Internacional

Moria. Maior campo de refugiados da Grécia destruído pelo fogo, milhares estão desalojados

Migrantes fogem do fogo no campo de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia
Migrantes fogem do fogo no campo de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia
ELIAS MARCOU

O campo de refugiados ficou praticamente destruído depois de vários incêndios terem deflagrado esta madrugada, após confrontos entre os cerca de 13 mil migrantes

Vários incêndios deflagraram às primeiras horas da manhã de quarta-feira no maior campo de refugiados na Grécia, em Moria, na ilha de Lesbos, levando milhares a fugir, de acordo com as autoridades.

"O fogo alastrou dentro e fora do campo e destruiu-o. Há mais de 12 mil migrantes a serem vigiados pela polícia numa autoestrada", disse o presidente da câmara da principal cidade da ilha, Mylinene, à rádio privada Skai, citado pela agência de notícias Associated Press (AP).

"É uma situação muito difícil, porque alguns dos que estão no exterior incluem pessoas que são positivas [em relação ao coronavírus]", acrescentou o autarca Stratos Kytelis.

Segundo os bombeiros, citados pela agência de notícias France-Presse (AFP), "os fogos espalhados no prado à volta do campo, mas também dentro da estrutura", estão a mobilizar 25 operacionais e 10 veículos no acampamento, que alberga atualmente cerca de 12.700 requerentes de asilo, quatro vezes a sua capacidade.

O campo de refugiados ficou praticamente destruído depois de vários incêndios terem deflagrado esta madrugada, após confrontos entre os cerca de 13 mil migrantes, segundo as autoridades.

Até agora não há informação de vítimas, numa altura em que os bombeiros continuam sem conseguir aceder às tendas e contentores de alojamento.

Segundo o presidente da câmara da pequena localidade de Moria, Yiannis Mastroyiannis, o incêndio deflagrou depois de os 35 requerentes de asilo que tiveram resultado positivo no teste de covid-19 terem recusado ser transferidos para um centro de isolamento.

A partir desse momento, começaram os confrontos entre os refugiados, tendo alguns começado a atear fogos, tanto no interior do recinto como no olival que rodeia o campo, de acordo com a mesma fonte, citada pela agência de notícias espanhola Efe.

Por causa dos ventos fortes, as chamas espalharam-se rapidamente e destruíram quase tudo, especialmente contentores e tendas, indicou.

Mastroyannis disse à cadeia de televisão Skai que os incêndios estão sob controlo e que os residentes fugiram do campo e se encontram na sua maioria nas proximidades de Moria.

Milhares fugiram do acampamento e dirigiram-se à localidade vizinha de Mytilene, tendo a polícia bloqueado o acesso à cidade, situada a cerca de oito quilómetros de distância, para evitar uma emergência sanitária, já que o campo de refugiados estava em quarentena, devido a um surto de covid-19.

O responsável governamental do campo de refugiados, Manos Logothetis, disse que o campo tinha sido completamente evacuado e que o desafio agora é encontrar alojamento para as 13 mil pessoas que lá viviam.

Um fotógrafo da agência de notícias France-Presse (AFP) no local relatou que "quase todo o campo está em chamas, tanto no interior como nas tendas no exterior do olival".

"Os requerentes de asilo fogem do campo a pé em direção ao porto de Mytilene, mas são bloqueados por veículos das forças da lei", acrescentou a mesma fonte.

Uma associação de locais e refugiados, a Stand by Me Lesvos, escreveu na rede social Twitter: "Tudo está a arder, as pessoas estão a fugir". "Há relatos de que os habitantes locais estão a bloquear a passagem [de refugiados] para a localidade vizinha", acrescentou a associação.

A AP confirmou que a polícia de choque foi destacada em redor do campo e ao longo da rota de cinco quilómetros até Mytilene, num aparente esforço para impedir os migrantes de chegarem ao porto.

Os bombeiros de Lesbos estavam também a combater dois outros incêndios florestais na parte ocidental da ilha. Não há relatos imediatos de feridos.

Na semana passada, as autoridades gregas detetaram um primeiro caso de coronavírus no campo de Moria, um residente somali, tendo colocado o acampamento de quarentena.

As autoridades sanitárias afirmaram na terça-feira que diagnosticaram 35 casos de covid-19 até à data, após uma grande campanha de testes nas instalações sobrelotadas.

No país encontram-se mais de 24 mil requerentes de asilo, que permanecem em instalações insalubres e lotadas.

Os principais campos de refugiados estão montados em cinco ilhas do Mar Egeu.

De acordo com as autoridades, os refugiados que chegam à Grécia são sujeitos a uma "quarentena" em "estruturas separadas" para que seja evitada a propagação do coronavírus SARS CoV-2.

Até ao momento não se registou qualquer óbito por covid-19 nos campos de refugiados da Grécia.

De acordo com os meios de comunicação locais, a possibilidade de os deslocar para uma praia próxima está a ser considerada, até ser encontrada uma solução.

O incêndio ocorreu uma semana após ter sido detetado o primeiro caso de covid-19 no campo de Moria, e um dia depois de as autoridades sanitárias terem confirmado que, entre as duas mil pessoas que tiveram contacto com o doente, 35 testaram positivo, tendo de ser isoladas. Só um apresentou sintomas.

O 'paciente zero' é um somali de 40 anos que já tinha obtido o estatuto de refugiado e se mudou para Atenas em agosto, para procurar emprego, sem sucesso, acabando por decidir regressar a Moria, onde tinha montado uma tenda no olival que rodeia o campo.

Várias organizações humanitárias têm vindo a alertar há vários meses que o campo é um barril de pólvora, por causa da sobrelotação e das más condições sanitárias.

Desde o início da pandemia, o Governo grego deslocou mais de mil pessoas deste grupo para o interior do país.

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