Dados relativos à forma como os cidadãos encaram a pandemia deram mote ao debate "Covid-19: o pensam os portugueses?"
Nuno Fox
Quem o diz são os especialistas convidados a participar no debate que se realizou hoje de manhã e que se focou na análise do “Estudo sobre covid-19”, trabalho que reflete a perceção dos portugueses em relação à pandemia
Segundo o estudo divulgado recentemente pelo Expresso e realizado pela GfK, 84% da população portuguesa tem algumas dúvidas ou acha mesmo que o país não está preparado para enfrentar uma nova pandemia: 17% acha que de certeza que não está preparado, 40% pensa que provavelmente não está e 27% diz que provavelmente sim, mas sem certezas. Esta opinião é, de certa forma, corroborada pelos entendidos. “Com os mesmos recursos que temos, não estou certo que fosse possível fazer melhor do que fizemos se acontecesse outra pandemia”, sublinha Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.
Apesar de os profissionais de saúde terem agido como podiam e com o que tinham, os recursos são ainda escassos e a alocação de pessoas na resposta à covid-19 - na altura mais crítica - debilitou outros serviços. Em termos de atividade não realizada, só durante o primeiro ano de pandemia, houve menos 1 milhão e meio de consultas hospitalares, menos 170 mil cirurgias e centenas de milhares de rastreios oncológicos que não foram feitos. "Se estivéssemos preparados, teríamos mantido a nossa atividade normal. O grande desafio é dar resposta à pandemia sem haver disrupção dos outros serviços”, esclarece Joaquim Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Doenças Infecciosas e Microbilogia Clínica.
Destacamos, abaixo, alguns dados do estudo:
39%
pensam que a covid-19 é hoje mais uma doença transmissível, como a gripe
71%
tencionam manter hábitos adquiridos como forma de prevenção, como o uso de máscara
89%
dizem estar satisfeitos com o desempenho das empresas e instituições científicas
90%
dos cidadãos consideram que a pandemia teve impacto na educação e aprendizagem
7.1
é o grau de satisfação dos portugueses com a telemedicina, numa escala de 0 a 10
39%
preferem que os cuidados de saúde sejam feitos no centro de saúde e o hospital esteja reservado para situações mais excecionais ou de maior gravidade
Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública
Nuno Fox
Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública
Nuno Fox
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O debate contou com a participação de Xavier Barreto, presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Joaquim Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Doenças Infecciosas e Microbilogia Clínica, Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e Luís Filipe Barreira, vice-presidente do Conselho Diretivo da Ordem dos Enfermeiros.
Veja ou reveja o debate - na íntegra - clicando AQUI.
Conheça outras conclusões relevantes da conferência:
Mais recursos e mais acesso para enfrentar pandemias
Incluir outros “atores”, na comunidade, que possam dar uma resposta mais rápida e próxima à população, como é o caso das farmácias ou do apoio ao domicílio, e não concentrar tudo nas instituições hospitalares.
Restruturar o SNS e organizar a forma como se trabalha.
Conseguir capacitar o sistema com mais profissionais, captando-os e fixando-os.
Mais planos de contingência e capacidade de os executar. “O desconhecimento e incapacidade de ter planos de contingência levaram as pessoas a serem mais pessimistas em relação ao nosso sistema de saúde”, explica Gustavo Tato Borges.
A prioridade neste momento é proteger os mais vulneráveis e manter certos hábitos de proteção individual - como o uso de máscara e etiqueta respiratória - caso existam sintomas de algum tipo de infeção respiratória.
Tecnologia sim, mas investimento é crucial
SNS precisa de investir em meios digitais para otimizar o seu sistema, facilitando a vida de doentes e especialistas.
“Não há interoperabilidade entre as plataformas de saúde neste país”, lembra Luís Filipe Barreira, acrescentando que tem esperança que o PRR possa ser uma alavanca para “reforçar e melhorar a telesaúde”.
O investimento em tecnologia não deve descurar a segurança no que diz respeito à proteção de dados.
Além disso, há um “manancial brutal de dados que não é aproveitado”, diz Joaquim Oliveira, colocando a tónica na interrupção do funcionamento de sistemas digitais durante a pandemia que continua por recuperar.
Saúde mental
Pandemia pôs este assunto em evidência, com impactos evidentes no bem-estar dos portugueses
Contratar mais profissionais e descentralizar a resposta para conseguir chegar aos muitos que precisam é essencial.
“Há uma forma diferente de olhar para a saúde mental. Isso é positivo e há criação de novas respostas, pelo menos é o que está contemplado no Orçamento de Estado”, afirma Xavier Barreto.
Acompanhe a edição em papel do Jornal Expresso de dia 20 de janeiro - amanhã nas bancas - se quiser saber mais sobre o “Estudo sobre covid-19” . Veja também o debate, hoje à noite, emitido a partir das 20h, na Sic Notícias
Preparação do país para futuras pandemias preocupa a maior parte dos inquiridos
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