30 janeiro 2022 15:41
Seca severa, guerra e uma economia em falência combinadas estão a provocar a maior crise humanitária em décadas na até há pouco tempo florescente Etiópia. ONU alerta para crise aguda prolongada e milhões de pessoas em risco de má nutrição aguda
30 janeiro 2022 15:41
“Rezamos a Alá por chuva.” A invocação divina não tem sido suficiente para diminuir o sofrimento de muitos etíopes que, em cima da guerra na região do Tigray, no norte do país, têm de tentar sobreviver à seca severa que as regiões do sul e do nordeste atravessam.
É comum ver carcaças de cabras e ovelhas a juncarem o chão árido, muitas famílias perderam já metade das suas reses para a falta de água e, com elas, o seu sustento.
A situação é de tal modo grave, que se espera ter em meados já do mês de março perto de sete milhões de pessoas nas regiões afetadas a precisarem de assistência humanitária de urgência. Dados da UNICEF divulgados pela Reuters revelam que perto de 850 mil crianças naquelas áreas vão sofrer de má nutrição severa em consequência do efeito combinado da seca, da guerra e da situação económica da Etiópia.
“Falharam três épocas de chuva consecutivas”, diz Gianfranco Rotigliano, diretor da UNICEF Etiópia. “Se em abril a chuva chegar, tudo melhora. Mas se não chegar teremos uma situação comparável com o que vimos em 1999 ou entre 1993-94”. Naqueles anos, as crises provocadas pela seca prolongada trouxeram a fome a milhões e a morte a muitos.
Calcula-se que haja 4,4 milhões de pessoas a enfrentar falta de água crítica sendo as planícies do sudeste etíope, a região somali e partes da Oromia, as mais severamente afetadas pela falta de chuva.
No final de dezembro do ano passado, a FEWS Net (Famine Early Warning Systems Network) avisava que as necessidades de assistência humanitária na Etiópia em 2022 seriam 40% mais altas do que em 2021 e mesmo em 2016, um ano depois do El Niño ter provocado secas dramáticas.
A FEWS Net avisa que haverá necessidade de assistência humanitária de larga escala no país durante todo este ano, sublinhada pela falta de acesso ao norte da Etiópia, por causa da guerra, que tentará evitar a morte das pessoas e do gado.