Espancamentos e abusos sexuais: antigos reclusos relatam violência que sofreram em hospital prisional russo
SOPA Images/Getty Images
Alexei Makarov é apenas um entre as dezenas de reclusos que foram torturados no hospital prisional de Saratov, na Rússia. Especialistas explicam que o objetivo dos abusos é obter confissões
Antigos reclusos contaram à BBC as experiências que viveram no hospital prisional de Saratov, na Rússia, com violações e torturas sistemáticas. No ano passado tinham sido divulgados vídeos dos abusos.
Foi para Saratov que foi transferido Alexei Makarov, em 2018, como parte de uma sentença de seis anos. Reclusos transferidos queixam-se de que foram inventados motivos médicos para que pudessem ser torturados à porta fechada. Dadas as regras sanitárias, os hospitais prisionais russos têm ainda menos controlo independente do que as prisões.
No entanto, Makarov estava realmente doente: foi diagnosticado com tuberculose. Conta que foi violado duas vezes enquanto esteve em Saratov. Numa das situações, em fevereiro de 2020, recusou-se a confessar uma suposta conspiração contra a administração prisional e três homens submeteram-no a abusos sexuais violentos contínuos. “Durante 10 minutos espancaram-me, rasgaram-me as roupas. E durante as duas horas seguintes violaram-me de dois em dois minutos com cabos de esfregona.”
Makarov diz que os abusos foram gravados. Foi o que aconteceu em 2021, quando vários vídeos comprovaram a existência deste tipo de situações contra dezenas de reclusos, que a BBC investigou. As imagens foram divulgadas com a ajuda de um antigo recluso, Sergey Savelyev, a quem foi pedido que trabalhasse no departamento de segurança da prisão, onde monitorizava e catalogava as filmagens das bodycams normalmente usadas pelos agentes prisionais.
O juiz ordenou que o crítico do governo russo cumprisse a nova pena numa prisão de segurança máxima
Ao descobrir o que ocorria atrás das portas fechadas, começou a copiar os ficheiros e a escondê-los. Savelyev diz que muitos dos prisioneiros que participam nos abusos foram condenados por crimes violentos e, por isso, cumprem longas penas. “Eles devem estar interessados em sair-se bem durante este período, querendo que a administração seja leal, para que possam comer bem, dormir bem e ter alguns privilégios”, explica.
Depois da divulgação destas provas, seis envolvidos foram presos, além do diretor do hospital prisional de Saratov e do seu adjunto. Todos negam qualquer ligação aos abusos perpetrados. De acordo com a BBC, o Presidente russo, Vladimir Putin, substituiu o chefe do serviço prisional nacional e anunciou que eram necessárias “medidas sistemáticas” para promover mudanças. A lei do país foi alterada no mês passado para introduzir punições severas pela utilização da tortura como meio de abuso de poder ou de extração de provas.
No entanto, ativistas dos direitos humanos sublinham que a tortura como crime independente ainda não é criminalizada. Vítimas e peritos referem que os abusos são usados como forma de chantagem sobre os reclusos. A advogada Yulia Chvanova, especialista na defesa de vítimas de tortura, diz que a principal motivação para o abuso organizado de prisioneiros é o foco das autoridades nas confissões, independentemente da culpa. “As confissões [são colocadas] em primeiro lugar e acima de tudo.”
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes