Japão à defesa: orçamento vai duplicar e o país poderá contra-atacar inimigos
EPA/DAVID MAREUIL / POOL
O pacifismo está incluído na Constituição do país, mas um contexto que o Japão descreve como o “mais severo e complexo” ambiente de segurança desde a Segunda Guerra Mundial motivou mudanças políticas. Até 2027 vai tornar-se o terceiro país que mais investe na defesa – e poderá contra-atacar bases inimigas com mísseis. A China passa a ser vista como “o maior desafio estratégico” do país
A defesa do Japão tem limites: a Constituição do país, aprovada num contexto pós-Segunda Guerra Mundial, renuncia à guerra. “Com aspirações sinceras à paz internacional com base em justiça e ordem, o povo japonês para sempre renuncia à guerra enquanto direito soberano da nação e à ameaça ou uso da força como meio de resolução de disputas internacionais”, descreve o artigo 9. Mas, mais de sete décadas depois da aprovação do documento, o Japão aprovou mudanças significativas na sua política de defesa, passando a ter capacidade de contra-ataque, e consequentemente a possibilidade de atingir bases inimigas com mísseis de longo alcance.
De acordo com o ‘Japan Times’, as vozes que criticam a capacidade de contra-ataque consideram que a decisão pode violar a postura de renúncia à guerra, enquanto o governo defende ser constitucional desde que tenha existido ou seja iminente um ataque armado, não haja outra forma de deter um ataque e a força usada seja reduzida ao mínimo. O jornal escreve ainda que a nova Estratégia de Segurança Nacional descreve ataques de mísseis contra o Japão como “uma ameaça real” e a capacidade de contra-ataque contra países vizinhos como a China e a Coreia do Norte como “central”.
Há outro desenvolvimento que salta à vista: as despesas com a defesa vão duplicar nos próximos cinco anos. O orçamento de defesa vai passar a representar 2% do PIB do país até 2027, com a implementação de um plano de reforço da defesa de 43 biliões de ienes (cerca de 296 mil milhões de euros).
“Infelizmente, na vizinhança do nosso país, há países a realizarem atividades tais como o aumento da capacidade nuclear, um rápido reforço militar e uma tentativa unilateral de mudar o ‘status quo’ à força”, disse o primeiro-ministro Fumio Kishida, citado pela BBC.
China alerta: o Japão “precisa de ser prudente”
O ‘The Guardian’ explica que houve um aumento do apoio da população a um exército mais forte desde a guerra na Ucrânia, por receio de que uma invasão da China a Taiwan possa representar uma ameaça de segurança ao Japão. Um dos documentos destaca a China como “o maior desafio estratégico” à estabilidade do país.
Segundo aAl Jazeera, o documento estratégico anteriormente continha que o Japão queria uma “parceria estratégica mutuamente benéfica” com Pequim, e que este conteúdo foi retirado.
A China opôs-se ao posicionamento japonês e apelou a uma reflexão para se atingir um consenso político em que os dois países possam cooperar sem representarem uma ameaça mútua. Mas também deixou um alerta. “A questão de Taiwan é puramente um assunto interno da China e não é tolerada interferência de forças externas. O lado japonês em particular precisa de ser prudente na questão de Taiwan, honrar os seus compromissos e abster-se de enviar os sinais errados”, disse emconferência de imprensao porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin.
Com o aumento do orçamento, o Japão vai tornar-se no terceiro país que mais investe na defesa – depois dos EUA e da China.
“Enquanto a comunidade internacional está a enfrentar mudanças que definem uma era, os próprios alicerces da ordem internacional estão a ser abalados e o mundo encontra-se numa encruzilhada histórica. Como o Japão está a descobrir no meio do ambiente de segurança mais severo e complexo desde o final da Segunda Guerra Mundial, manter e desenvolver uma ordem internacional livre e aberta com base no Estado de direito estão a tornar-se mais importantes que nunca”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros japonês Hayashi Yashimasa, em comunicado.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, reagiu ao anúncio dizendo que as mudanças estratégicas do Japão são “bem vindas” e que refletem o compromisso do país em “manter um Indo-Pacífico livre e aberto”. Em comunicado, Austin afirma que os EUA apoiam a decisão do Japão em adquirir novas capacidades para reforçar o poder de dissuasão regional e aumentar o investimento na defesa.
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