Internacional

Nações Unidas advertem que Sudão do Sul corre o risco de regressar à guerra

11 fevereiro 2022 15:19

Foto: Getty Images

O país tem sido palco de instabilidade constante desde que obteve a independência do Sudão, em 2011

11 fevereiro 2022 15:19

O Sudão do Sul corre o risco de regressar à guerra, advertiram esta sexta-feira as Nações Unidas, perante a violência étnica e as lutas pelo poder, que ameaçam destruir o fracos progressos conseguidos na implementação do processo de paz.

O Sudão do Sul, o país mais jovem do mundo, tem sido palco de instabilidade constante desde que obteve a independência do Sudão em 2011.

Entre finais de 2013 e 2018, uma guerra civil brutal colocou as forças leais ao Presidente Salva Kiir – de etnia dinka – contra as do seu adjunto, Riek Machar – um nuer.

Os combates, a par de atrocidades em grande escala cometidas contra civis – massacres étnicos, violações, torturas, assassinatos e recrutamento de crianças, deslocação forçada – fizerem cerca de 400.000 mortos e deslocaram quatro milhões de pessoas das suas casas.

Os dinka e os nuer são os dois grupos com maior população entre as 64 etnias que se distribuem pelo país.

A implementação do acordo de paz que pôs fim à guerra em setembro de 2018 tem vindo a ser sistematicamente perturbada por desacordos entre antigos beligerantes e várias das suas disposições-chave ainda não foram concretizadas, quando falta menos de um ano para as eleições agendadas.

“Há um risco real de um regresso ao conflito”, disse Yasmin Sooka, que preside à Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas no Sudão do Sul, em declarações em Juba, durante uma visita ao país.

O fracasso no estabelecimento de um comando unificado das forças armadas – um dos pontos centrais do acordo de paz – favorece um clima onde a violência continua a ser a norma, de acordo com as Nações Unidas.

Pelo menos 32 pessoas – incluindo crianças – foram mortas em janeiro no estado de Jonglei, frequentemente flagelado pela violência intercomunitária.

A aliança entre Kiir e Machar num governo nacional tem, por outro lado, vindo a ser enfraquecida pela dissensão dentro do campo do segundo.

Machar enfrenta a oposição de quadros, que o culpam pelos fracassos no xadrez da partilha do poder com o partido do chefe de Estado.

Em agosto de 2021, os combates entre fações rivais do partido de Machar fizeram 32 mortos.

“A falta de progressos na implementação de disposições-chave” do acordo de paz “contribui para a insegurança e impunidade permanentes, no quadro das quais as violações dos direitos humanos são perpetradas”, afirmou hoje a ONU.

“Os membros da sociedade civil sul-sudanesa que se reuniram com a Comissão [dos Direitos Humanos da ONU] disseram ter medo de discutir a situação dos direitos humanos, temendo represálias dos serviços de segurança do Estado, conhecidos por reprimir violentamente as vozes políticas”, acrescenta a declaração das Nações Unidas.