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“O mercado local de flexibilidade ajuda a descarbonização e a resolver os problemas que ela traz”

Foi no segundo painel que se falou de regulação e do que é necessário fazer em Portugal para se poder implementar o mercado local de flexibilidade
Foi no segundo painel que se falou de regulação e do que é necessário fazer em Portugal para se poder implementar o mercado local de flexibilidade
Joao Girao

A E-Redes, a empresa responsável pelas redes de distribuição que levam a eletricidade às casas e empresas, organizou esta tarde, em parceria com o Expresso, uma conferência sob o tema “Acelerando os serviços de flexibilidade nas redes de distribuição de eletricidade”

Ana Baptista

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O objetivo de acabar com os combustíveis fósseis tem várias frentes: fontes renováveis para produzir eletricidade; carros elétricos e substituição do gás usado nas fábricas, nas empresas e nas casas por eletricidade. Não há dúvidas de que o mundo se está a eletrificar e isso coloca uma pressão acrescida nas redes de distribuição, exigindo investimentos na construção de novas infraestruturas que acabam por ser pagos por todos os consumidores na conta da luz. Atento a isso, a E-Redes quer testar o potencial do mercado local de flexibilidade no qual é “pedido” aos consumidores - indústrias, empresas ou casas - que consumam menos quando a rede vai estar sobrecarregada para, em troca, receberem um desconto na conta ou um valor pela disponibilidade que apresentaram.

O projeto - chamado FIRMe - está em fase de desenvolvimento e, apesar da E-Redes querer lançar, já este verão, o primeiro leilão para encontrar consumidores dispostos a oferecer essa disponibilidade de reduzir o consumo, ainda há várias questões a resolver, nomeadamente regulatórias. Por isso chamou para debater este tema uma série de especialistas e de representantes de outros países onde este serviço já está mais avançado.

A conferência decorreu esta tarde e contou Ana Fontoura Gouveia, secretária de Estado da Energia; Paul Micallef da EY; John Bayard e Pilar Sanchez da PICLO (a empresa que gere a plataforma onde se realizarão os leilões); Hubert Dupin, da francesa ENEDIS; Michael Kenefick, da EV Energy; Pedro Del Rosal; da EDP Redes España; Serena Cianotti, da italiana ENEL; Ricardo Bessa, do INESC-TEC; Jorge Esteves, e Pedro Verdelho da ERSE; Filipe Pinto, da DGEG; Pedro Carvalho do IST; Josep Maria Salas da CNMC (Espanha); e Rita Mota, da associação Eurelectric. Do lado da E-Redes estiveram o CEO, José Ferrari Careto; Pedro Godinho Matos, responsável pelo projeto FIRMe; Rui Bento, Rui Gonçalves e a fechar, o administrador João Martins de Carvalho. Estas são as principais conclusões.

Paul Micallef, da consultora EY
Joao Girao

O que é preciso fazer cá

  • Pedro Verdelho foi muito claro: este não é um mercado natural, tem de ser criado. E isso implica outros fatores. A E-Redes está a trabalhar no tema de forma acelerada e já estabeleceu uma parceria com a empresa PICLO, que providencia a plataforma digital onde decorrerá o leilão e onde os consumidores dispostos a reduzir o consumo se podem inscrever.
  • Mas, para que o leilão se possa realizar, vai ser preciso “rever as nossas regras”, diz Jorge Esteves, acrescentando que o processo já está em curso e deverá entrar em consulta pública “dentro de algumas semanas”.
  • Do lado da E-Redes é preciso encontrar os consumidores dispostos a reduzir o consumo e para isso o preço a pagar por essa disponibilidade “tem de ser atractivo”, repara Ricardo Bessa, do INESC-TEC, e ser custo-eficiente porque é suposto este mercado de flexibilidade evitar ou adiar investimentos em novas redes, repara Pedro Godinho Matos.
  • Ainda assim Pedro Carvalho alerta que, mais do que ser uma alternativa a novos investimentos, “os mercados de flexibilidade têm de ser vistos como uma solução complementar”. Aliás, “no futuro serão soluções híbridas”, diz.
A secretária de Estado da Energia, Ana Fontoura Gouveia, fez a abertura da conferência desta tarde
Joao Girao

A importância deste novo serviço

  • Evitar novos investimentos que depois vão ser pagos pelos consumidores é, por si só, uma grande vantagem deste serviço, mas olhando para o sistema elétrico, este mercado local de flexibilidade permite superar constrangimentos na rede de uma forma muito mais rápida, porque construir novas redes ou substituir por redes inteligentes é um processo mais demorado, repara Rui Bento.
  • Para Paul Micallef, além de ser um momento “histórico” “esta é também uma forma de superar os constrangimentos criados pelo aumento da eletrificação e pela transição energética”, ou seja, “a flexibilidade está a ajudar-nos a descarbonizar e a resolver os problemas que essa mesma descarbonização traz”.
  • Talvez por isso a proposta para a reforma do mercado europeu de eletricidade - que Bruxelas apresentou a 14 de março - já inclua estes serviços ou mercados locais de flexibilidade, até como forma de dar mais poder ao consumidor dentro do sistema energético. O que para Ana Fontoura Gouveia, que abriu a conferência, é uma das partes boas da proposta que, no geral, considera “pouco ambiciosa”.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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