Iraque: Apoiantes sadristas retiram-se da Zona Verde de Bagdade após confrontos mortais
Exército iraquiano anunciou o levantamento do recolher obrigatório decretado na segunda-feira em todo o país
Exército iraquiano anunciou o levantamento do recolher obrigatório decretado na segunda-feira em todo o país
Os apoiantes de Moqtada al-Sadr retiraram-se esta terça-feira da Zona Verde de Bagdade, após o influente clérigo iraquiano ter criticado o uso de armas contra as forças de segurança, em confrontos que resultaram em 30 mortos nas últimas 24 horas.
O Exército iraquiano anunciou imediatamente o levantamento do recolher obrigatório decretado na segunda-feira em todo o país, que é rico em petróleo mas atravessa uma grave crise socioeconómica associada a um impasse político desde as eleições legislativas de outubro de 2021.
Os confrontos entre os apoiantes de Al-Sadr e as forças de segurança eclodiram depois de o clérigo populista ter anunciado a sua “retirada definitiva” da política, na segunda-feira. Milhares de apoiantes invadiram a sede do governo na Zona Verde da capital iraquiana, fortemente fortificada.
Os combates eclodiram também entre sadristas e apoiantes do Quadro de Coordenação, uma aliança rival de Al-Sadr, que reúne grupos pró-Irão, incluindo o de Hachd al-Chaabi. “Se não se retirarem da frente do parlamento dentro de 60 minutos, deixarei de fazer parte da corrente sadrista”, disse o líder num discurso de seis minutos na sua cidade natal de Najaf (sul).
“Peço desculpa ao povo iraquiano, pois eles são os únicos prejudicados pelo que está a acontecer”, acrescentou o líder xiita. Após este discurso, transmitido pela televisão, os apoiantes deixaram a Zona Verde e deixaram-se de ouvir disparos, segundo noticiou a agência France-Presse (AFP).
Os combatentes deram lugar a funcionários municipais que limparam os restos dos confrontos, incluindo dezenas de invólucros vazios. Segundo o mais recente relatório fornecido por fonte médica, pelo menos 30 apoiantes de Moqtada al-Sadr morreram a tiro desde segunda-feira, somando-se ainda 570 feridos. Os militares iraquianos disseram que quatro 'rockets' foram lançados para a Zona Verde.
O Quadro de Coordenação condenou o "ataque às instituições do Estado" ao mesmo tempo que apelou ao "diálogo". Já os Estados Unidos, um país influente no Iraque, a ONU e a França pediram moderação.
Devido à violência, o Irão encerrou hoje as fronteiras terrestres com o Iraque. As autoridades de Teerão pediram aos iranianos que evitem qualquer viagem para o Iraque. Também o Kuwait exortou os seus cidadãos no vizinho Iraque a deixar o país e os que iam viajar a adiar a deslocação.
Os Países Baixos evacuaram a sua embaixada na Zona Verde, anunciou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wopke Hoekstra, numa mensagem na rede social Twitter. A companhia aérea Emirates, do Dubai, suspendeu hoje os voos para Bagdade devido à violência no Iraque, sem indicação de quando serão retomados.
O Iraque vive uma crise política desde que as eleições legislativas de outubro de 2021 deram a vitória ao partido sadrista, mas com apenas 73 lugares nos 329 do Parlamento. O partido de al-Sadr tentou uma aliança com outras forças parlamentares para eleger o Presidente e o primeiro-ministro, que ficariam encarregados de formar um Governo, o que acabou por não ser possível, devido ao bloqueio dos opositores xiitas, próximos do regime iraniano.
Os deputados sadristas demitiram-se em bloco, em junho, mas, perante a eleição de um Presidente e de um primeiro-ministro propostos pelos opositores, os seguidores de Al-Sadr ocuparam o Parlamento, em 30 de julho.
A ocupação durou uma semana e, após um apelo do clérigo, os sadristas retiraram-se do Parlamento e têm estado acampados em frente ao edifício, para exigir a dissolução da Câmara e novas eleições.
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