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Trump quis dispensar segurança e ir com os manifestantes armados até ao Capitólio, revela testemunha

Trump quis dispensar segurança e ir com os manifestantes armados até ao Capitólio, revela testemunha
Robert Nickelsberg

Testemunha chamada à comissão especial que investiga o assalto ao Capitólio de 6 de janeiro de 2021 conta que o ex-Presidente foi avisado que os manifestantes estavam armados - e que pediu para dispensar segurança para chamar mais gente. Depois, quis ir com eles até ao Capitólio, só foi travado in extremis pelos serviços secretos

Cassidy Hutchinson, assessora da Casa Branca durante a administração Trump, disse esta terça-feira ao comité da Câmara de Representantes que investiga a invasão do Capitólio de 06 de janeiro de 2021 que estava “com medo e nervosa com o que poderia acontecer”. O receio sobreveio após conversas com o advogado do então Presidente Donald Trump, Rudy Giuliani, o chefe de gabinete da Casa Branca, Mark Meadows, e outros.

Meadows disse a Hutchinson que "as coisas podem ficar muito más", disse ela, enquanto Giuliani ter-lhe-á afirmado que seria "um grande dia" e que o objetivo era o Capitólio. “Nós vamos ao Capitólio”, disse Giuliani, segundo o testemunho de Cassidy Hutchinson perante o comité.

Hutchinson disse ao comité que estava apreensiva porque ouviu planos para uma manifestação e possíveis movimentos para o Capitólio, onde centenas de apoiantes de Trump mais tarde entraram em confrontos violentos com a polícia e arrombaram janelas e portas, com o objetivo de interromper a certificação da vitória do Presidente Joe Biden. “Eu estava profundamente preocupada com o que estava a acontecer, com o que estava a ser planeado”, sustentou Hutchinson.

Mas o testemunho foi mais revelador: contou a ex-assessora do chefe de gabinete de Trump que o então presidente foi informado de que os participantes do comício de 6 de janeiro de 2021 que começou junto à Casa Branca estavam armados e que queriam que a segurança fosse removida da área e a multidão seguiria para o Capitólio, conta o Washigton Post. Segundo Hutchinson, Trump terá descartado as preocupações com o facto de os manifestantes terem metralhadoras, pistolas ou facas, e disse a assessores que queria que as precauções de segurança fossem suspensas para aumentar o tamanho da multidão. Mais: queria ainda que a multidão marchasse para o Capitólio: “Eles não estão aqui para me magoar”, disse Trump, de acordo com o testemunho de Hutchinson.

E mais: depois do seu discurso na Casa Branca aos manifestantes, o presidente Donald Trump sinalizou a intenção de seguir também para o Capitólio com seus apoiadores. Só que terá sido travado ao entrar na limusine presidencial pelos seus funcionários de segurança: “Não é seguro. Vamos voltar para a Ala Oeste”, disse Robert Engel, chefe do Serviço Secreto que apoiava Trump ao o ex-Presidente, de acordo com o testemunho de Hutchinson.

Mas Trump terá ficado irado: “O presidente disse algo como: ‘Eu sou a porra do presidente. Leve-me até o Capitólio agora.' Ao que Bobby respondeu: 'Senhor Presidente, temos que voltar para a Ala Oeste'", disse Hutchinson. O Sr. Engel agarrou o braço do Presidente e disse: 'Senhor, você precisa tirar a mão do volante. Vamos voltar para a Ala Oeste. Não vamos para o Capitólio". Trump então usou sua mão livre para atacar Bobby Engel”, testemunhou a antiga assessora da Casa Branca.

A descrição que a testemunha fez ao Capitólio coloca o ex-chefe de gabinete de Trump a dizer aos assessores, mesmo quando os manifestantes entram no Capitólio, que o então presidente não queria travá-los e que concordaria que Mike Pence, o vice-presidente que aceitou os resultados eleitorais, devia ser penalizado por isso: "Você o ouviu, Pat. Ele acha que Mike merece. Ele não acha que eles estão fazendo nada de errado", terá dito aquando da invasão.

A jovem de 25 anos, que era assistente especial e assessora de Mark Meadows, já deu antes uma série de informações a investigadores do Congresso e fez vários depoimentos à porta fechada. Mas o comité convocou a audiência para hoje para ouvir o seu depoimento público, aumentando as expectativas de novas revelações na investigação que dura há quase um ano.

A 06 de janeiro de 2021, milhares de apoiantes de Trump reuniram-se em Washington para tentar impedir a certificação eleitoral da vitória nas presidenciais de Joe Biden, tendo morrido cinco pessoas.

Pouco antes, o magnata havia feito um discurso inflamado perto da Casa Branca, onde encorajou os seus apoiantes a marchar em direção ao Capitólio, lançando acusações infundadas de que os democratas tinham cometido fraude eleitoral naquela votação.

As imagens de uma multidão a invadir a sede do Congresso dos Estados Unidos chocaram o mundo.

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