Internacional

Protestos no Peru já provocaram 23 mortos, Forças Armadas dizem que país está a voltar à normalidade

Protestos no Peru já provocaram 23 mortos, Forças Armadas dizem que país está a voltar à normalidade
Miguel Gutierrez

Funeral de jovem estudante juntou apoiantes de Castillo em novos protestos. Estados Unidos divulgaram comunicação com Presidente peruana para pedir “reconciliação” de todas as forças do país

Os protestos no Peru contra o golpe de estado que afastou Castillo, o presidente eleito no ano passado, já fizeram 23 mortos. É o caso de um jovem estudante de 23 anos, Clemer Rojas, morto junto à cidade de Ayacucho. O funeral realizado este sábado reuniu centenas de camponeses que se dizem apoiantes de Castillo e que consideram a presidente Dina Boluarte, a primeira mulher a assumir a liderança do Peru, uma assassina.

Já foram sepultados mais quatro dos nove mortos nos tumultos ocorridos na quinta-feira em Ayacucho, ao mesmo tempo que as autoridades de saúde transladaram para Lima os sete feridos e afetados pelo surto de violência ocorrido na localidade. Os números oficiais dão conta que, até ao momento, morreram 23 pessoas em diferentes zonas do país, tendo o Ministério da Saúde informado que outras 77 pessoas feridas continuam hospitalizadas.

A situação política no Peru tornou-se instável face à acusação de corrupção de que foi alvo Pedro Castillo, 53 anos, socialista, filho de camponeses, e professor. Castillo tentou impedir um voto de ‘impeachemnt’, no início do mês de Dezembro, ao preparar-se para suspender o congresso e decretar o estado de emergência. O auto-golpe não chegou a acontecer já que muitos dos seus apoiantes o denunciaram. Castillo ainda procurou asilo na embaixada do México mas foi detido antes de lá chegar.

Dina Boluarte até então vice-presidente de Castillo assumiu o poder e decidiu transferi-lo para a prisão de Barbadillo, nos arredores de Lima. Castillo ganhou as eleições prometendo menos pobreza “num país rico” e a diminuição da desigualdade. Mas ele próprio é alvo de seis processos de investigação por alegada corrupção, assim como muitos dos responsáveis que levou para o seu governo.

O governo de Lima decretou este domingo o recolher noturno obrigatório durante cinco dias na província de Huamanga, de que faz parte Ayacucho, após os protestos verificados na última semana terem resultado em nove mortos na sequência de confrontos entre manifestantes e forças de segurança.

Desta forma, Huamanga junta-se à medida de recolher noturno que o governo ordenou na quinta-feira para mais 15 províncias de oito dos 24 departamentos que o país possui. O governo decretou na quarta-feira o estado de emergência a nível nacional durante 30 dias a fim de tentar controlar os atos de vandalismo e de violência cometidos nas manifestações. Durante o estado de emergência ficam suspensos os direitos constitucionais relativos a inviolabilidade do domicílio, liberdade de circulação no país, liberdade de reunião e liberdade de segurança pessoal.



Normalidade a regressar

O chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Peru garantiu , entretanto, que a normalidade está a regressar gradualmente ao país."Temos vindo a recuperar gradualmente a normalidade nas estradas, nos aeroportos, nas cidades. Tudo está a voltar à normalidade", informou Manuel Gómez de la Torre, durante uma conferência de imprensa na capital peruana.

Gómez afirmou que membros das Forças Armadas e da Polícia Nacional sofreram ataques por parte de manifestantes, assegurando que os operacionais vão "permanecer firmes" na tentativa de manter a normalidade. O chefe das Forças Armadas sublinhou que a sua missão durante o estado de emergência nacional decretado pelo Governo tem sido a de salvaguardar os bens públicos atacados por grupos que, na sua versão, estão a praticar ações "terroristas".

"Não se pode destruir prédios do Ministério Público, do Ministério da Justiça. Não se pode limitar a lotação dos aeroportos. Como é que os cidadãos se vão movimentar?", disse Gómez, prometendo a proteção do Peru. Gómez também elogiou a iniciativa de milhares de cidadãos que, perante os atos de violência, organizaram marchas de forma pacífica, para exigir o fim da violência no país.

Os manifestantes pedem à nova Presidente do Peru, Dina Boluarte, a libertação do Presidente deposto Pedro Castillo, a dissolução do Congresso e a convocação de novas eleições gerais.

Cerca de 5.000 turistas estão presos na cidade de Cusco, devido aos protestos. Entre os estrangeiros mantidos no país devido aos protestos estavam 66 portugueses, 11 dos quais já conseguiram voltar, segundo informou este domingo o Ministérios dos Negócios Estrangeiros.

EUA apelam a reformas

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, pediu aos diversos atores políticos do Peru que multipliquem os esforços em prol das “reformas necessárias” para salvaguardar a estabilidade democrática do país, foi hoje divulgado. Blinken transmitiu o pedido à Presidente do Peru, Dina Boluarte, durante uma conversa telefónica ocorrida na sexta-feira e tornada pública este domingo pela diplomacia norte-americana.

Segundo um comunicado do Departamento de Estado norte-americano, durante a conversa, Blinken expressou o seu desejo de que as “instituições do Peru e as autoridades civis multipliquem os seus esforços para fazer as reformas necessárias para salvaguardar a estabilidade democrática do país”. O comunicado não especificou a que reformas se referiu Blinken, embora, nos últimos dias, uma das reformas em discussão no país sul-americano seja a de uma alteração constitucional para antecipar as eleições agendadas para dezembro de 2023. Essa proposta, que implica corte nos mandatos dos aparelhos legislativo e executivo, foi rejeitada pelo congresso peruano na última sexta-feira.

Ainda assim, Blinken enfatizou durante a conversa com Boluarte a “necessidade de que todos os atores peruanos participem no diálogo construtivo para aliviar as divisões políticas e focarem-se na reconciliação”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: piquete@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas