Presidente da República Francesa entre 1974 e 1981, ministro das Finanças, membro da Academia Francesa, eurodeputado e pai de uma frustrada Constituição Europeia, Valéry Marie René Georges Giscard d’Estaing, que morreu esta quarta-feira aos 94 anos, marcou a segunda metade do século XX e início do XXI na política gaulesa.
Visto como modernizador dentro da direita francesa, venceu à tangente as presidenciais de 1974 contra o socialista François Mitterrand, que se desforraria passados sete anos (era então a duração do mandato do chefe do Estado, reduzido para cinco anos na década de 90 por proposta de Giscard, então deputado).
O ex-Presidente socialista François Hollande descreveu Giscard como “um estadista que optou por se abrir ao mundo” e um político “decididamente europeu” que “nem sempre foi compreendido”.
Nascido em 1926 em Koblenz, na Alemanha, onde o pai era diretor financeiro do Alto Comissariado de França na Renânia, ocupada na sequência da I Guerra Mundial, Valéry era neto e bisneto de políticos pelo lado materno. A mãe era ainda tetraneta de Luís XV via uma das amantes do rei. Segundo de cinco irmãos, estudou no liceu em Clermont-Ferrand, no centro de França, e na Paris ocupada pelos nazis.
Alistado da Resistência, combateu na Alemanha e na Áustria, tendo sido agraciado com a Cruz de Guerra. Participou na libertação de Paris em 1944.
A queda de Charles de Gaulle
Giscard formou-se em 1948 na Escola Politécnica francesa, ano em que viveu também no Canadá. Seguiu-se a famosa Escola Nacional de Administração (ENA), em Paris, conhecida como fazedora de governantes (fala-se mesmo em ‘enarcas’, a partir da sigla). Trabalhou como inspetor das Finanças e cedo se fez à política, que lhe corria no sangue, como vice-chefe de gabinete do chefe de Governo, Edgar Faure, do liberal Partido Radical. Tinha 29 anos.
Deputado entre 1956 e 1959 pelo Centro Nacional de Independentes e Camponeses (CNIP, conservador), depois secretário de Estado das Finanças no Executivo de Michel Debré, subiu a ministro com Georges Pompidou, a quem mais tarde sucederia na presidência. Ao mesmo tempo era autarca na região de Puy-de-Dôme, onde tinha raízes familiares.
Giscard fundou em 1962 os Republicanos Independentes, mais tarde Federação Nacional dos Republicanos Independentes. Desalinhado do Presidente Charles de Gaulle, que era bem menos europeísta, criticou a “prática solitária do poder” e foi afastado do Governo em 1966. Ao contrário da tendência do seu partido, negou apoio ao general no referendo constitucional de 1969, em que a derrota levou este último à demissão. Giscard voltaria ao Executivo durante a presidência de Pompidou.
O mais novo no Eliseu
Passados cinco anos, a morte súbita do chefe do Estado abriu via para se tornar, aos 48 anos, o mais jovem Presidente da República em mais de um século, tendo batido na primeira volta o gaullista Jacques Chaban-Delmas (beneficiou de divisões entre os gaullistas, tendo obtido o respaldo de Jacques Chirac) e, na segunda, Mitterrand. Mais novo no Eliseu, desde então só Emmanuel Macron (39 anos quando foi eleito).
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