A morada não se pode escrever. Num beco escondido de Varsóvia, na parte de trás de um hotel onde só há caixotes do lixo e exaustores, fica o escritório do grupo de ativistas Abortion Dream Team.
O andar onde Natalia Broniarczyk nos recebe parece totalmente desabitado, o hall está cheio de latas de tinta, tábuas, berbequins, fios elétricos descarnados pendem de um tecto onde faltam pedaços de estuque. Uma pequena porta leva-nos ao escritório das três mulheres que têm o seu rosto espalhado por toda a Polónia por defenderem o que consideraram ser um direito fundamental, reduzido à quase inexistência a 27 de janeiro de 2021: o direito a interromper voluntariamente a gravidez por outras razões que não sejam ou uma violação ou perigo de vida da mãe.
“Há uma carrinha, como aquelas que os políticos usam em campanha, decorada com uma fotografia nossa em grande plano com t-shirts a dizer ‘abortion is ok’, que anda pelo país todo a dizer que somos pecadoras e matamos bebés. Já passaram na cidade da minha mãe, na fronteira do leste com a Ucrânia, ela liga-me sempre em pânico”, começa por dizer a ativista e professora de Estudos do Género de 36 anos.
As mensagens de ódio e as ameaças que chegam por telemóvel e pelas redes sociais são incontáveis, até há mulheres que ligam a pedir ajuda mas na verdade apenas querem “sacar informação sobre as nossas atividades”. Não é o medo de agressões físicas que as faz proteger a morada, mas neste pequeno quarto alugado há comprimidos para abortos “em caso de emergência” que Natália não quer que venham roubar ou destruir.
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