Exclusivo

Internacional

O europeísta que quis modernizar a direita francesa: Valéry Giscard d’Estaing (1926-2020)

Valery Giscard d'Estaing
Valery Giscard d'Estaing
FRANCOIS MORI/Getty Images

Antigo Presidente falecido esta quarta-feira ocupou inúmeros cargos locais, regionais, nacionais e europeus. Foi pai de uma frustrada Constituição Europeia que caiu às mãos dos seus compatriotas num referendo de 2005

Presidente da República Francesa entre 1974 e 1981, ministro das Finanças, membro da Academia Francesa, eurodeputado e pai de uma frustrada Constituição Europeia, Valéry Marie René Georges Giscard d’Estaing, que morreu esta quarta-feira aos 94 anos, marcou a segunda metade do século XX e início do XXI na política gaulesa.

Visto como modernizador dentro da direita francesa, venceu à tangente as presidenciais de 1974 contra o socialista François Mitterrand, que se desforraria passados sete anos (era então a duração do mandato do chefe do Estado, reduzido para cinco anos na década de 90 por proposta de Giscard, então deputado).

O ex-Presidente socialista François Hollande descreveu Giscard como “um estadista que optou por se abrir ao mundo” e um político “decididamente europeu” que “nem sempre foi compreendido”.

Nascido em 1926 em Koblenz, na Alemanha, onde o pai era diretor financeiro do Alto Comissariado de França na Renânia, ocupada na sequência da I Guerra Mundial, Valéry era neto e bisneto de políticos pelo lado materno. A mãe era ainda tetraneta de Luís XV via uma das amantes do rei. Segundo de cinco irmãos, estudou no liceu em Clermont-Ferrand, no centro de França, e na Paris ocupada pelos nazis.

Alistado da Resistência, combateu na Alemanha e na Áustria, tendo sido agraciado com a Cruz de Guerra. Participou na libertação de Paris em 1944.

A queda de Charles de Gaulle

Giscard formou-se em 1948 na Escola Politécnica francesa, ano em que viveu também no Canadá. Seguiu-se a famosa Escola Nacional de Administração (ENA), em Paris, conhecida como fazedora de governantes (fala-se mesmo em ‘enarcas’, a partir da sigla). Trabalhou como inspetor das Finanças e cedo se fez à política, que lhe corria no sangue, como vice-chefe de gabinete do chefe de Governo, Edgar Faure, do liberal Partido Radical. Tinha 29 anos.

Deputado entre 1956 e 1959 pelo Centro Nacional de Independentes e Camponeses (CNIP, conservador), depois secretário de Estado das Finanças no Executivo de Michel Debré, subiu a ministro com Georges Pompidou, a quem mais tarde sucederia na presidência. Ao mesmo tempo era autarca na região de Puy-de-Dôme, onde tinha raízes familiares.

Giscard fundou em 1962 os Republicanos Independentes, mais tarde Federação Nacional dos Republicanos Independentes. Desalinhado do Presidente Charles de Gaulle, que era bem menos europeísta, criticou a “prática solitária do poder” e foi afastado do Governo em 1966. Ao contrário da tendência do seu partido, negou apoio ao general no referendo constitucional de 1969, em que a derrota levou este último à demissão. Giscard voltaria ao Executivo durante a presidência de Pompidou.

O mais novo no Eliseu

Passados cinco anos, a morte súbita do chefe do Estado abriu via para se tornar, aos 48 anos, o mais jovem Presidente da República em mais de um século, tendo batido na primeira volta o gaullista Jacques Chaban-Delmas (beneficiou de divisões entre os gaullistas, tendo obtido o respaldo de Jacques Chirac) e, na segunda, Mitterrand. Mais novo no Eliseu, desde então só Emmanuel Macron (39 anos quando foi eleito).

Artigo Exclusivo para assinantes

Assine já por apenas 1,63€ por semana.

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para continuar a ler

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pcordeiro@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas