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Quem foi Qassem Soleimani, o comandante de elite iraniana morto por ordem de Trump?

3 janeiro 2020 10:00

press office of iranian supreme leader/anadolu agency/getty images

Foi dado como morto diversas vezes e sobreviveu a várias tentativas de assassínio nos últimos 20 anos, até sucumbir na madrugada de sexta-feira num ataque aéreo ao aeroporto de Bagdade. Após a guerra Irão-Iraque na década de 1980, foi elevado ao estatuto de herói nacional, tendo posteriormente desempenhado um papel crucial no combate ao Daesh

3 janeiro 2020 10:00

O major-general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, sobreviveu a várias tentativas de assassínio levadas a cabo por agências ocidentais, israelitas e árabes nos últimos 20 anos. Morreu, por fim, na madrugada desta sexta-feira na sequência de um ataque aéreo ao aeroporto internacional de Bagdade, ordenado pelo Presidente dos EUA, Donald Trump.

As raízes de Soleimani são humildes, nasceu a 11 de março de 1957 no seio de uma família pobre na província da Carmânia, no sudeste do Irão e começou a trabalhar aos 13 anos, primeiro na construção e depois nas águas, para contribuir para o sustento familiar e ajudar a pagar uma dívida do seu pai. No tempo livre, levantava pesos em ginásios locais e assistia a sermões de um pregador próximo do ayatollah Ali Khamenei, o líder supremo iraniano.

Em 1979, em plena Revolução Iraniana, Soleimani começou a sua ascensão nas Forças Armadas do país. Segundo a revista norte-americana “Foreign Policy”, recebeu apenas seis semanas de treino tático antes de se deparar com o combate propriamente dito pela primeira vez na província iraniana do Azerbaijão Ocidental.

Herói nacional após a guerra Irão-Iraque

Na guerra entre o Irão e o Iraque, disputada entre 1980 e 1988, emergiu como um herói nacional pelas missões que liderou na fronteira iraquiana. Posteriormente, esteve envolvido em operações de assistência militar a grupos xiitas anti-Saddam Hussein e curdos no Iraque, ao Hezbollah no Líbano e ao Hamas na Palestina.

Em 1998, tornou-se comandante da Al-Quds, uma unidade especial da Guarda Revolucionária Iraniana que responde diretamente ao líder supremo e que chefiou até à sua morte. Durante os primeiros anos, manteve um perfil discreto, enquanto fortalecia os laços do Irão com o Hezbollah, com a Síria de Bashar al-Assad e com grupos militantes xiitas no Iraque. Nos últimos anos, já aparecia ao lado de Ali Khamenei e de outros líderes xiitas.

Após o restabelecimento do Governo no Iraque em 2005, na sequência da invasão americana do país dois anos antes, a influência de Soleimani estendeu-se à política iraquiana sob a liderança dos antigos primeiros-ministros Ibrahim al-Jaafari e Nouri al-Maliki, lembra a Al Jazeera. No dealbar da guerra civil na Síria, em 2011, o general ordenou a entrada de algumas das suas milícias iraquianas no país para defender o Governo de Assad.

Fundamental no combate ao Daesh

Entre 2014 e 2015, ajudou no comando das forças combinadas do Governo do Iraque e de milícias xiitas contra o Daesh, o autoproclamado Estado Islâmico. Soleimani foi ainda fundamental na disseminação da influência iraniana no Médio Oriente, que os EUA e os inimigos regionais do Irão – a Arábia Saudita e Israel – tentam combater.

Soleimani foi dado como morto várias vezes, incluindo num acidente de avião em 2006 que matou outras autoridades militares no noroeste do Irão ou após um bombardeamento de Damasco em 2012 que vitimou alguns dos principais assessores de Assad. Também em 2015 circularam rumores de que morrera ou ficara seriamente ferido ao liderar as forças leais ao Presidente sírio nas imediações de Alepo.

Houve repetidos ataques aéreos às bases da Guarda Revolucionária Iraniana na Síria e, em outubro do ano passado, Teerão anunciou que havia impedido um plano de agências israelitas e árabes para matar Soleimani.

“Durante anos foi seu desejo tornar-se um mártir”

Após a notícia da sua morte, Ali Khamenei anunciou que “os criminosos” envolvidos devem esperar “uma vingança severa”. Numa mensagem à nação publicada no seu site oficial, o líder supremo do Irão declarou ainda que “todos os amigos, assim como todos os inimigos, sabem que o caminho da resistência continuará” e que “uma vitória definitiva aguarda os mujahidin [combatentes] neste caminho abençoado”.

Em seguida, o ayatollah exaltou Soleimani dizendo que morrer pela causa era o grande desejo do general. “Durante anos foi seu desejo tornar-se um mártir e finalmente Deus concedeu-lhe o seu mais alto cargo”, referiu, lamentando, ainda assim, que “o seu sangue puro tenha sido derramado nas mãos dos seres humanos mais depravados”.

Ali Khamenei apresentou as suas condolências à esposa de Soleimani, aos filhos do general e a todo o povo iraniano, decretando três dias de luto nacional.