Reino Unido: Rishi Sunak tem mais de metade do grupo parlamentar ao seu lado, mas Penny Mordaunt não desiste
Penny Mordaunt e Rishi Sunak disputam a liderança do Partido Conservador e do Governo. O antigo ministro das Finanças leva vantagem sobre a ministra dos Assuntos Parlamentares
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A duas horas de encerrar o prazo para obter as 100 nomeações de deputados indispensáveis para concorrer à chefia do Partido Conservador e do Governo britânico, o antigo ministro das Finanças ia folgadamente à frente da ministra dos Assuntos Parlamentares. Questão resolve-se esta segunda ou sexta-feira
Mais de metade do grupo parlamentar do Partido Conservador britânico expressou apoio a Rishi Sunak na corrida à liderança dos tories e, por via da maioria que estes detêm na Câmara dos Comuns, à chefia do Governo do Reino Unido. A disputa começou quinta-feira, desencadeada pelo anúncio de demissão da primeira-ministra Liz Truss.
Com 182 declarações públicas de apoio (51% dos 357 deputados conservadores), nas contas do diário “The Guardian”, Sunak — que foi ministro das Finanças entre 2020 e julho passado, quando a sua demissão ajudou a fazer cair o então primeiro-ministro Boris Johnson — pode ser proclamado vencedor já esta segunda-feira. Basta que a sua adversária, Penny Mordaunt, não chegue às 100 nomeações até lá.
A campanha da ministra dos Assuntos Parlamentares assegura já ter mais de 90 nomeações, embora em público não se conheçam mais de 30. Se atingir o limiar, Mordaunt qualifica-se e a decisão caberá, em votação online, aos militantes do Partido Conservador.
“Penny tem falado com colegas de todo o partido. Está a conseguir os números e está nisto para ganhar”, afirmou ao jornal “The Telegraph” fonte da equipa de Mordaunt. Lembrando que a ministra conquistou o seu lugar de deputada ao Partido Trabalhista, defende que “o partido precisa de começar de novo, para assegurar que vence as próximas eleições”.
No pressuposto de Mordaunt conseguir as 100 nomeações, haverá uma votação indicativa no grupo parlamentar. Dessa forma, os inscritos no partido sabem, antes de votarem, quem goza de maior apoio entre os deputados. O resultado final sabe-se sexta-feira. Se Mordaunt falhar, Sunak visitará esta segunda-feira o rei Carlos III, que o convidará a formar Governo.
A desistência de Boris Johnson
Johnson chegou a ser dado como candidato, mas anunciou domingo à noite que não avançava. Jurando ter apoios mais do que suficientes e estar convicto da vitória, explicou que “não é o momento certo”. Alegou ter tentado acordos com Mordaunt e Sunak, em vão.
Na fila de cima (esq.-dir.): duque de Devonshire pintado por Thomas Hudson; conde de Bute pintado por Joshua Reynolds; conde de Shelburne pintado por Jean-Laurent Mosnier; George Canning pintado por Thomas Lawrence; fila de baixo: visconde de Goderich pintado por Thomas Lawrence; Andrew Bonar Law pintado por James Guthrie; Alec Douglas-Home pintado por Henry Mee; foto de Liz Truss
A saída de Johnson poderia, em teoria, ter beneficiado Mordaunt, já que os apoiantes do ex-chefe de Governo tendem a ser críticos de Sunak, até pelo papel que teve na queda de Boris. Muitos apoiaram Liz Truss na última corrida, em que a agora primeira-ministra demissionária disputou a ronda final com Sunak. Mordaunt também concorreu, tendo ficado em terceiro.
Acontece, porém, que os nomes mais sonantes associados a Johnson acabaram por declarara apoio a Sunak, entre eles as ex-ministras do Interior Priti Patel e Suella Braverman, ou membros do Executivo cessante como Nadhim Zahawi e Jeremy Hunt.
Se conseguir figurar no boletim de voto, Mordaunt pode representar um desafio relevante a Sunak. É que as sondagens mostram que a militância gosta mais dela, embora ele tenha a preferência dos deputados.
Primeiro chefe de Governo hindu
Caso tal não aconteça, ou se acontecer mas Sunak levar a melhor entre os inscritos, o Reino Unido terá o seu primeiro chefe de Governo de origem asiática e também o primeiro hindu. Enquanto membro de uma minoria étnica precede-o Benjamin Disraeli, que era judeu e governou dez meses em 1868 e, depois, entre 1874 e 1880.
Por coincidência de calendário, a aclamação de Sunak pode acontecer em pleno Diwali, o Festival das Luzes, importante data do calendário hindu. Assinala-se hoje e as suas festividades costumam estender-se por cinco ou seus dias.
A data simboliza a vitória do bem sobre o mal, das luzes sobre as trevas e do conhecimento sobre a ignorância. Está associada à deusa da prosperidade hindu, Lakshmi, e ao deus do conhecimento, Ganesha.
Rishi Sunak e Liz Truss no debate final para a chefia do Partido Conservador e do Governo, em Londres
Se Sunak e Mordaunt forem mesmo a votos, realizarão esta tarde uma sessão de debate com os deputados, antes da votação indicativa, que decorrerá entre as 15h30 e as 17h30, com o resultado anunciado às 18h.
A oposição britânica tem criticado a segunda transferência de poder desde as legislativas de 2019, sem ida às urnas. Legalmente inatacável, é politicamente sensível. Até porque, se em julho houve debates televisivos entre os candidatos, que permitiram conhecer os respetivos programas de Governo, o mesmo não se passou em outubro.
O Partido Trabalhista, os Liberais Democratas, os Verdes e o Partido Nacional Escocês, principais forças parlamentares de oposição, exigem uma ida às urnas. Mas também há figuras do Partido Conservador, sobretudo ligadas a Boris Johnson, que pensam que é inaceitável uma nova passagem de poder sem consultar a população.
Truss foi eleita com o sufrágio de 81 mil militantes tories, Sunak poderá sê-lo por menos de 200 deputados. O país tem 67 milhões de habitantes.
Os partidários do ex-primeiro-ministro defendiam que só ele tinha legitimidade democrática. Alguns — casos dos ex-ministros Zac Goldsmith e Nadine Dorries e do deputado Christopher Chope — vieram a público defender a convocação de legislativas.
Acontece que ninguém pode obrigar Sunak (caso suba ao poder) a aceitar essa ideia. No Reino Unido impera o princípio de que governa quem goza de maioria parlamentar. Só o primeiro-ministro ou uma maioria de deputados pode forçar a dissolução da Câmara dos Comuns.
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