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Suécia: Líder da direita formalmente convidado a formar novo Governo

Ulf Kristersson
Ulf Kristersson
Tim Aro/TT/EPA/Lusa

Kristersson deverá conseguir obter o apoio dos quatro partidos do bloco vencedor das legislativas, que reúne desde os Liberais, de centro-direita, aos Democratas da Suécia, de extrema-direita, passando pelos Moderados e os Democratas-Cristãos

O líder do partido conservador sueco Moderados, Ulf Kristersson, foi esta segunda-feira formalmente encarregado de formar um Governo, após a vitória de uma coligação da direita e extrema-direita nas eleições legislativas de 11 de setembro.

Hoje à tarde, o presidente do Riksdag (parlamento sueco), Andreas Norlén, convidou Kristersson, como se esperava, para reunir uma maioria suficiente para suceder no cargo de primeiro-ministro à social-democrata Magdalena Andersson.

Nunca a direita sueca esteve no poder com o apoio da extrema-direita - consequência de uma aproximação iniciada há três anos por Ulf Kristersson.

“Decidi dar ao líder dos Moderados, Ulf Kristersson, a missão de analisar as condições para formar um Governo que possa ser aceite pelo parlamento”, anunciou Andreas Norlén numa conferência de imprensa.

Ao longo da manhã de hoje, o presidente do Riksdag (de 349 lugares) recebeu os dirigentes partidários, no que constitui uma espécie de prelúdio para a nomeação de um potencial novo primeiro-ministro.

Kristersson deverá conseguir obter o apoio dos quatro partidos do bloco vencedor das legislativas, que reúne desde os Liberais, de centro-direita, aos Democratas da Suécia (SD), de extrema-direita, passando pelos Moderados e os Democratas-Cristãos.

Após a sua reunião com o presidente do parlamento sueco, o líder dos Moderados afirmou que a formação de um Governo levará “algum tempo”.

O principal problema é o lugar que ocupam na maioria os SD de Jimmie Akesson, que foram o segundo partido mais votado nas eleições, a seguir aos social-democratas de Magdalena Andersson.

Embora antes do escrutínio tenham acordado com os outros três partidos do bloco da direita que, se vencessem, seria o líder dos Moderados o candidato a primeiro-ministro, os SD expressam a sua vontade de fazer parte do novo executivo, hipótese à qual os restantes três se opõem.

O cenário mais provável será um Governo formado pelos Moderados com os Democratas-Cristãos, e possivelmente os Liberais, e que os extremistas de direita Democratas da Suécia se limitem a ser uma força de apoio no parlamento para fazer passar nova legislação.

Em contrapartida por renunciar a ter ministérios no novo Governo sueco, o partido de extrema-direita poderá negociar avanços políticos em matérias que estão na sua agenda, ou até o cargo de próximo presidente do parlamento.

As negociações “vão bem e tudo está a ser discutido num só pacote”, afirmou hoje Akesson.

Com 73 mandatos parlamentares, os SD serão o principal partido da futura maioria, à frente dos Moderados (68), dos Democratas-Cristãos (19) e dos Liberais (16) – um resultado eleitoral inédito na Suécia.

No total, a maioria que se vai formar é frágil, com 176 assentos parlamentares contra 173 do bloco de centro-esquerda, liderado pelos social-democratas de Magdalena Andersson (107 mandatos).

A primeira-ministra demissionária está a assegurar interinamente a chefia do Governo sueco até que o seu sucessor tome posse, o que só sucederá após a sua aprovação pelo recém-eleito parlamento, cuja primeira sessão plenária está agendada para 27 de setembro.

Apesar de os cidadãos suecos terem ido às urnas no domingo, 11 de setembro, a votação foi tão renhida que só na quarta-feira à noite, 14 de setembro, quando 99,9% dos votos tinham sido contados, é que o líder do partido de extrema-direita SD, Jimmie Akesson declarou a vitória da coligação formada pelos quatro partidos de direita.

O partido foi formado em 1988 assumindo-se como neonazi e, apesar de ter atenuado algumas das suas posições e moderado o seu discurso nos últimos anos, ainda não se livrou completamente desse estigma.

Os SD apresentaram-se em campanha com um discurso centrado nas promessas de combate ao crime e de imposição de fortes restrições à imigração, tendo em conta que a Suécia tem sido palco, nos últimos anos, de um aumento da violência entre gangues - que, desde o início deste ano se saldou em 273 pessoas atingidas por armas de fogo, 47 delas fatalmente, de acordo com estatísticas policiais. Nesses tiroteios, também ficaram feridas 74 pessoas, incluindo transeuntes inocentes.

Na quinta-feira passada, após a sua reunião com Norlén em que apresentou formalmente a demissão do cargo de primeira-ministra, Magdalena Andersson declarou: “Se os Moderados tiverem outras ideias e quiserem cooperar comigo, em vez de com os Democratas da Suécia, a minha porta estará aberta”.

A primeira-ministra demissionária acrescentou ainda que está disposta a trabalhar com todos os partidos, exceto com a extrema-direita.

Andersson, que lidera o maior partido do país, demitiu-se menos de um ano depois de se ter tornado a primeira mulher a chefiar um Governo na Suécia.

A sua nomeação como primeira-ministra representou um marco histórico para a Suécia, encarada, durante décadas, como um dos países mais progressistas da Europa, no que diz respeito a igualdade de género, mas que nunca antes tinha tido uma mulher a ocupar o mais alto cargo político.

Magdalena Andersson protagonizou o histórico pedido de adesão da Suécia à NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, o bloco de defesa ocidental) após a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro deste ano.

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