7 maio 2019 11:06

yasin akgul/afp/getty images
O candidato do CHP (centro-esquerda), Ekrem Imamoglu, chegou a ser investido como presidente da Câmara da maior cidade turca. Contudo, o AKP (direita), o partido de Erdogan, alegou ter havido “irregularidades e corrupção” e apresentou recurso. A nova votação, que também foi condenada pelo Parlamento Europeu, está marcada para 23 de junho
7 maio 2019 11:06
Centenas de pessoas concentraram-se, esta segunda-feira, em várias zonas de Istambul, batendo panelas e gritando palavras de ordem contra o Governo. Em causa está a decisão da comissão eleitoral da Turquia de ordenar a repetição das eleições de 31 de março na maior cidade turca. O ato eleitoral foi ganho pelo Partido Revolucionário do Povo (CHP, de centro-esquerda).
O candidato do CHP, Ekrem Imamoglu, chegou mesmo a ser investido como presidente da Câmara de Istambul em abril. No entanto, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, de direita), do Presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, alegou ter havido “irregularidades e corrupção” e apresentou recurso.
A decisão da comissão eleitoral, que agendou a nova votação para 23 de junho, foi classificada por Imamoglu como “traiçoeira”.
“É ilegal derrotar o AKP”
Um representantes do AKP na comissão eleitoral afirmou que a repetição foi convocada porque a votação de final de março não foi acompanhada apenas por funcionários públicos e alguns documentos com os resultados não estavam assinados.
Imamoglu acusou a comissão eleitoral de se ter deixado influenciar pelo partido no poder. “Nunca comprometeremos os nossos princípios. Este país está cheio de 82 milhões de patriotas que vão lutar, até ao último momento, pela democracia”, prometeu, citado pela BBC, perante uma multidão de apoiantes.
O vice-presidente do CHP, Onursal Adigüzel, acrescentou que a decisão de repetir mostra que “é ilegal derrotar o AKP”. Considerando a decisão como “ditadura pura e simples”, Adigüzel escreveu no Twitter que “este sistema, que anula a vontade do povo e desconsidera a lei, não é democrático nem legítimo”.
Uma “mancha negra” para o país
Também o Parlamento Europeu fez saber que a decisão de repetir a votação acabaria com a credibilidade das eleições na Turquia.
Face à decisão, os partidos da oposição convocaram uma reunião de emergência e anunciaram que vão boicotar a nova votação. Indignado, um deputado da oposição, Mahmut Tanal, caracterizou a reviravolta como um “assassínio da lei” e uma “mancha negra” para o país.
Erdogan, pelo contrário, reafirmou a sua convicção de que houve “corrupção organizada e total ilegalidade”.
“Que meios Erdogan planeia usar”?
O investigador Nicholas Danforth, do German Marshall Fund, em Istambul, comenta ao Expresso que “a decisão de Erdogan de forçar uma nova eleição levanta a questão ameaçadora sobre que meios, legais ou ilegais, ele planeia usar para garantir um resultado diferente na próxima vez”.
Além de Istambul, a aliança do AKP com os nacionalistas do MHP também perdeu as presidências das Câmaras de Ancara, a segunda maior cidade e capital do país, e de Esmirna, a terceira maior cidade.
Tratou-se da primeira derrota eleitoral de Erdogan num quarto de século. O partido do Presidente também perdeu várias zonas urbanas da costa mediterrânica, como Antália e Adana.