Internacional

Tribunal de Haia declara três homens ligados aos serviços secretos russos culpados pela morte de 298 pessoas do voo MH17

Imagem do tribunal em Haia onde foi proferida a sentença
Imagem do tribunal em Haia onde foi proferida a sentença
OLAF KRAAK/Getty Images

Juizes confirmam que o míssil terra-ar disparado contra o voo da Malaysian Airlines em 2014 era de fabrico russo. Centenas de familiares das 298 vítimas mortais foram a Haia ouvir a sentença aos suspeitos

Os juízes do tribunal distrital de Haia, encarregues da sentença aos quatro suspeitos, declararam esta quinta-feira que o voo da Malaysia Airlines MH17 foi abatido em 2014 por um míssil de fabrico russo disparado a partir de um campo no leste da Ucrânia.

“O tribunal é da opinião de que o MH17 foi abatido pelo disparo de um míssil BUK a partir de um campo perto de Pervomaisk, matando todos os 283 passgeiros e 15 membros da tripulação”, afirmou o juiz presidente Hendrik Steenhuis, citado pela agência Reuters.

O tribunal holandês considerou culpados três dos quatro suspeitos acusados de abaterem o voo MH17 da companhia aérea da Malásia, que sobrevoava a Ucrânia, bem como da morte dos seus 298 passageiros e tripulação a bordo.

Entre os quatro acusados do abate do avião e do assassínio de todos os que se encontravam a bordo está Igor Girkin, ex-coronel nos serviços de segurança federais ou FSB (era ministro da Defesa e comandante das forças armadas da autoproclamada República Popular de Donetsk). Sabe-se que está presentemente envolvido na guerra na Ucrânia, escreve o canal ABC.

Os demais réus eram os seus subordinados Sergey Dubinskiy, Oleg Pulatov e Leonid Kharchenko, ucraniano que, segundo os procuradores, era comandante de uma unidade de combate pró-russa e obedeceu a ordens de Dubinskiy. Pulatov foi ilibado pelo tribunal holandês.

No seguimento da investigação internacional, os procuradores concluíram que os homens não “apertaram o botão”, porém foram responsáveis por deslocar o míssil da Rússia para o campo de batalha.

A Holanda e a Austrália concluíram em 2018 que a Rússia era responsável pelo desastre, depois de os investigadores terem apurado que o míssil viera da Rússia, lê-se no jornal britânico “The Guardian”. O Kremlin negou qualquer envolvimento, protestando por a Rússia ter sido excluída da investigação.

Oito anos de investigação

O veredicto foi conhecido oito anos após o Boeing 777, que voava de Amesterdão para a capital malaia, Kuala Lumpur, ter explodido a 17 de julho de 2014, apanhado no conflito que opunha rebeldes pró-russos e forças ucranianas.

O ataque com míssil foi dos crimes de guerra na Ucrânia de maior repercussão antes de as alegações de atrocidades terem passado a fazer parte quase quotidiana da realidade. Segundo a BBC, muitos dos familiares das vítimas acreditam que se a reação ao abate do MH17 tivesse sido diferente, “a invasão da Ucrânia e a instabilidade política na região que se seguiu poderiam ter sido evitadas”.

Na altura, o conflito era considerado de baixa intensidade, embora já tivessem sido abatidos aviões militares. Os voos comerciais foram por isso obrigados a voar a maior altitude, o que era o caso do MH17 que foi atingido.

Os procuradores holandeses revelaram que o lançador de mísseis pertencia à 53ª Brigada de Mísseis antiaéreos, unidade das forças armadas russas com sede em Kursk, cidade a que voltou após disparar e abater o MH17.

Segundo a ABC, nenhum dos suspeitos compareceu no julgamento que teve início em março de 2020 e, caso sejam condenados, é pouco provável que venham a cumprir as penas, apesar de os procuradores terem avançado com prisão perpétua para os réus.

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