Cidadão norte-americano devolve artefactos com mais de dois mil anos roubados em Itália, Grécia, Chipre e Paquistão
Stevica Mrdja / EyeEm
John Gomperts percebeu, depois de ler um artigo no jornal, que os objetos que tinha herdado da avó tinham origem em escavações ilegais. Coleção entregue voluntariamente aos países de origem vale mais de 92 mil euros
Um cidadão dos EUA entregou voluntariamente 19 artefactos aos países de origem após ler no jornal The Guardian sobre a repatriação de objetos históricos que tinham sido alvo de contrabando.
Segundo a publicação, o artigo fez John Gomperts questionar a origem dos artefactos que tinha herdado da avó na década de 90. O residente de Washington percebeu rapidamente que estes teriam sido adquiridos de forma ilícita, dada a falta de documentação relativa ao local onde foram encontrados e a existência de alguns recibos ligados a famosos contrabandistas de arte dos anos 1950 e 1960.
A sua investigação revelou então que os objetos - cujo valor total supera os 92 mil euros - terão tido origem em escavações ilegais em Itália, Grécia, Chipre e Paquistão. Entre estes estão dois vasos cipriotas datados dos séculos VII e VIII a.C, dois pratos de cerâmica pintados por pintores do sul de Itália no século IV a.C., um lebes gamikos (um vaso que era usado nos casamentos da Grécia Antiga) e o fragmento de uma escultura em pedra que mostra os seguidores de Buda (datada do século II ou III a.C.).
Com o acordo dos irmãos, o norte-americano decidiu devolver os objetos aos seus países de origem. “Parece a coisa certa a fazer… li histórias sobre a repatriação e pensei: temos estas peças que têm 2500 anos de outros países. Devíamos explorar se podemos devolvê-las”, relatou ao The Guardian.
Por temer ter problemas com a lei, John Gomperts optou por contactar primeiro Christos Tsirogiannis, um arqueólogo especializado em objetos contrabandeados que tinha sido entrevistado no artigo original do jornal britânico.
John Gomperts, o dono dos artefactos repatriados, é um consultor norte-americano que trabalha com organizações sem fins lucrativos
Kris Connor
Ao longo da sua carreira, o especialista já identificou mais de 1600 objetos roubados em casas de leilões, galerias comerciais, coleções privadas e museus, tendo alertado as autoridades e governos e assim desempenhado um papel essencial na repatriação dos mesmos. Em 2018, foi o autor da denúncia que travou o leilão na Sotheby's de um cavalo de bronze com origem Grécia Antiga e sobre o qual a leiloeira perdeu o processo legal em 2020 que se tornou uma referência para os países em disputas pela recuperação de património roubado.
Com a ajuda e sob conselho de Christos Tsirogiannis, John Gomperts decidiu entregar os artefactos às respetivas embaixadas dos países de origem. Doze foram repatriados para a Grécia, quatro para Itália, dois para o Chipre e um para o Paquistão. Estes países já emitiram comunicados de agradecimento.
Por conselho do especialista, o norte-americano optou por ser sempre honesto em relação à origem dos objetos. De acordo com o próprio, a sua avó, Gisela Schneider-Herrmann, que tinha dupla nacionalidade (alemã e holandesa), morreu em 1992 com 98 anos. Durante a década de 1950 e 1960 terá participado em escavações em Itália e Grécia, tendo publicado artigos científicos na área.
“Não faço ideia como é que ela realmente adquiriu estes objetos”, afirmou o neto ao The Guardian. "Ela era uma pessoa certinha, mas existiam normas diferentes naquela época. Estes objetos eram sua obsessão, toda a sua existência.”
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