A China anunciou esta sexta-feira que suspende a cooperação com os Estados Unidos da América numa série de dossiês, que vão da crise climática ao diálogo entre as forças armadas dos dois países. Trata-se de mais uma medida de retaliação pela visita da presidente da Câmara dos Representantes americana, Nancy Pelosi, a Taiwan, que o Governo chinês considerou “viciosa e provocatória”.
A notícia surge por entre manobras militares chinesas no estreito de Taiwan, incluindo simulacros de guerra com fogo real. No mesmo dia em que anunciou sanções contra Pelosi e familiares seus, Pequim pôs fim a conversações sobre ambiente, contactos entre os comandantes dos respetivos exércitos, uma reunião entre os ministérios da Defesa das duas partes, cooperação judicial, repatriamento de imigrantes ilegais, luta contra delitos transfronteiriços e, significativamente, reuniões sobre segurança marítima.
Após a partida de Pelosi da ilha, quinta-feira, a China lançou mísseis balísticos, que sobrevoaram Taiwan. Alguns atingiram águas da zona económica exclusiva do Japão. Estas manobras, que Washington classifica de “reação exagerada”, obrigaram ao desvio de embarcações comerciais. Pelo estreito passam diariamente 240 navios, segundo dados da Lloyd’s List Intelligence citados pelo diário britânico “The Guardian”.
Sexta-feira o Ministério da Defesa taiwanês confirmou que cerca de dez navios e 20 aviões militares chineses tinham atravessado a linha que define as águas territoriais da ilha e que Taiwan mobilizara aviões e navios para acompanhar a situação. Terá havido também ciberataques a instituições taiwanesas. O jornal espanhol “El Mundo” indica que os exercícios chineses devem durar até domingo, tendo a agência oficial chinesa Xinhua explicado que Pequim utiliza drones para “captar imagens de projéteis que atingem objetivos com precisão”.
A Presidente de Taiwan assegurou na rede social Twitter que o seu Governo e o exército da ilha “estão a vigiar de perto os exercícios militares e operações de guerra de informação da China, prontos a responder conforme seja necessario”. Tsai Ing-wen, que recebeu e condecorou Pelosi durante a sua visita, é do Partido Democrático Progressista, historicamente mais cioso da soberania da ilha e conflituoso com Pequim. “Apelo à comunidade internacional para que apoie Taiwan democrática e trave qualquer escalada da situação de segurança regional.”
Mais duro foi o primeiro-ministro da ilha, Su Tseng-chang, que chamou à China “o malvado vizinho do lado”, a quem acusa de “pôr em perigo, arbitrariamente, as vias aquáticas mais transitadas do mundo”.
“Taiwan não vai ser a última peça no sonho chinês de expansionismo”, prometeu em declarações à BBC o ministro dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, Joseph Wu. Pequim responde que não podia ficar imóvel após a “provocação histórica” de Pelosi e repreende as autoridades da ilha por “pretenderem romper a soberania da China com o apoio dos Estados Unidos, que não cessam de se esforçar por instigar tensões na região, por não suportarem ver cair a sua hegemonia”.
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