Passam apenas dez minutos das 20h00 e os foliões, predominantemente jovens, começam a juntar-se na estrada principal, perto da estação de comboios, em Seul. Muitos tinham partido da paragem de Itaewon para ali chegarem. Dentro de cerca de meia hora, tudo ter-se-á descontrolado. A “Sky News”, que fez a revisão dos acontecimentos da noite, sabe-o por causa dos vídeos transmitidos em direto na rede social Facebook. É precisamente às 20h10 de sábado passado que se dá o primeiro registo: neste momento, a estrada principal apresenta bastante movimento, mas os carros e as pessoas ainda conseguem circular.
A quase ausência de agentes de segurança nas ruas ajuda a explicar o que acontece nas horas seguintes. Ruas mais pequenas, transversais à estrada principal e que ladeiam o Hotel Hamilton, começam a encher-se de pessoas. Além de estreitos, os caminhos são íngremes, o que contribui para que, cerca de duas horas depois, às 22h06, as pessoas já tenham uma maior dificuldade em moverem-se, conseguindo andar, mas lentamente. As imagens transmitidas nas redes sociais mostravam pessoas a abraçarem-se para evitar serem separadas entre uma multidão que se reunia no cruzamento em frente a um ‘pub’ [bar] irlandês. Apenas 150 metros a leste dali, uma multidão ainda mais numerosa enche um beco bastante íngreme e estreito, e é então que pequenos movimentos dos transeuntes começam a fazer ondular toda a massa de pessoas. O volume da música é tão elevado que pedidos de socorro tornam-se sons indistinguíveis. Mas a “Sky News” detalha que não é naquele local que uma combinação perigosa de fatores provoca as fatalidades.
As imagens mostram que, do outro lado, a oeste do Hotel Hamilton, uma multidão ocupa praticamente todo o espaço de um beco íngreme (com declive de 20%), sem ter para onde fugir.
Janelle Story, uma testemunha ocular consultada pelo canal britânico, captou em vídeo o que viu às 22h34. Também o descreveu, já que se encontrava a 40 metros da rua onde as quedas aconteceram: “Uma onda de pessoas parecia correr na nossa direção com uma incrível força e urgência, e, nesse momento, deixei de filmar, porque começou a ser assustador.” Menos de meia hora depois, a liberdade de movimentos era ainda mais reduzida, e, às 22h45, as transmissões em direto a partir da estrada principal, em Seul, já mostravam ambulâncias e equipas de emergência que rumavam em direção ao Hamilton Hotel.
Um outro jovem, que filmou em direto a partir de outro ponto geográfico, captou, às 23h15, a multidão a separar-se para que os paramédicos passassem com os pacientes levados em macas. Uma onda de pessoas faz a multidão cair, e a queda é agravada pela inclinação da rua. São visíveis, então, as equipas de emergência que tentam socorrer os que estão a ser esmagados.
Os vídeos também mostram pessoas a tentar escalar as paredes dos edifícios, para poderem evadir-se. Algumas pessoas terão ficado retidas por mais de uma hora. Outras tiveram de receber reanimação cardiorrespiratória por parte dos paramédicos. Mesmo quando o caos já está instalado, poucos agentes da polícia são vistos nos vídeos transmitidos nas redes sociais.
Pelo menos 154 pessoas morreram e outras tantas ficaram feridas durante as comemorações de Halloween nas ruas da capital sul-coreana.
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