Internacional

Halloween em Seul: o passo a passo de uma noite de tragédia transmitida nas redes sociais

Mais de 150 pessoas morreram nas festas de Halloween de Seul
Mais de 150 pessoas morreram nas festas de Halloween de Seul
Chung Sung-Jun

Falta de policiamento, música estridente, ruas estreitas e íngremes densamente ocupadas ajudam a explicar o desfecho de uma noite que se antecipava ser de festa. Em Seul, pelo menos 154 pessoas morreram no Halloween e as imagens transmitidas em vídeo no Facebook, bem como os registos do Google Street View, permitem fazer a reconstituição da noite

Passam apenas dez minutos das 20h00 e os foliões, predominantemente jovens, começam a juntar-se na estrada principal, perto da estação de comboios, em Seul. Muitos tinham partido da paragem de Itaewon para ali chegarem. Dentro de cerca de meia hora, tudo ter-se-á descontrolado. A “Sky News”, que fez a revisão dos acontecimentos da noite, sabe-o por causa dos vídeos transmitidos em direto na rede social Facebook. É precisamente às 20h10 de sábado passado que se dá o primeiro registo: neste momento, a estrada principal apresenta bastante movimento, mas os carros e as pessoas ainda conseguem circular.

A quase ausência de agentes de segurança nas ruas ajuda a explicar o que acontece nas horas seguintes. Ruas mais pequenas, transversais à estrada principal e que ladeiam o Hotel Hamilton, começam a encher-se de pessoas. Além de estreitos, os caminhos são íngremes, o que contribui para que, cerca de duas horas depois, às 22h06, as pessoas já tenham uma maior dificuldade em moverem-se, conseguindo andar, mas lentamente. As imagens transmitidas nas redes sociais mostravam pessoas a abraçarem-se para evitar serem separadas entre uma multidão que se reunia no cruzamento em frente a um ‘pub’ [bar] irlandês. Apenas 150 metros a leste dali, uma multidão ainda mais numerosa enche um beco bastante íngreme e estreito, e é então que pequenos movimentos dos transeuntes começam a fazer ondular toda a massa de pessoas. O volume da música é tão elevado que pedidos de socorro tornam-se sons indistinguíveis. Mas a “Sky News” detalha que não é naquele local que uma combinação perigosa de fatores provoca as fatalidades.

As imagens mostram que, do outro lado, a oeste do Hotel Hamilton, uma multidão ocupa praticamente todo o espaço de um beco íngreme (com declive de 20%), sem ter para onde fugir.

Janelle Story, uma testemunha ocular consultada pelo canal britânico, captou em vídeo o que viu às 22h34. Também o descreveu, já que se encontrava a 40 metros da rua onde as quedas aconteceram: “Uma onda de pessoas parecia correr na nossa direção com uma incrível força e urgência, e, nesse momento, deixei de filmar, porque começou a ser assustador.” Menos de meia hora depois, a liberdade de movimentos era ainda mais reduzida, e, às 22h45, as transmissões em direto a partir da estrada principal, em Seul, já mostravam ambulâncias e equipas de emergência que rumavam em direção ao Hamilton Hotel.

Um outro jovem, que filmou em direto a partir de outro ponto geográfico, captou, às 23h15, a multidão a separar-se para que os paramédicos passassem com os pacientes levados em macas. Uma onda de pessoas faz a multidão cair, e a queda é agravada pela inclinação da rua. São visíveis, então, as equipas de emergência que tentam socorrer os que estão a ser esmagados.

Os vídeos também mostram pessoas a tentar escalar as paredes dos edifícios, para poderem evadir-se. Algumas pessoas terão ficado retidas por mais de uma hora. Outras tiveram de receber reanimação cardiorrespiratória por parte dos paramédicos. Mesmo quando o caos já está instalado, poucos agentes da polícia são vistos nos vídeos transmitidos nas redes sociais.

Pelo menos 154 pessoas morreram e outras tantas ficaram feridas durante as comemorações de Halloween nas ruas da capital sul-coreana.

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