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Jornalistas iranianos apelam à libertação de colegas que expuseram caso Amini

Jornalistas iranianos apelam à libertação de colegas que expuseram caso Amini
DILARA SENKAYA/REUTERS

Duas repórteres iranianas estão presas desde setembro por terem exposto o caso de Mahsa Amini, a jovem de 16 anos que morreu na sequência de agressões das autoridades por uso indevido do véu islâmico. Há mais 43 jornalistas detidos por noticiarem os protestos

Mais de 300 jornalistas iranianos apelaram este domingo à libertação das duas jornalistas iranianas presas por terem exposto o caso Mahsa Amini, um dia depois de terem sido acusadas de trabalhar para a CIA pelas agências de informação iranianas.

A Associação de Jornalistas de Teerão publicou uma carta assinada por 300 repórteres em vários jornais iranianos apelando à libertação de Nilufar Hamedi, que foi para o hospital onde Amini foi internada, e Elahe Mohammadi, que cobriu o seu funeral.

"O jornalismo não é um crime", disse o diário Sazandegi na sua primeira página, uma frase acompanhada de fotos de Hamedi, Mohammadi e 11 outros jornalistas detidos por relatarem os protestos desencadeados pela morte de Amini em 16 de setembro, depois de ter sido detida pela polícia moral.

O jornal Hammihan dedicou a sua primeira página exclusivamente a Hamedi e Mohammadi, que se tornaram símbolos da repressão da informação no país persa.

O Ministério dos Serviços Secretos do Irão e a Organização dos Serviços Secretos da Guarda Revolucionária Iraniana acusaram na sexta-feira as duas jornalistas de receberem formação de "guerra híbrida" da Agência Nacional de Inteligência dos Estados Unidos - CIA, para fomentarem os protestos.

Hamedi foi a jornalista que publicou uma fotografia de Amini no hospital, enquanto ela estava em coma e entubada, e dias depois publicou outra fotografia dos seus pais abraçados no corredor do hospital, após saberem da morte da filha.

A jornalista do diário reformista Shargh foi presa em 21 de setembro, está em isolamento e não foi informada das acusações que levaram à sua prisão, disse o seu marido, Mohamed Hosein Ajorlou, na rede social Twitter.

Por seu lado, Mohammadi cobriu o funeral de Amini, em 17 de setembro, na sua cidade natal de Saqez, no Curdistão, onde os protestos começaram e os primeiros lenços foram queimados.

Mohammadi trabalha para o diário Hammihan e foi presa em 22 de setembro quando as forças de segurança invadiram a sua casa e confiscaram-lhe o computador e o telemóvel.

Hamedi e Mohammadi são apenas duas dos 45 jornalistas e fotógrafos presos por realizarem o seu trabalho durante os protestos.

Os protestos estão a ser fortemente reprimidos pelas forças de segurança e resultaram em pelo menos 108 mortes, de acordo com a ONG Iran Human Rights, com sede em Oslo.

O Irão tem sofrido protestos desde a morte de Amini, em 16 de setembro, depois de ter sido detida três dias antes pela polícia moral por usar incorretamente o véu islâmico, manifestações apelando ao fim da República Islâmica.

Os protestos sobre a morte de Amini são liderados principalmente por jovens e mulheres que cantam "Mulheres, vida, liberdade!", slogans contra o governo e queimam véus, um dos símbolos da República Islâmica e algo impensável até há pouco tempo.


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