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Balão, quê? Como a arma do tempo da Revolução Francesa atiça a China e os EUA: perguntas e respostas que nunca esperou ler sobre espionagem

Balão, quê? Como a arma do tempo da Revolução Francesa atiça a China e os EUA: perguntas e respostas que nunca esperou ler sobre espionagem
Chase Doak

Um engenho atmosférico ou um balão-espião, dependendo do narrador, foi abatido nos céus americanos e provocou mais um foco de tensão entre a China e os Estados Unidos, levando mesmo ao adiamento de uma visita oficial do secretário de Estado Antony Blinken, encarregado de pôr gelo nas sempre complicadas relações entre o tio Sam e o império do meio. Mas para que é ainda alguém usa balões?

Um piloto de um caça americano abateu com a facilidade esperada um balão chinês que atravessou os Estados Unidos empurrado pelo vento. Os americanos apressaram-se a chamar-lhe balão-espião e os chineses clamam que se trata de um engenho científico próprio para recolher dados atmosféricos. Provavelmente, nunca se saberá a verdade. Mas porque é que os balões ainda são usados e serão assim tão diferentes dos que foram usados durante a Revolução Francesa ou a Guerra Civil americana?

Balão, quê?

Afinal, o que é um balão-espião? É isso mesmo: um engenho voador capaz de recolher informação, incluindo imagens, do território que estiver a sobrevoar. Os primeiros balões de ar quente terão sido usados com este propósito nas guerras que se seguiram à Revolução Francesa e até na Guerra Civil Americana, que opôs unionistas a confederados. Os balões de então tinham a vantagem de voar fora do alcance das armas inimigas e a tremenda desvantagem de serem dirigidos apenas pelo vento o que os tornava incontroláveis. Esse defeito ainda se mantém.

Mas era mesmo um balão?

Os atuais balões, espiões ou atmosféricos (usados para fins mais benignos, como recolha de dados climáticos) são equipamentos um pouco mais sofisticados do que os velhos balões de ar quente com barquinha e controlados com um cabo. Dispõem de câmaras fotográficas, são controladas por computador e andam a energia solar. Mas, aparentemente, continuam sujeitas ao jugo do vento. As autoridades chinesas argumentam que o engenho abatido era um inocente balão atmosférico levado pelo vento, mas os americanos acusaram-no de espionagem a abateram-no sumariamente nos céus da Carolina, quando já se preparava para voar para o Atlântico. Numa declaração oficial, o Pentágono admitiu que o balão nunca foi uma “ameaça”.

Mas porquê um balão?

Por estranho que possa parecer, na era dos satélites e dos drones, um balão é uma arma que ainda faz sentido. John Blaxland, professor de Segurança Internacional da Universidade Nacional da Austrália, explicou ao Guardian que, de facto, os satélites ainda são “a resposta”. Mas tendo em conta a tecnologia desenvolvida para os detetar eficazmente, os balões voltam a ser uma solução. “São mais fáceis de lançar e muito mais baratos. Além disso, podem abarcar uma área maior em muito menos tempo e não são fáceis de detetar”, concretizou o professor. Os balões voam a uma altitude máxima de 37 mil metros, muito acima dos aviões comerciais (12 mil) e muito abaixo dos satélites.

Quem é que se lembrou disto?

Ainda de acordo com as explicações do professor Blaxland, os franceses foram os primeiros a usar balões de ar quente para sobrevoar e recolher informação sobre as tropas e o território inimigo durante o confronto com os austríacos e os neerlandeses no final do século XVIII. Sessenta anos mais tarde, as tropas ianques usaram estes dispositivos para espiar as movimentações dos confederados. As informações eram transmitidas às tropas no terreno através de código Morse ou, mais simplesmente, com sinais escritos em pedaços de pano. Atualmente, os balões são usados oficialmente para fins científicos, mas só podem sobrevoar o território de outro país com autorização. Foi o que faltou neste caso.

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