Se perguntarmos ao ChatGPT o que é inovação aberta, intraempreendedorismo e colaboração, a resposta, dada com a prontidão de um robô de inteligência artificial, aponta no caminho certo: “São conceitos relacionados com a capacidade das empresas de se adaptarem e inovarem num ambiente de constante mudança.” Mas, o mais famoso chatbot do mundo salienta ainda que “ao incentivar o empreendedorismo, a inovação aberta e a colaboração, as empresas podem criar uma cultura de inovação e criatividade, que ajuda a impulsionar o crescimento e a sustentabilidade da organização”.
Tudo verdade, e uma realidade a que as empresas terão de se adaptar. Em nome da sobrevivência e de uma transformação obrigatória, fruto do contexto e das mudanças no paradigma do trabalho. No entanto, este é um caminho que exige alteração de mentalidades nas lideranças e, acima de tudo, pessoas com as competências adequadas e motivadas. “Essa mentalidade de inovação e empreendedorismo já está criada em muitos dos profissionais das tecnologias da nova geração, que procuram aprendizagem e desenvolvimento constantes”, defende Susana Soares, diretora-geral da CHRLY, startup do universo Fujitsu especializada na formação de talento na área tecnológica, lançada esta semana.
Mas para que a inovação possa ser uma realidade não apenas nas grandes organizações é necessário um trabalho de parceria e de colaboração que, em algumas áreas, já existe. A relação entre o sector empresarial e as universidades, por exemplo, um namoro que há décadas seria difícil, é hoje comum. “As empresas começaram a perceber que ninguém inova sozinho e a olhar para a academia como um parceiro”, afirma Ana Casaca. Contudo, a responsável pela área da inovação na Galp, que participou na conferência “Intraempreendedorismo e Inovação: o Papel do Tech Talent”, defende que é preciso ir mais longe e apostar em ambientes colaborativos e de inovação aberta. Na sua opinião, é fundamental a existência de clusters, ecossistemas especializados ou laboratórios colaborativos, que ampliem o conhecimento das organizações que os integram e que lhes garantam a escala de que necessitam para reforçar a competitividade e a capacidade de sobrevivência em mercados globais. E esta colaboração, acrescenta Pedro Santa Clara, “deve começar dentro das empresas, partilhando conhecimento entre departamentos e áreas de negócio, entre pessoas com distintas competências e percursos profissionais, e com outras empresas e instituições”. Para o diretor da Escola 42, uma academia de formação em que não existem aulas, mas sim desafios, “a aprendizagem acontece fazendo”.
Pessoas são motor de inovação
Sem o conhecimento humano não é possível inovar e, por isso, também nas empresas o talento é um elemento essencial. A escassez de recursos de que tanto se fala é um dos maiores desafios com que os gestores se debatem, com o obstáculo adicional de muitas das competências atuais não se adequarem às necessidades do trabalho do futuro. “Todos teremos que reaprender. E capacitar em novas competências é o maior desafio das empresas”, acredita Ana Casaca. José Ferrari Careto, que participou igualmente na conferência que debateu a importância do talento nas áreas tecnológicas, acrescenta a incapacidade de gerar novo talento ao ritmo necessário. “É preciso reconhecer que o talento nas empresas não é suficiente e que é importante estar aberto ao exterior.”
Teresa Rosas, diretora-geral de TI na Fidelidade, defende esta diversidade de competências como essencial à inovação. “São precisas pessoas diferentes no ecossistema onde a colaboração e o espaço para a aprendizagem mútua são peças fundamentais.” Mas reforça que a inovação tem de ser transversal dentro da empresa antes de abrir ao exterior. Uma abertura que, nas palavras de António Dias Martins, se reflete também ao nível de um país. “Todos estão a olhar para a inovação para se diferenciarem no mercado global”, diz. Portugal não é exceção e, na opinião do diretor executivo da Startup Portugal, também deve fazê-lo.
Nas universidades, que, na opinião de Pedro Oliveira, têm um papel muito importante nestas questões da inovação, da colaboração e do empreendedorismo, também existem desafios. “Temos de repensar a forma como se preparam as pessoas e pô-las pensar em soluções para desafios é uma excelente forma de fazê-lo”, argumenta. No fundo, uma abordagem que valoriza a criatividade, incentiva ao pensamento fora da caixa.
“A inovação aberta ajuda as empresas a superar as suas limitações internas através do acesso a recursos externos, novas tecnologias, ideias e conhecimento especializado”, remata o ChatGPT. E, aparentemente, tem razão.
Tecnologia, competitividade e inovação
50
é a percentagem de tecnologias que serão imperiosas no futuro — mas que ainda não foram desenvolvidas ou estão em fase de prototipagem — em todos os sectores
24ª
é a posição de Portugal, entre 63 países, no que se refere à competitividade do talento, segundo o ranking mundial World Competitiveness Center 2022, do IMD
71.329
é o número atual de contratos de open innovation entre empresas e startups declarados para o ranking 100 Open Startups. A Suíça é o país mais inovador do mundo
Melhores frases
“Tentar e falhar é essencial. Desvalorizar o falhanço é crítico para inovar. A melhor forma de criar espírito de equipa é falhar em conjunto”
Pedro Santa Clara
Diretor Escola 42
“Economia e inovação devem ser construídas sobre o que existe no país. Em Portugal, somos tão pequenos que as oportunidades de negócio globais são enormes”
Pedro Cilínio
Secretário de Estado da Economia
“O empreendedorismo deve ser uma atividade voluntária dos colaboradores, dentro das organizações. Quando decidem fazê-lo por sua iniciativa, a inovação acontece”
Rita Pelica
Chief energy officer da CHRLY
O papel do talento tech
O Expresso e a Fujitsu/CHRLY juntam-se para debater e analisar a importância do talento na conferência “Intraempreendedorismo e Inovação: o Papel do Tech Talent”. Vários peritos irão procurar respostas a questões que se colocam na atualidade: pode Portugal ter uma cultura de inovação aberta? Como podem gestores públicos e privados, academia e startups contribuir para a literacia? Conseguimos encontrar soluções através do talento tech?
Textos originalmente publicados no Expresso de 21 de abril de 2023
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