“O problema não foram os estrangeiros. A questão é haver um stock de casas que não estão no mercado”
Loading...
Aconteceu na terça-feira à noite, na SIC Notícias, o primeiro de dez debates que a Impresa e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) vão realizar nos próximos 10 meses para debater as últimas cinco décadas de Democracia em Portugal. O primeiro tema é a habitação
Ana Baptista
Victor Reis, arquiteto e ex-presidente do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU); Sandra Marques Pereira, investigadora integrada no ISCTE; Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário; e Pedro Brinca, economista e investigador associado na Nova SBE foram os convidados do primeiro de dez debates que a Impresa e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) está a organizar sobre vários temas que marcaram as últimas décadas de Democracia. O tema, como se vê por alguns dos nomes e cargos, foi a crise que se vive atualmente na habitação. Estas são as principais conclusões.
1. O papel do Estado e do privado
O papel do Estado na habitação esteve esquecido durante muitos anos, mas em 2016 e 2017 “recuperou a sua importância política, com a criação de uma secretaria de Estado, agora reforçada com a criação de um ministério”, repara Sandra Marques Pereira. Ou seja, “este olhar para habitação é um alargamento das funções do Estado que não estavam a ser realizadas até agora”.
Mas quais são então essas funções? “Se o Estado tem capacidade financeira para fazer promoção pública então deve fazê-lo”, diz Victor Reis. Mas, a realidade é que “não tem”, acrescenta. “Há o PRR agora, mas em 2026 acaba e volta tudo a ser como antes”.
Por isso mesmo, repara, “o público e o privado têm de trabalhar em conjunto”, porque “é impensável achar que o será o parque público a resolver a situação”, acrescenta Ricardo Guimarães. O que leva a outras das funções do Estado como “a de facilitador da iniciativa privada e a de regulação”, diz Santa Marques Pereira, e a de definir políticas públicas equilibradas e estáveis, nota Ricardo Guimarães.
O problema, diz Victor Reis, é que o que mais tem havido é instabilidade legal, fiscal e até nas políticas de habitação o que destrói a confiança dos privados. Sem confiança não há investimento, nem mais construção nem mais casas para arrendar no mercado. Por exemplo, “o pacote Mais Habitação é claramente hostil: oferece medidas de apoio fiscal mas, por outro lado, criou desconfiança nos privados” e logo quando se anunciam as medidas, diz, referindo-se ao arrendamento coercivo e à manutenção do congelamento das rendas anteriores a 1990.
“Só o uso da palavra congelamento é pouco inteligente do ponto de vista político e o arrendamento coercivo foi o tiro que saiu ao lado”, repara Pedro Brinca.
Victor Reis; Sandra Marques Pereira, Ricardo Guimarães e Pedro Brinca foram os convidados do debate moderado por Rosa Pinto
D.R.
2. As soluções
Sandra Marques Pereira é da opinião de que o Mais Habitação tem algumas boas medidas e outras que podem ser melhoradas, ao passo que salienta que todo o sistema em si tem “fragilidades do ponto de vista estrutural” que põem em causa a “execução de alguma das medidas”.
Já para Pedro há “medidas para todos os gostos”, algumas das quais são “para inglês ver”, como a obrigação dos bancos oferecerem taxa fixa ou até mesmo o fim dos vistos gold. “É uma medida que até apoio, só que não é por causa da habitação. Não é por isto que temos um problema na habitação”, considera.
De facto, diz Victor Reis, “o problema não foram os estrangeiros. A questão é haver um stock de casas que não estão no mercado”. Ou seja, há falta de oferta e há muitas casas fechadas e devolutas. Aliás, Victor Reis defende que o caminho é pela via do arrendamento dessas mesmas casas que não estão no mercado e deviam estar e que são 700 mil casas devolutas e mais 1,1 milhão de casas de segunda habitação, ou seja, 30% do parque habitacional. “São tantas as casas que temos e não conseguimos colocá-las no mercado”.
E não se consegue porque as pessoas têm falta de confiança no sistema, diz Ricardo Guimarães, ou, pior “têm medo”, conclui Pedro Brinca.
Assine e junte-se ao novo fórum de comentários
Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes