Afeganistão. Estados Unidos confirmam que prazo de retirada é para manter - talibãs vão começar a impedir a saída de afegãos
Guerrilheiros talibã em Kandahar, no Afeganistão
STRINGER
Os afegãos mais qualificados vão ser necessários à reconstrução do país e, por isso, os talibãs vão começar a proibir a passagem de pessoas com nacionalidade afegã para o aeroporto de Cabul. Enquanto isso, o Pentágono já veio furar o balão de esperança que se foi enchendo ao longo dos últimos dias: os militares norte-americanos não devem mesmo ficar para lá de 31 de agosto para ajudar no esforço de retirada de pessoas vulneráveis
O almirante do exército dos Estados Unidos John Kirby anunciou esta terça-feira, numa conferência de imprensa no Pentágono, que “não há qualquer mudança” na data limite de 31 de agosto para a retirada das tropas internacionais do Afeganistão.
Vários governantes europeus têm vindo a pedir que o prazo para o fim dos esforços de retirada de afegãos em perigo de vida, por causa do regresso dos talibãs, seja alargado, já que o número de famílias que precisam de resgate - e que se têm acumulado nas pistas do aeroporto de Cabul, a capital - não para de aumentar.
Uma mulher afegã passa pela monstra de uma joalharia em Herat, a terceira maior cidade do país
Muitas destas pessoas ajudaram a coligação a estabelecer-se no Afeganistão, trabalharam como tradutores, motoristas, mediadores culturais, entre várias outras profissões, muitas delas qualificadas. Outras, durante estes 20 anos de presença militar estrangeira no país, mesmo sem terem ajudado diretamente os militares da NATO, foram desenvolvendo uma vida muito mais livre do que aquela que lhes seria permitida sob o poder talibã. As mulheres são de longe as mais afetadas e não faltam relatos de perseguições dos talibãs, que têm feito buscas casa a casa para encontrar ativistas, professoras, jornalistas, alunas universitárias.
Mesmo assim, as forças militares dos Estados Unidos acreditam que vão conseguir "retirar toda a gente a tempo”, disse Kirby.
Talibãs no centro de Cabul, a capital do Afeganistão
Os talibãs disseram na terça-feira, através de um comunicado do seu porta-voz, Zabihullah Mujahid, que rejeitariam qualquer plano de estender o prazo para a retirada das tropas, e desencorajaram os afegãos a viajar para o aeroporto de Cabul e tentar deixar o país. Para chegarem sequer ao aeroporto, os cidadãos que querem escapar têm de passar por dezenas de controlos talibãs nas estradas e não há qualquer garantia de que, uma vez no asfalto, lhes seja permitida a entrada num avião. Além disso, avisaram que já estão a impedir os cidadãos afegãos de chegar ao aeroporto. “O plano foi montado pelos americanos, eles têm os meios e a oportunidade. Podem levar todas as pessoas que lhes pertencem”.
Zabihullah Mujahid justificou a decisão de começar a impedir a passagem de cidadãos com o facto de que o Afeganistão vai precisar das pessoas mais qualificadas para poder prosperar no futuro. Em troca, garantiu que os talibãs vão conseguir garantir a segurança de todos os cidadãos. “Deixámos tudo no passado, a guerra para nós acabou, não encorajem os nossos cidadãos a ir embora”, disse Mujahid, numa referência às listas de pessoas que poderiam ser alvo de represálias que muitos ativistas acusam os talibãs de ter compilado durante os anos de ocupação.
Cerca de 21.600 pessoas foram evacuadas do Afeganistão nas últimas 24 horas, disse em conferência de imprensa, e citado pelo “New York Times”, o major-general Hank Taylor, vice-diretor de logística do exército norte-americano. O esforço de resgate foi descrito por Taylor como "uma tremenda demonstração de trabalho em equipe e foco". Até ao momento, 63.900 pessoas foram levadas de avião para fora do país, 58.700 delas desde 14 de agosto, ou seja, em menos de dez dias. Nestes números estão incluídos cidadãos americanos e suas famílias, membros da NATO, candidatos a Visto de Imigrante Especial Afegão (SIV) e "afegãos vulneráveis", explicou o major-general.
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