livraria mais famosa do mundo” – como titula a “Time Out” local -, quis juntar-se à festa do livro em Barcelona com um stand na Praça Real que homenageia Antoine de Saint-Exupéry e o Principezinho, aqui representado em muitas línguas da babel mundial.
Os catalães pedem chuva, que a seca tem sido prolongada, mas todos agradecem o sol com que a meteorologia brindou o dia de Sant Jordi. Os autores catalães estimam que as vendas de livros escritos na sua própria língua seja cerca de metade da dos livros editados em espanhol.
Rosas à unidade por €3 ou em molhos de dez
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Ada Castells, que recentemente publicou Solastàlgia, diz ao Expresso: “Este título é a palavra que melhor expressa a história que escrevi sobre alterações climáticas, mas não me atrevo a traduzir-me a mim própria para espanhol. Alguém que o faça, estou demasiado ligada à língua catalã para poder traduzir-me a mim própria”.
Se a lenda de Sant Jordi (São Jorge) é a de um militar romano que nasceu na Capadócia (Turquia) que se tornou um mártir por se recusar a perseguir os cristãos locais, a festa do livro e das rosas que evoca o seu nome é um tributo à liberdade de expressão e pensamento.
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