3 janeiro 2020 7:23
O general Qassem Soleimani, ao centro na foto
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Segundo os EUA, o ataque contra Qassem Soleimani, levado a cabo na capital iraquiana, visou impedir futuros ataques que estavam alegadamente a ser planeados pelo Irão. Ali Khamenei decretou três dias de luto nacional e disse que “os criminosos” envolvidos devem esperar “vingança severa”. O ataque ocorreu um par de dias após o cerco à embaixada americana em Bagdade por milícias pró-iranianas
3 janeiro 2020 7:23
O major-general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu esta sexta-feira num ataque aéreo dos EUA no aeroporto internacional de Bagdade.
A Casa Branca e o Pentágono confirmaram a morte de Soleimani no Iraque, dizendo que o ataque foi levado a cabo sob a direção do Presidente norte-americano, Donald Trump, e tinha como objetivo impedir futuros ataques que estavam alegadamente a ser planeados pelo Irão.
“Durante anos foi seu desejo tornar-se um mártir”
O ayatollah Ali Khamenei anunciou que “os criminosos” envolvidos devem esperar “uma vingança severa”. Numa mensagem à nação publicada no seu site oficial, o líder supremo do Irão declarou ainda que “todos os amigos, assim como todos os inimigos, sabem que o caminho da resistência continuará” e que “uma vitória definitiva aguarda os mujahidin [combatentes] neste caminho abençoado”.
Em seguida, o ayatollah exaltou Soleimani dizendo que morrer pela causa era o grande desejo do general. “Durante anos foi seu desejo tornar-se um mártir e finalmente Deus concedeu-lhe o seu mais alto cargo”, referiu, lamentando, ainda assim, que “o seu sangue puro tenha sido derramado nas mãos dos seres humanos mais depravados”.
Ali Khamenei apresentou as suas condolências à esposa de Soleimani, aos filhos do general e a todo o povo iraniano, decretando três dias de luto nacional.
“Escalada extremamente perigosa e tonta”, diz MNE iraniano
O ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, escreveu no Twitter que “o ato de terrorismo internacional dos EUA, que visou e assassinou o general Soleimani – a mais eficaz força no combate ao Daesh, à Al-Nusra, à Al-Qaeda e outros – é uma escalada extremamente perigosa e tonta”.
“Os EUA são responsáveis por todas as consequências do seu aventureirismo desonesto”, advertiu.
Trump limitou-se a publicar uma imagem da bandeira americana após ser divulgada a notícia da morte de Soleimani.
O Secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, publicou no Twitter um vídeo que, segundo ele, mostra “iraquianos a dançarem na rua pela liberdade, gratos por Soleimani já não existir”.
“Declaração de guerra” dos EUA contra o Irão
O senador republicado Lindsey Graham, um aliado de Trump, defendeu que a morte do general constitui “um grande golpe para o regime iraniano que tem sangue americano nas mãos”. Já o senador democrata Chris Murphy alertou que o incidente poderá desencadear “uma guerra regional maciça”.
As autoridades iraquianas e a televisão estatal informaram que, além de Soleimani, também o comandante iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis foi morto no ataque realizado antes do amanhecer. A Guarda Revolucionária Iraniana e as Forças de Mobilização Popular, um agrupamento iraquiano de milícias apoiadas pelo Irão, confirmaram igualmente as mortes de Soleimani e al-Muhandis.
Hillary Mann Leverett, antiga funcionária de Segurança Nacional da Casa Branca, comentou à Al Jazeera que o assassínio de Soleimani é uma “declaração de guerra” dos EUA contra o Irão. “Os americanos em toda a região precisam de ficar em estado de alerta. Agora estamos numa situação incrivelmente perigosa. O caminho em que nos encontramos é incrivelmente perigoso”, sublinhou.
Matar Soleimani é o equivalente aos iranianos assassinarem o Secretário norte-americano da Defesa ou o comandante do Comando Central dos Estados Unidos, disse ainda Leverett. E acusou: “O Presidente decidiu isto sem debate no Congresso, sem qualquer autoridade do Congresso. É provavelmente um ato ilegal no contexto doméstico dos EUA.”
O ataque ocorreu um par de dias após o cerco e a tentativa de assalto da embaixada americana em Bagdade por milícias pró-iranianas, um episódio que, por sua vez, se deu em retaliação pela morte de 25 elementos das Forças de Mobilização Popular num ataque aéreo dos EUA.