Internacional

Talibãs proíbem mulheres afegãs de frequentarem as universidades. EUA reagem: "É indefensável"

Universidade de Cabul
Universidade de Cabul
WAKIL KOHSAR

Já desde agosto que as autoridades impedem as alunas do ensino superior de regressarem às aulas, autorizando apenas os alunos. Agora o regime talibã do Afeganistão formaliza, “até nova ordem”, a proibição da admissão de mulheres nas universidades públicas e privadas de todo o país

O Governo talibã no poder no Afeganistão proibiu todas as estudantes do sexo feminino de frequentarem o ensino universitário. Trata-se de mais um passo que agrava a repressão de direitos e liberdades das mulheres afegãs que os talibãs têm conduzido desde que assumiram o poder, em agosto de 2021.

Um porta-voz do Ministério do Ensino Superior afegão, ouvido pela CNN, confirmou a decisão, que tinha sido emitida em comunicado pelo Ministério da Educação. Segundo o documento, a proibição entrará em vigor imediatamente.

As meninas afegãs também já tinham sido impedidas de regressar à escola secundária em março. Naquela circunstância, o Governo liderado pelos talibãs determinou a interdição poucas horas depois de reabertas as escolas ao fim de meses de encerramento.

A organização sem fins lucrativos Human Rights Watch reagiu definindo a proibição como uma "decisão vergonhosa que viola o direito à educação para mulheres e meninas no Afeganistão”.

“Os talibãs evidenciam todos os dias que não respeitam os direitos fundamentais dos afegãos, especialmente das mulheres”, prosseguiu o órgão de defesa dos direitos humanos, numa nota tornada pública. Também os Estados Unidos da América condenaram “a decisão indefensável dos talibãs, de eliminar as mulheres das universidades”, de acordo com o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price. O alto funcionário norte-americano garantiu também que a mais recente ação do Executivo em vigor no Afeganistão "implicará consequências significativas para os talibãs, alienando-os ainda mais da comunidade internacional e impedindo que alcancem a legitimidade que desejam”.

Se a interdição de meninas em escolas secundárias, em março, já teve um “impacto notório” nas relações entre os EUA e os talibãs, este novo decreto complicará ainda mais os já tensos contactos entre os dois países. Ned Price assegurou que as consequências serão graves para o futuro do Afeganistão: “Com a implementação deste decreto, metade da população afegã em breve não terá acesso a educação além da escola primária.”

Robert Wood, embaixador norte-americano e representante para assuntos políticos especiais dos EUA, referiu, durante uma conferência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que "os talibãs não podem esperar ser membros legítimos da comunidade internacional até que provem respeitar os direitos de todos os afegãos, especialmente os direitos humanos e as liberdades fundamentais de mulheres e meninas”.

Os talibãs, que já tinham liderado o Afeganistão entre 1996 e 2001 (até que a invasão encabeçada pelos EUA os removeu do poder), têm um longo histórico de tratamento desigual e violento das mulheres. No início do século XXI, os talibãs forçaram mulheres e meninas a casarem-se e remeteram o sexo feminino a uma presença quase invisível no país. Nos primeiros meses após a nova tomada de posse, em 2021, os talibãs tentaram projetar uma imagem mais moderada, de forma a conseguirem reunir mais apoio da comunidade internacional.

No entanto, essa ideia logo caiu por terra, com novas e progressivas supressões de liberdades. Até ao momento, as mulheres no Afeganistão já perderam o direito a trabalhar na maioria dos setores. Também passaram a ser obrigadas a fazerem-se acompanhar de um tutor do sexo masculino para fazerem viagens de longa distância, e foram obrigadas a cobrir o rosto em público.

Em novembro, as mulheres afegãs foram impedidas de entrar em parques de diversões em Cabul, depois de o Governo ter anunciado restrições ao acesso de mulheres a espaços públicos recreativos.

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