Alaa Murabit nasceu no Canadá e quando era adolescente mudou-se para a Líbia. Com 21 anos fundou a organização ‘The voice of Libyan Women’ (A voz das mulheres libanesas) e em 2018 foi considerada uma das mulheres mais influentes do Canadá. Além de ser médica, Murabit foca-se em elevar o papel das mulheres, nomeadamente na sua participação em processos de paz e mediação de conflitos. Atualmente diretora de saúde na Fundação Bill & Melinda Gates e comissária nas Nações Unidas para o emprego na saúde e crescimento económico, integrava a lista de oradores das Conferências do Estoril.
É de dois países diferentes. Cresceu no Canadá mas quando tinha 15 anos mudou-se para a Líbia. Esta perspetiva de dois países com realidades e abordagens religiosas muito diferentes mudaram a forma como olha para o mundo?
Sim. Eu nasci e cresci em Saskatoon, no Canadá, uma pequena cidade homogénea no meio das pradarias canadianas e, quando tinha 15 anos, mudei para Zawiya, na Líbia, que é uma cidade relativamente pequena. Mudou a minha perspetiva do mundo porque me permitiu reconhecer o quanto temos em comum. Sim, há essas diferenças. Quando se olha para ambos vê-se que têm diferentes religiões e culturas, até certo nível, mas tanto em Saskatoon e Zawiya, Canadá e Líbia e todos os países em que vivi e trabalhei desde então, há uma necessidade humana fundamental de segurança, proteção para os filhos, oportunidade e de viver com dignidade. O Canadá e a Líbia não são únicos nisso. E penso que todas as pessoas no mundo estão a começar a ter expectativas mais altas relativamente ao que os seus países e governos estão a concretizar, mas também a começar a reapreciar a importância de comunidade. Na Líbia, em particular, esta reconexão com a sociedade civil era entusiasmante de testemunhar. Vi muito mais semelhanças do que diferenças. As diferenças são apenas mais fáceis de vermos, a semelhança demora um pouco de tempo. As pessoas sentem as perdas e graças do mesmo modo.
Falaste de segurança e de como as pessoas sentem a perda. A Líbia há anos que atravessa uma situação de instabilidade. Esperavam-se eleições em dezembro de 2021 mas não se concretizaram. Como é que os atrasos na implementação do processo eleitoral afetaram as pessoas e em específico as mulheres?
Acho que os atrasos no processo eleitoral afetaram toda a gente. Uma eleição não é uma democracia, é um processo, não é apenas um momento e é preciso ser capaz de construir esse alicerce e estar numa posição em que há instituições para apoiar essa liderança. Olho para as eleições como um processo e sou uma enorme defensora de assegurar que não estamos apenas a riscar coisas da lista só para dizer ‘tivemos eleições’, porque fizemos isso no passado. Como é que estamos a construir e manter muitas das instituições que são críticas para uma nação próspera? Isto preocupa-me um pouco, mantém-me acordada até mais tarde. Se fosse só o atraso de uma eleição seria outra coisa.
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