A socialite americana Ghislaine Maxwell foi presa esta quinta-feira às 8h30 da manhã, pelo FBI, em Bradford, no Novo Hampshire (Estados Unidos). A detenção acontece no âmbito da investigação aos crimes do milionário e abusador de menores Jeffrey Epstein, informou a NBC News.
Segundo o diário londrino “The Telegraph”, a mulher “incentivava e levava vítimas menores e deslocarem-se às residências de Epstein em vários estados” e ajudava a “recrutá-las e sujeitá-las a abusos sexuais”. Sabia, alega a acusação, que o Epstein preferia as mais novas. As alegações mais antigas remontam a 1994 e envolvem três vítimas, uma das quais tinha 14 anos à altura dos factos.
Uma das advogadas das menores que acusam Maxwell, citada pelo jornal britânico, declarou-se aliviada por uma prisão “que devia ter acontecido há muito”. “O comportamento brutal, implacável e manipulador de Ghislaine Maxwell causou dor tremenda à minha cliente”, assegurou Lisa Bloom.
Maxwell não aparecia em público e o seu paradeiro era desconhecido desde que Epstein foi preso em julho de 2019, acusado de tráfico de menores para prostituição. O milionário, que se dizia inocente, morreu na cadeia em agosto, num aparente suicídio. Já em 2008 fora condenado por tráfico de mulheres e raparigas menores, praticado em Nova Iorque e na Florida entre 2002 and 2005.
Maxwell “foi presa na costa leste, por acusações ligadas a Epstein, e deverá ser presente a tribunal federal ainda hoje”, diz a cadeia noticiosa americana. A audiência deve ser virtual, devido à pandemia de covid-19.
O documento de acusação de 17 páginas apresentado no Tribunal do Distrito Sul de Nova Iorque, a que o diário “The Guardian” teve acesso, contém seis acusações: conspiração para persuadir menores a viajar para praticar atos sexuais ilegais; persuasão de menor para viagar para praticar atos sexuais ilegais; conspiração para transportar menores para praticar atos sexuais criminosos; transporte de menor para para praticar atos sexuais criminosos; e dois casos de perjúrio.
As autoridades americanas creem que Maxwell mentiu em tribunal quando interrogada sobre o esquema de recrutamento de menores de Epstein, ao responder: “Não sei de que está a falar”. A relação entre ambos é descrita como “pessoal e profissional”, tendo sido uma “relação íntima” entre 1994 e 1997.
Massagens íntimas
Maxwell, de 58 anos, foi muito procurada, enquanto amiga do criminoso (de quem chegou a ser namorada) e alegada recrutadora de raparigas e clientes. Segundo a acusação, também “geria as suas várias propriedades”.
A suspeita “fazia-se amiga” de mulheres, lê-se no documento, e “fazia-lhes perguntas sobre as suas vidas, escolas e famílias”. Epstein e Maxwell esforçavam-se por conquistar a confiança das raparigas, levando-as mesmo ao cinema e às compras. Isto acontecia na mansão do milionário no Upper East Site de Manhattan (Nova Iorque), em Palm Beach (Florida), num rancho de Santa Fe (Novo México) e em Londres.
A amiga de Epstein convidava as menores a fazer massagens a Epstein, dando primeiro o exemplo. Por vezes tratava-se de “massagens sexualizadas, durante as quais a vítima menor estava parcial ou totalmente nua”. Em seguida eram pressionadas a ter relações com o milionário e Maxell “estava presente e participava nos abusos”. Apesar dos relatos de várias alegadas vítimas, nunca foi formalmente acusada.
“Maxwell tentava normalizar o abuso sexual de vítimas menores, nomeadamente discutindo assuntos sexuais, despindo-se diante das vítimas, assistindo enquanto uma vítima menor era despida e/ou assistindo a atos sexuais que envolviam a menor e Epstein”, alega a acusação.
Embaraço real
Um dos amigos mais próximos de Maxwell é André Windsor, duque de Iorque, filho da rainha Isabel II. Uma das vítimas de Epstein, Virginia Roberts Giuffre, garante ter sido forçada pelo pedófilo a ter relações sexuais com o príncipe (e com outros amigos de Epstein) quando tinha apenas 17 anos, isto é, num momento em que seria crime.
Giuffre afirma ter sido apresentada a André na casa em Ghislaine Maxwell, em Londres, em março de 2001. Apesar de o príncipe afirmar que não se lembra, há uma foto em que abraça a jovem pela barriga. Depois, alega Giuffre, foi levada para um quarto para ter sexo.
André nega tudo, mas abandonou todas as funções na família real britânica no ano passado após uma entrevista desastrosa à BBC, na qual o seu desmentido foi considerado pouco convincente. Causou escândalo o facto de se ter alojado na casa de Epstein em Nova Iorque em 2010, mantendo a amizade com um homem que já fora condenado por abuso sexual de menores e tráfico de mulheres para prostituição.
Ainda no verão do ano passado o filho da rainha esteve com Maxwell no palácio de Buckingham, duas semanas depois de as autoridades dos Estados Unidos terem anunciado a reabertura do processo contra Epstein. Na entrevista à BBC André disse que não estava com a socialite desde então e que nessa ocasião não falaram de Epstein.
A prisão de Maxwell pode ter implicações para o duque de Iorque. “Todos os outros que forem acusados de permitirem a predação de Jeffrey Epstein também devem ser levados à justiça”, defende a advogada Lisa Bloom. “The Telegraph” ouviu fontes próximas da socialite que creem que esta jamais implicará o príncipe. Já André disse à BBC: “Se houver questões a que Ghislaine tenha de responder, o problema é dela, lamento. Não estou em posição de comentar”.
Nos últimos meses André envolveu-se numa troca de acusações com a justiça americana, que alega que o príncipe não está disposto a colaborar na investigação. Este diz que se disponibilizou e queixa-se de ser negativamente discriminado pelas autoridades americanas.
Maxwell, filha do falecido magnata dos jornais Robert Maxwell, também desmente que André tivesse tido sexo com Giuffre. Esta última processou a socialite por difamação, em 2015.