Internacional

Rússia faz novos exercícios militares junto à Ucrânia. NATO insiste no “risco real” de uma nova guerra na Europa

11 fevereiro 2022 14:36

Militares norte-americanos destacados nas bases da NATO na Roménia , perto do Mar Negro FOTO: EPA/RAZVAN PASARICA/Getty Images

Cerca de 70 veículos militares, incluindo tanques e drones serão utilizados nestas manobras de treino de “missões de combate”, junto à fronteira ucraniana. Presidente romeno fala da “crise mais grave desde a queda da Cortina de Ferro”

11 fevereiro 2022 14:36

A Rússia realiza esta sexta-feira novos exercícios militares próximo da fronteira da Ucrânia, apesar das conversações para aliviar a tensão entre Kiev e Moscovo, que o Ocidente acusa de estar a preparar uma invasão do país vizinho. O Ministério da Defesa russo disse que 400 militares participam num “exercício tático” na região sul de Rostov, peto da fronteira com a Ucrânia. Cerca de 70 veículos militares, incluindo tanques e drones (aviões não tripulados), serão utilizados nestas manobras de treino de “missões de combate”, segundo o Ministério da Defesa, citado pela agência espanhola EFE.

As manobras militares da Rússia ocorrem num cenário de elevada tensão sobre a Ucrânia, que acusa Moscovo de ter concentrado mais de 100.000 soldados perto das suas fronteiras. Kiev e o Ocidente dizem que Moscovo pretende invadir novamente a Ucrânia, depois de lhe ter anexado a península da Crimeia em 2014, e de apoiar, desde então, uma guerra separatista no leste do país.

Também esta sexta-feira, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, advertiu que há um “risco real de um novo conflito armado” na Europa por causa da Rússia, durante uma visita a uma base militar na Roménia. Stoltenberg repetiu apelos para que a Rússia desanuvie a tensão criada com a presença das suas tropas na fronteira com a Ucrânia, mas alertou de novo para a possibilidade de um conflito armado. “O número de tropas russas está a aumentar enquanto os tempos de aviso diminuem”, disse Stoltenberg, citado pela agência France-Presse (AFP).

O político norueguês disse que há o risco de uma invasão da Ucrânia em grande escala, mas também de outro tipo de ações, como “tentativas de derrubar o Governo em Kiev, ciberataques e outras formas de agressão russa”. “Temos visto a retórica ameaçadora do lado russo e sabemos que há numerosos agentes de inteligência russos a operar dentro da Ucrânia”, disse Stoltenberg, segundo a agência espanhola EFE. Estes fatores, associados a experiências passadas em que a “Rússia utilizou a força contra a Ucrânia” e outros países vizinhos, levam a NATO a acreditar que a possibilidade de uma guerra iminente é agora uma realidade.

O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) falava na base militar Mihail Kogalniceanu, no sudeste da Roménia, perto do Mar Negro, numa conferência de imprensa com o Presidente romeno, Klaus Iohannis. “Estamos a atravessar a crise mais grave desde a queda da Cortina de Ferro”, disse, por sua vez, Iohannis, denunciando a “estratégia de intimidação” da Rússia.

NATO junta forças

Na quinta-feira, várias dezenas de milhares de soldados russos iniciaram exercícios em grande escala na Bielorrússia, um país vizinho da Ucrânia e da Rússia, que deverão decorrer até 20 de fevereiro. O Ministério da Defesa russo reportou esta sexta-feira manobras navais no Mar Negro, num exercício de “busca e destruição de navios inimigos”.

No âmbito dos esforços para tentar aliviar as tensões, o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, chegou já a Moscovo para conversações com o seu homólogo russo, Sergei Shoigu. “O restabelecimento de contactos num espírito de boa vontade entre a Rússia e o Reino Unido levará a uma redução das tensões na Europa”, disse anteriormente Shoigu.

Wallace chegou à Rússia um dia depois de a sua colega de Governo responsável pela diplomacia, Liz Truss, ter tido uma reunião mal sucedida em Moscovo com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov. Truss pediu que a Rússia retire as tropas estacionadas na fronteira com a Ucrânia e abandone a retórica da Guerra Fria em favor do diálogo, num encontro que Lavrov descreveu como uma “conversa de surdos”.

O Reino Unido é um dos países que estão a fornecer armamento à Ucrânia, que Wallace assegurou ter uma utilidade “claramente defensiva”, numa intervenção recente no parlamento em Londres.

Na sequência da tensão, oito caças-bombardeiros F-15, um número não especificado de helicópteros de transporte CH-47 Chinook e helicópteros de ataque HH-60 Blackhawk norte-americanos chegaram hoje à Polónia. A principal tarefa dos F-15 será a vigilância do espaço aéreo polaco e báltico, com particular incidência no enclave de Kaliningrado, de onde aviões russos se aproximam do espaço controlado pela NATO sem aviso, segundo disse hoje o ministro da Defesa polaco, Mariusz Blaszczak.

Estas forças juntam-se a 350 paraquedistas britânicos que chegaram à Polónia na quinta-feira, e aos 1.700 soldados enviados por Washington há alguns dias, cujo equipamento tem estado a ser descarregado no porto de Gdynia (Norte). Tal como as tropas croatas e romenas destacadas em Szczecin (noroeste), todas estas unidades permanecerão na Polónia sob o comando da NATO, numa base transitória e rotativa.

Estas novas tropas elevam o número de forças da NATO na Polónia para cerca de 5.000 efetivos, uma presença que tem sido criticada pela Rússia. A Polónia – cuja capital, Varsóvia, deu o nome ao pacto militar do antigo bloco comunista soviético – aderiu à NATO em 1999, mas não acolheu tropas estrangeiras no seu território até 2017.

Entretanto, fontes militares espanholas citadas pela EFE indicaram que quatro caças espanhóis tipo Eurofighter devem chegar nestas horas à Bulgária para apoiar a vigilância do espaço aéreo deste país dos Balcãs, no âmbito de uma missão da NATO.