Sebastian Kurz, chanceler da Áustria desde 2017 pelo Partido Popular Austríaco (ÖVP, conservador), confirmou esta quarta-feira que está a ser investigado pelas autoridades do seu país. Alegadamente terá prestado declarações falsas numa comissão parlamentar criada para investigar o chamado caso “Ibizagate”.
Em 2019, talvez no maior escândalo político na história recente da Áustria, foi divulgado um vídeo onde se via e ouvia o então líder do Partido da Liberdade (FPÖ, extrema-direita), Heinz-Christian Strache, a oferecer contratos públicos à irmã de um oligarca russo, em troca de apoio financeiro para a campanha das legislativas de 2017.
O vídeo, alegadamente gravado na ilha espanhola de Ibiza, data de antes das eleições de 2017, que catapultaram Kurz e Strache para uma coligação governativa. Só veio a público em 2019, fazendo ruir a coligação. Kurz governa hoje com os Verdes.
Cilada ao vice-chanceler?
Na altura da gravação, Strache era vice-chanceler de Kurz e os respetivos partidos governavam coligados. O encontro com a representante russa terá sido uma encenação, concebida para prejudicar Strache, mas as autoridades austríacas abriram uma investigação abrangente. Entrevistaram dezenas de figuras políticas, seus conselheiros, assessores, etc.
O FPÖ de Strache é um dos mais bem-sucedidos partidos nacionalistas e anti-imigração na Europa. Em 2017, ao conquistar um quarto dos votos, assegurou as pastas do Interior, Defesa, Trabalho e Transportes, além da vice-chancelaria. Nomeou ainda “independentes” para ministros da Educação e dos Negócios Estrangeiros.
O escândalo do vídeo foi duro para os austríacos, mas não terá sido surpresa total. Muitos lembra-se de outra coligação FPÖ-ÖVP, no Governo de 2000-2005, igualmente com resultados desastrosos. Vários políticos do partido de extrema-direita revelaram-se incompetentes e corruptos.
Kurz nega que tenha feito declarações falsas ou tentado esconder informação, mas na conferência de imprensa desta quarat-feira assumiu que o desenlace mais provável deste processo é uma acusação criminal.
O chanceler de 34 anos disse à comissão parlamentar que sempre tentara responder às perguntas com sinceridade e “da melhor maneira possível”. Defendeu-se alegando que muitas informações sobre o caso de Ibiza provinham de fora da sua órbita, “nas periferias”, anos antes.
Kurz não pensa demitir-se, antes defender-se a cada passo da Justiça. Depois da queda do Governo com a extrema-direita, o chanceler recuperou a confiança dos austríacos nas eleições de setembro de 2019. Ainda que não as tenha vencido com maioria, recebeu mais votos do que antes do escândalo e fez uma coligação com os Verdes. O partido ecologista está pela primeira vez no Executivo.
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