Internacional

Crise política na Catalunha: partido de Puigdemont abandona governo regional

Longe vão os tempos em que o presidente do governo catalão, Pere Aragonès (à frente na imagem), da Esquerda Republicana da Catalunha, e o seu antecessor Carles Puigdemont, do Juntos pela Catalunha, concertavam posições
Longe vão os tempos em que o presidente do governo catalão, Pere Aragonès (à frente na imagem), da Esquerda Republicana da Catalunha, e o seu antecessor Carles Puigdemont, do Juntos pela Catalunha, concertavam posições
KENZO TRIBOUILLARD/AFP/Getty Images

Consulta aos militantes do o Juntos pela Catalunha dita fim do acordo de Governo com a Esquerda Republicana. Nova aliança com outras forças ou governo minoritário são as vias para evitar eleições regionais antecipadas

Os militantes do partido Juntos pela Catalunha (JxC) decidiram esta sexta-feira, numa votação digital, pôr fim ao acordo com a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) que permite a estas duas forças independentistas governar a região espanhola desde 2021. A decisão foi tomada em dois dias por 55,73% dos 6463 filiados no JxC com direito a voto, numa consulta com alta participação: 79,18%.

A favor da permanência no executivo autonómico pronunciaram-se 42,39% dos votantes, ao passo que 1,88% votaram em branco. O JxC lançou a consulta acusando o presidente catalão, Pere Aragonès (ERC), de não cumprir o pacto que levou a formar o governo.

A direção do JxC reuniu-se assim que o resultado foi anunciado. A margem curta da vitória faz temer uma cisão no partido. Já Aragonès, que pôs a responsabilidade no até agora parceiro, garantiu que fará as adaptações necessárias à sua equipa governativa.

Socialistas e Podemos podem ser solução

Sem o JxC, a ERC, que apenas detém 33 dos 135 assentos parlamentares, terá de prosseguir com uma administração ultraminoritária ou encontrar outro aliado. Neste último caso, que parece mais provável, o acordo mais intuitivo seria com o Partido dos Socialistas Catalães (PSC, ramo catalão do Partido Socialista Operário Espanhol) ou com o Em Comum Podemos (ECP, esquerda populista). Isto porque a ERC já apoia o Governo central do socialista Pedro Sánchez e da Unidas Podemos, de que o ECP é como que filial regional.

As relações entre ERC e JxC azedaram porque o primeiro partido — segundo mais votado nas regionais de fevereiro de 2021 e maior força do bloco independentista, que foi maioritário — se mostra pragmático e dialogante com Madrid. O JxC, comandado pelo ex-presidente Carles Puigdemont (fugido para a Bélgica em 2017 e eleito eurodeputado em 2019), aposta na rutura com Sánchez e numa nova declaração unilateral de independência.

cinco anos, na senda do referendo ilegal de 1 de outubro de 2017, Puigdemont proclamou a secessão, que suspendeu segundos depois. Seguiu-se a reação do Executivo espanhol, então chefiado pelo conservador Mariano Rajoy (Partido Popular): aplicação do artigo 155 da Constituição, que bloqueia a autonomia regional, e destituição das instituições catalãs.

Zanga levou a queda de vice-presidente

Quim Torra, que foi presidente entre 2017 e 2021, após a fuga de Puigdemont (de quem é aliado), celebrou o resultado na rede social Twitter. “Os meus parabéns”, escreveu.

A zanga presente é de tal ordem que Aragonès demitiu o seu vice, Jordi Puigneró, do JxC. Os deste partido exigiam coordenação de votos entre os dois partidos no Congresso dos Deputados (onde o JxC não tem apoiado o Executivo central, ao contrário da ERC) e que o governo catalão estivesse submetido a uma entidade criada por Puigdemont, o Conselho pela República, não eleito e sem existência legal.

Membros do governo regional como Victoria Alsina (relações exteriores) ou Jaume Giró (economia) defendiam a permanência do JxC no executivo. Entre os autarcas havia mais quem defendesse a saída, a pensar nas eleições municipais de maio do próximo ano. As regionais seriam, normalmente, em 2025. A presente crise pode fazê-las antecipar, no limite.

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