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Mundial2022. Von der Leyen não vai ao Catar, mas é o Parlamento Europeu que carrega nas críticas

Mundial2022. Von der Leyen não vai ao Catar, mas é o Parlamento Europeu que carrega nas críticas
POOL/Reuters

A presidente da Comissão Europeia rejeitou o convite para estar no encerramento do mundial do Catar, mas um dos seus vice-presidentes esteve na cerimónia de abertura. Já o Parlamento Europeu deixou muitas críticas à realização do evento, num debate sobre os direitos humanos

Mundial2022. Von der Leyen não vai ao Catar, mas é o Parlamento Europeu que carrega nas críticas

Susana Frexes

correspondente em Bruxelas

Foi um ex-futebolista polaco, agora eurodeputado, quem deu o pontapé de saída num debate difícil sobre direitos humanos e o mundial do Catar. Tomasz Frankowski (Partido Popular Europeu) lamentou a perda de vidas na construção dos estádios e espera que "o mundo do desporto e o da política saibam tirar as conclusões" da organização deste mundial, para que nos próximos campeonatos do mundo se garanta o respeito pelos direitos humanos.

E as críticas foram sempre subindo de tom no hemiciclo, em Estrasburgo. A húngara Katalin Cseh (liberais) diz que este será sempre lembrado com o "mundial da vergonha", e que ao olhar para os estádios só consegue pensar nos "milhares" que morreram e que as autoridades do Catar se "recusam a investigar".

Agora, é "preciso trabalhar com o Catar nas indemnizações" a pagar às famílias das vítimas, defende a belga Maria Arena (Socialistas & Democratas), que deixa ainda uma crítica às empresas europeias "que nem sempre respeitaram os [direitos] mínimos exigido pelo Catar".

E a as críticas estendem-se também à FIFA e à ameaça de sanções para os jogadores que usarem a braçadeira com as cores LGBTQ. "Ninguém precisa de um campeonato onde uma mensagem tão simples como "one love" é punida com um cartão amarelo", afirmou a deputada dos Verdes Hanna Neumann.

Já Paulo Rangel (PPE) considera o evento uma "oportunidade perdida" para melhorar as direitos e a situação política no Catar, apontando para as falhas nos direitos das mulheres, das minorias sexuais, religiosas e étnicas. Em Estrasburgo, aproveitou ainda para "lamentar" a participação do primeiro-ministro, do Presidente da República e do presidente da Assembleia da República no Mundial.

Von der Leyen não vai ao Catar, mas Comissão modera nas críticas

A Comissão Europeia também reconhece a existência de problemas e falhas no respeito pelos direitos humanos e dos trabalhadores no Catar, mas opta por um tom menos crítico. No debate com os eurodeputados foi a Comissária da Saúde quem leu a análise do executivo comunitário, para concluir no final que “o Catar tem agora uma oportunidade para mostrar ao mundo que está pronto e que deseja continuar o caminho de abertura, de tolerância e de modernização”, encorajando as reformas “para lá da copa do mundo”.

Stela Kyriakides falava em Estrasburgo, um dia depois de o vice-presidente da Comissão com a pasta do "modo de vida europeu" ter representado a instituição e a União Europeia na cerimónia de abertura do Mundial. Na rede social Twitter, o grego Margaritis Schinas escreveu mais do que uma vez que o Catar tem feito “reformas” na área laboral, acrescentando que "merece um sucesso global".

Questionados esta segunda-feira sobre a posição da Comissão e de Schinas, os porta-vozes do executivo comunitário acabaram por reconhecer que muito está por fazer no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores. "Por exemplo, nas condições de vida dos trabalhadores migrantes, no acesso à Justiça e também no pagamento de salários e no sistema de inspeção do trabalho", admite Peter Stano, sublinhando que a UE tem trabalho com Doha nestas matérias.

O tema é sensível e a presidente da Comissão Europeia tenta ficar à margem das críticas. Ursula Von der Leyen deixou ir o seu vice-presidente ao arranque do mundial, mas "rejeitou" um convite para ir ela mesma à cerimónia de encerramento. Uma porta-voz confirmou ao Expresso que a alemã foi convidada, mas não aceitou. Porém, a pergunta sobre o porquê da rejeição do convite ficou sem resposta.

Quem também não está a pensar ir ao Mundial é o presidente do Conselho Europeu. Um porta-voz diz que Charles Michel não tem "atualmente, planos para ir ao Catar", mas deseja "sucesso" às equipas e ao país. Michel esteve em Doha em setembro, para a inauguração da nova delegação da União Europeia no Catar. Uma viagem que terá também servido para falar dos desafios comuns, como a energia. O Catar é um dos maiores produtores de gás natural liquefeito e a Europa anda à procura de fornecedores alternativos à Rússia, o que pode ajudar a perceber o tom mais contido nas críticas, quer do Conselho Europeu, quer da Comissão.

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