Projeto sobre esclerose múltipla vence prémio de €100 mil
O neurocientista do i3S e responsável pelo projeto AAV-Based Gene Therapy for PPMS conquistou a preferência do júri
Matilde Fieschi
O neurocientista Matthew Holt é o grande vencedor da primeira edição do Prémio Jorge Ruas, que avaliou esta quarta-feira dez ideias científicas na área da saúde. Conheça os restantes finalistas da Tecnimede Open InnovationCompetition, organizada pelo Grupo Tecnimede em parceria com a HiseedTech, e a que o Expresso se associou comomedia partner
“A taxa de sucesso para aprovação de um novo medicamento é muito baixa em todo o mundo”. A frase é de António Murta, CEO da Pathena e um dos membros do júri do Prémio Jorge Ruas, que esta quarta-feira procurou distinguir o melhor de dez projetos científicos que têm precisamente esse objetivo: trazer novas soluções terapêuticas para o mercado e facilitar o processo de desenvolvimento de novas terapias. Deter ou reverter o avanço da esclerose múltipla primária progressiva (PPMS, na sigla em inglês) foi a ideia que convenceu o júri e alcançou o grande prémio de €100 mil.
Ao longo de toda a tarde, a Tecnimede Open InnovationCompetition - organizada pelo Grupo Tecnimede em parceria com a HiseedTech, e a que o Expresso se associou comomedia partner– conheceu e avaliou as dez ideias finalistas, através de apresentações individuais de cinco minutos.
O neurocientista Matthew Holt, membro do i3S, deu a conhecer o AAV-Based Gene Therapy for PPMS, que procura “desenvolver uma nova terapia que consiga entregar a molécula certa, no sítio certo e na altura certa”. O objetivo é entregar um gene às células do sistema nervoso central, no cérebro, e atuar contra a neuroinflamação que provoca, entre outras maleitas, a esclerose múltipla primária progressiva.
Francisco Rocha-Gonçalves, secretário de Estado da Gestão da Saúde, marcou presença no evento para saudar a importância da inovação e do reconhecimento da investigação científica feita em Portugal
Matilde Fieschi
“Acreditamos realmente que a nossa solução representa uma oportunidade única que os nossos concorrentes não conseguem superar”, reiterou perante o painel de júri presidido por Amílcar Falcão, reitor da Universidade de Coimbra. O objetivo é chegar a ensaios clínicos nos próximos anos para comprovar a eficácia em pacientes humanos. De acordo com o neurocientista, estima-se que existam cerca de 2,8 milhões de pessoas em todo o mundo são afetadas por esclerose múltipla, uma doença “devastadora”, e, destas, cerca de “10% a 15% têm PPMS”.
“Como alguém cuja família foi recentemente afetada por doenças neurodegenerativas, fico muito feliz por receber este prémio”, afirmou Matthew Holt, que leva consigo um cheque de €100 mil e apoio técnico do Grupo Tecnimede.
“Este prémio é um estímulo à inovação e à investigação científica”, considerou Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed. “É preciso potenciar o melhor que existe em Portugal e na Europa, porque o nosso futuro depende da nossa capacidade de cooperar e de inovar”, apontou.
O debate contou com a participação de Carlos Robalo Cordeiro (FMUC), António Murta (Pathena), Helder Mota Filipe (Ordem dos Farmacêuticos), Amílcar Falcão (Universidade de Coimbra) e Maria do Carmo Neves (Grupo Tecnimede), e moderação da jornalista Clara de Sousa
Matilde Fieschi
O evento contou ainda com uma mesa-redonda sobre “Ciência e empresas: pontes ou muros invisíveis?”, moderada pela jornalista Clara de Sousa, com a participação de Amílcar Falcão, António Murta, Carlos Robalo Cordeiro (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra), Helder Mota Filipe (Ordem dos Farmacêuticos) e Maria do Carmo Neves (Grupo Tecnimede).
Conheça abaixo as principais conclusões do debate, bem como a lista de projetos finalistas da primeira edição do Prémio Jorge Ruas.
Empresas e academia precisam de ‘tradutor’
“Não é preciso inventar a roda”, considera o bastonário da Ordem dos Farmacêuticos quando questionado sobre como melhorar a cooperação entre universidades e empresas no âmbito da inovação. Para Helder Mota Filipe, é preciso haver “mais capacidade de diálogo” e “estratégias alinhadas” para que este seja um casamento feliz.
Maria do Carmo Neves, que há cerca de uma década desenvolve projetos de investigação em parceria com a Universidade de Coimbra, considera que é preciso existir uma ponte entre estes dois mundos para que seja possível alinhar as vontades da academia com as das empresas. “A indústria queixa-se que a academia é lenta e não é pragmática. A academia queixa-se que a indústria só privilegia produtos que cheguem ao mercado”, reconhece.
Embora todos os oradores deem nota positiva a esta colaboração, todos concordam que é urgente reduzir a burocracia e rever a política fiscal, de forma a premiar quem investe em investigação e desenvolvimento. Por outro lado, António Murta acredita ser importante alterar “os indicadores de desempenho das universidades para que incluam a transferência [do conhecimento] para a sociedade e o impacto real”.
Carlos Robalo Cordeiro concorda e acrescenta que, além de ser necessário um tradutor, é preciso alinhar “diferentes expectativas e diferentes timings” e acelerar a transferência de conhecimento com “consequências [positivas] para a sociedade”. “Temos de falar a mesma linguagem”, remata Helder Mota Filipe.
Projetos finalistas Prémio Jorge Ruas
Glioblastoma Treatment Innovation
GnRHope
iPLUS
mFibro
NEXOLIVAD
Optomics Technology
PURR.AI's AGELESS Platform
Reventus Pharma
Targeting VGF Receptor Signalling for Brain Metastasis (BRIGHT)
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