“Querer que todas as universidades sejam financiadas da mesma forma é um entrave à sua evolução”
O segundo de seis debates sobre o que Portugal precisa para crescer
José Fernandes
Decorreu esta terça-feira à noite, na SIC Notícias, o segundo de seis debates que o Expresso e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) estão a organizar sobre o que Portugal precisa para crescer
Ana Baptista e José Fernandes
Nos últimos 20 anos, o número de pessoas com idades entre os 25 e os 34 que concluíram cursos superiores subiu de 14% para 47%, mas esse crescimento não se repercutiu no mercado de trabalho e, por isso, é que há tantos jovens desempregados e tantas empresas com dificuldades em contratar pessoas. Pedro Martins, da Nova School of Business and Economics (SBE); António Rodrigues, CEO da Casais; Cristina Campos, da Novartis e Francisco Veloso, da Imperial College Business School, em Londres (por via remota) juntaram-se na terça-feira à noite para debater o que se pode fazer para mudar esta realidade. Estas foram as principais conclusões.
1. Intervir no ensino superior
A pergunta é óbvia: se temos mais licenciados porque é que continua a haver tanto desemprego jovem, porque é que as empresas continuam a dizer que não conseguem contratar pessoas e porque é que ainda há tantos licenciados a trabalhar em áreas que não estudaram ou para as quais nem sequer precisavam de um curso? Mas a reposta já não é assim tão óbvia, até porque há duas justificações e uma delas está ligada à qualidade do ensino superior.
“Temos de focar o ensino na aprendizagem activa”, diz Cristina Campos, porque, “temos muito menos especialização do que a devíamos ter”, acrescenta Francisco Veloso, para quem Portugal devia ter, como acontece por exemplo no Reino Unido, universidades dedicadas a um ensino mais especializado e técnico e outras mais focadas na teoria. É também preciso ensinar comunicação, relações interpessoais e capacidades de gestão, e logo desde o início da formação escolar, repara ainda Cristina Campos.
Pedro Martins, da Nova SBE, foi um dos oradores convidados
José Fernandes
Mas é também preciso “um modelo que permita maior flexibilidade e que possa ver-se livre do espartilho que as regras da administração pública colocam junto das universidades e das escolas”, diz Pedro Martins, para quem não se pode continuar a insistir na lógica de expansão através da quantidade como se fez até agora, ou seja, estar focado apenas em aumentar o número de pessoas licenciadas e não pensar na ligação que dos cursos leccionados ao que ao mercado de trabalho. “Querer que todas as universidades sejam muito iguais e financiadas da mesma forma é um entrave grande à evolução das universidades”, considera Francisco Veloso.
2. Intervir nas empresas
A outra justificação para o desajuste que existe entre a grande melhoria no número e qualidade do ensino do superior e o mercado de trabalho é a falta de competências dos gestores portugueses. “97% do nosso tecido empresarial é composto por pequenas e micro empresas e só 1/3 delas tem gestores com qualificações superiores”, repara Cristina Campos. O que leva a que, neste momento, haja empresas cujos trabalhadores têm mais qualificações que os seus chefes, acrescenta Francisco Veloso, o que é um problema porque “empresas com quadros mais qualificados gerem melhor o negócio e os trabalhadores”, continua Cristina Campos.
Cristina Campos, da Novartis e António Rodrigues, do grupo Casais também estiveram no debate
José Fernandes
Ora, isto muda-se com requalificação e aprendizagem ao longo da vida profissional mas muitas dessas formações ainda têm de partir das próprias empresas, porque não há oferta suficiente ou adequada no mercado. “Nós criámos a nossa própria academia e temos um curso de tecnologias da construção com 17 alunos que vamos contratar daqui a dois anos, mas não nos queremos substituir às universidades e aos politécnicos. Costumo dizer que somos advogados das nossas próprias necessidades”, diz António Rodrigues que acrescenta que a Casais também tem uma parceria com a Universidade do Minho num mestrado em construção sustentável.Francisco Veloso acrescenta ainda que também é preciso reforçar as competências digitais, não só dos trabalhadores mais velhos e dos gestores, mas também dos jovens, nas faculdades. E é preciso haver mais empresas a fazer investigação, como acontece já hoje nas startups que, de acordo com este professor, têm mais doutorados a fazer investigação do que empresas mais consolidadas.
“Não temos de crescer em faturação todos os anos, mas temos de crescer e conhecimento e competências”, diz António Rodrigues, CEO do grupo Casais
Francisco Veloso acrescenta ainda que também é preciso reforçar as competências digitais, não só dos trabalhadores mais velhos e dos gestores, mas também dos jovens, nas faculdades. E é preciso haver mais empresas a fazer investigação, como acontece já hoje nas startups que, de acordo com este professor, têm mais doutorados a fazer investigação do que empresas mais consolidadas.
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