Projetos Expresso

O avatar que pode resolver os problemas básicos

Juntar a inteligência artificial a sistemas de domótica permitirá aumentar o conforto e garantir maior eficiência energética
Juntar a inteligência artificial a sistemas de domótica permitirá aumentar o conforto e garantir maior eficiência energética
Getty Images

Inteligência artificial: é hoje apresentada a Assistente Virtual do Cidadão, que “irá mediar o acesso aos serviços públicos” e, quem sabe, reduzir os tempos de espera. Mas a última palavra é dos humanos

Fátima Ferrão

São 8h15. O despertador toca e, de imediato, a Alexa dá-lhe os bons-dias e recorda a reunião das 10h30. É tempo de saltar da cama, de usar a app que liga as notícias na casa de banho e de, através do controlo remoto da domótica caseira, definir a temperatura da água do banho. Recebe, entretanto, uma notificação do frigorífico que recorda que acabaram os ovos e sugere as compras necessárias para o menu predefinido para o jantar.

Este início de dia podia ser o de qualquer um de nós. Uma realidade já muito longe dos cenários futuristas dos filmes de Hollywood de há algumas décadas, mas igualmente distinta dos prenúncios pré-apocalíticos de uma sociedade controlada como a antecipada por George Orwell no livro “1984”. A verdade é que a inteligência artificial (IA) está subjacente ao funcionamento de grande parte dos dispositivos eletrónicos e das apps que usamos diariamente, mas a sua evolução está num momento de viragem. O famoso ChatGPT tornou-se, nos últimos meses, a face mais visível desta tecnologia que promete libertar os humanos das tarefas rotineiras, deixando a seu cargo a criatividade e a capacidade de inovação, enquanto lhes serve um cardápio de informação que acelera e facilita a tomada de decisões. “Ajudar as pessoas a serem mais cria­tivas e mais produtivas, libertando-as de tarefas que não acrescentam valor, é o grande potencial da IA”, defende Andres Ortolá. Na opinião do diretor-geral da Microsoft Portugal, a vida das pessoas será muito beneficiada por estas tecnologias, seja em casa, nas compras, na escola ou na saúde. “Todos os sectores podem beneficiar da IA generativa pela aceleração no tratamento dos dados e na automação de processos”, diz.

IA já chegou aos serviços públicos

Mas a capacidade sobre-humana destes sistemas de IA generativa — idênticos à ferramenta ChatGPT — pode igualmente beneficiar o cidadão comum, ao melhorar o atendimento e os serviços públicos. “As soluções de IA são um mundo de oportunidades que, bem utilizadas, têm o poten­cial de revolucionar o sector público, porque aumentam a sua eficiência e a produtividade”, assegura João Dias. Na perspetiva do presidente da AMA (Agência para a Modernização Administrativa), o recurso a estas tecnologias “terá um papel dinamizador e acrescentará uma nova dinâmica ao atendimento público, melhorando a comunicação, aumentando a capacidade pública de atendimento, reduzindo os tempos de resposta para resolver de forma quase automática muitas das interações com o próprio Estado”.

Hoje mesmo, dia 26 de maio, é apresentada a Assistente Virtual do Cidadão, com direito a avatar, que, como explica o secretário de Estado da Digitalização e da Modernização Administrativa, Mário Campolargo, “irá mediar o acesso aos serviços públicos, com a missão de assegurar uma maior capacidade de identificação e resolução de problemas básicos, reduzindo, concomitantemente, os tempos de resposta”. Trata-se de uma solução de IA que vai apoiar a interação digital da população com os serviços públicos, tirando partido de voz e de processamento de linguagem natural, como reforça João Dias.

Este será o próximo nível da IA ao serviço das pessoas no sector público, uma vez que, como refere o presidente da AMA, esta tecnologia já faz parte de um conjunto de sistemas públicos. É o caso do Sigma, um chatbot de assistente virtual 24x7, que responde por escrito a perguntas frequentes no portal ePortugal, ou dos sistemas de informação geográfica, que mapeiam a meteorologia em território nacional para identificar pontos de eclosão de incêndios.

“Esta é uma oportunidade única de transformação”: especialistas debateram o futuro da inteligência artificial na conferência Open AI Alliance, na Nova IMS. Da direita para a esquerda: Ivo Bernardo (Dare Data), Jorge da Ponte (IRN), Andres Ortola (Microsoft), João Dias, (AMA) e Pedro Folgado (CIM Oeste). Moderação: Miguel Castro Neto (Nova IMS). Foto José Fernandes
José Fernandes

Como minimizar os riscos

Pesquisa em IA segura

Investir em pesquisa que garanta que a IA seja desenvolvida de forma segura, ética e transparente. Isto envolve o desenvolvimento de algoritmos robustos, métodos de verificação e validação e a consideração cuidadosa dos seus impactos sociais e éticos.

Governança e regulamentação

Estabelecer políticas, leis e regulamentações adequadas para orientar o desenvolvimento e a implementação da IA pressupõe a criação de normas de segurança, proteção de dados, privacidade, transparência e responsabilidade. Este deve ser um trabalho conjunto entre produtores de tecnologia, universidades, Governos e organizações internacionais, para definir diretrizes claras e atualizadas.

Transparência

Garantir que os sistemas de IA sejam transparentes e capazes de explicar as suas decisões e processos é essencial. Isto ajuda a evitar a opacidade e a falta de compreensão sobre como os algoritmos de IA chegam a determinadas conclusões. A transparência também pode ajudar na deteção de erros ou de discriminação nos sistemas.

Privacidade e segurança de dados

Proteger os dados utilizados pelos sistemas de IA, garantindo o respeito da privacidade e a implementação de medidas de segurança adequadas, é fundamental e exige a adoção de boas práticas de recolha, armazenamento e partilha de dados responsáveis, além de salvaguardas para prevenir o acesso não autorizado e o uso indevido de informações sensíveis.

Literacia

Investir em programas educativos e de literacia pública sobre a IA, os seus benefícios e riscos, incluindo a formação de especialistas com conhecimento ético, e a divulgação de informações para que o público em geral possa tomar decisões conscientes sobre a IA e seus impactos são cruciais.

O futuro da inteligência

Qual o impacto na sociedade e que benefícios traz a exploração das tecnologias de ponta? Que desafios e problemas colocam ferramentas como o ChatGPT? O futuro da inteligência artificial esteve em discussão no evento promovido pela Nova IMS, a que o Expresso se associou.

Textos originalmente publicados no Expresso de 26 de maio de 2023

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas