Num comunicado conjunto, os governos da Alemanha, França e Reino Unido lembraram, este sábado, que “no início de agosto, após um ano e meio de negociações, o coordenador do JCPOA [Plano de Ação Global Conjunto, sigla em inglês – acordo sobre o programa nuclear iraniano de 2015] apresentou um conjunto de textos finais que permitiriam ao Irão cumprir novamente as suas obrigações sob este pacto e aos Estados Unidos voltarem ao acordo”.
No texto, os três países sublinham: “Neste pacote final, o coordenador fez outras mudanças que nos levaram ao limite da nossa flexibilidade”.
Neste contexto, lamentam: "Infelizmente, o Irão decidiu não aproveitar esta oportunidade diplomática decisiva" e “continua a escalar o seu programa nuclear muito além do que poderia ser plausivelmente justificado por motivos civis”.
Teerão solicitou recentemente mais uma vez o encerramento de uma investigação da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) sobre vestígios de urânio enriquecido encontrados em três locais não declarados, pedido que o chefe da agência da ONU, Rafael Grossi, recusou.
"Este último pedido levanta sérias dúvidas sobre as intenções e o compromisso do Irão com um resultado positivo no JCPOA", argumentam os três países.
Segundo Berlim, Paris e Londres, "a posição do Irão não está de acordo com as suas obrigações juridicamente vinculativas e mina as perspetivas para o restabelecimento do JCPOA", concluído em 2015 por Teerão e pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados, França, Reino Unido, China e Rússia) mais a Alemanha.
"A nossa posição permanece clara e inalterada. O Irão deve cooperar total e imediatamente com a AIEA, de boa-fé", acrescentam.
"Dado que o Irão não está a aceitar o acordo que está em cima mesa, discutiremos com os nossos parceiros internacionais a melhor forma de lidar com a contínua escalada nuclear do Irão e a falta de cooperação com a AIEA", alertam Paris, Londres e Berlim.
A última resposta do Irão nas negociações em curso foi um passo "para trás", disse o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, na sexta-feira, em Bruxelas.
O JCPOA destina-se a garantir o caráter civil do programa nuclear do Irão, acusado de pretender possuir a arma atómica, apesar dos desmentidos de Teerão.
Teerão está envolvido há mais de um ano em negociações diretas com a Alemanha, França, Reino Unido, Rússia e China, e com os Estados Unidos indiretamente, para relançar o acordo.
As negociações de Viena destinam-se a fazer regressar os Estados Unidos a este acordo — do qual se retiraram unilateralmente em 2018 durante a Administração de Donald Trump — em particular através do levantamento das sanções contra o Irão e de garantias do pleno respeito de Teerão pelos seus compromissos.
No entanto, após a retirada unilateral dos Estados Unidos e a reimposição de sanções económicas a Teerão, o Irão também começou a não respeitar os seus compromissos e iniciou uma aceleração gradual do seu enriquecimento de urânio.
O acordo de 2015 concedeu uma suavização das sanções ao Irão em troca de restrições ao seu programa nuclear, para garantir que Teerão nunca poderia desenvolver uma arma nuclear, o que sempre negou pretender.
O atual Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já afirmou que pretende um regresso ao acordo.
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