Individualmente, nenhum Estado europeu é capaz de assegurar os seus interesses perante as duas superpotências, Estados Unidos e China, diz Luís Tomé. O diretor do departamento de Relações Internacionais da Universidade Autónoma de Lisboa é um dos oradores do painel “Globalização: desaceleração temporária ou mudança de rumo?”, na 5ª Conferência de Lisboa, que decorre esta quinta e sexta-feira na Fundação Gulbenkian. “Os 27 estão divididos e à mercê das manobras divisionistas dos dois gigantes”, avisa. Uma antecipação da entrevista que poderá ler na sexta-feira, 14 de outubro, na edição impressa do Expresso.
Uma das suas áreas de especialidade é a Eurásia, zona que está ao rubro. Que poderá fazer a União Europeia?
Vai tentar fazer muito em relação à Rússia, no caso da Ucrânia, mas tendo como alvo da mensagem a China, mostrando-lhe os riscos e tentando dissuadi-la de fazer o mesmo em Taiwan. Nós, Europa-NATO, se não nos unirmos, corremos o risco de nos tornarmos um teatro de disputa entre as duas superpotências, como aconteceu no passado. Arriscamo-nos a ficar à mercê dos interesses dos outros, porque somos incapazes de nos defendermos sozinhos. Se os Estados Unidos não fizerem coincidir os seus interesses com os nossos, pode ser perigoso. Apercebemo-nos do modo como se olhava de Washington para a Europa durante a administração Trump. Ninguém nos garante que Trump, ou outro semelhante, não olhe para a Europa como secundária. Na Ásia-Pacífico um dos receios não é apenas a possibilidade de conflito China-EUA, que é terrível e arrasta o resto do mundo, mas uma acomodação de interesses entre os dois, sacrificando os interesses dos outros, como o Japão, a Coreia do Sul, as Filipinas… Na Europa não estamos livres de uma situação semelhante, há precedentes: foram os EUA que permitiram a entrada da China como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em 1971, sacrificando Taiwan. Porque não havemos de temer hoje uma acomodação semelhante dos interesses deles? Se queremos ser um parceiro válido dos EUA temos de estar em melhor forma, temos de ser um contribuinte líquido para a tal ordem internacional que queremos manter, caso contrário seremos um protetorado. Neste momento coincidimos na ordem que se baseia nas liberdades individuais, nos direitos humanos, a ordem liberal. Em vez de sermos um mero adjunto do justiceiro, como às vezes parecia no passado, temos de ser um parceiro à altura, podendo os europeus defender os seus interesses e valores, não é esperar eternamente que sejam outros a fazê-lo e com o risco de grandes divisões na Europa. Não é só relativamente aos Estados Unidos que não há coesão europeia, é também à Rússia e à China.
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