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Especialistas querem criar uma estratégia nacional para a saúde da mulher

Especialistas querem criar uma estratégia nacional para a saúde da mulher
JOSÉ SENA GOULÃO

Grupo de trabalho liderado por Maria de Belém Roseira apresenta, na segunda-feira, um conjunto de recomendações dirigidas aos decisores políticos. Documento abrange áreas como a saúde sexual, mental e questões ligadas à comunidade LGBTQIA+. Evento da Hologic, a que o Expresso se associa, será transmitido em direto na página de Facebook do semanário a partir das 15h30

Francisco de Almeida Fernandes

Mais e melhor saúde é o principal objetivo a atingir através das recomendações que compõem o documento “A Saúde da Mulher em Portugal”, que resulta da reflexão de médicos de várias áreas sobre os desafios específicos de género. A iniciativa é liderada pela antiga ministra da Saúde, Maria de Belém Roseira, que apresenta, na próxima segunda-feira, 28, as principais conclusões do grupo de trabalho. “O que para nós é mais importante é que os resultados desta reflexão cheguem a quem tem capacidade de decisão”, aponta a patologista Paula Chaves.

Responsável pela direção de investigação do Instituto Português de Oncologia durante 11 anos, a médica reformada explica ao Expresso que “a mulher tem várias patologias que têm de ser encaradas, do ponto de vista de saúde pública, de uma forma muito específica”.As patologias oncológicas, o cancro da mama ou do colo do útero são temas que a especialista considera “fundamental” debater, mas faz questão de sublinhar que, mais do que concentrar esforços numa doença, é importante “melhorar a literacia” entre as doentes.

“Não estou preocupada com as médicas. Estou preocupada com a população em geral, com as mulheres que trabalham nas fábricas, nos campos ou nos serviços”

Paula Chaves não tem dúvidas de que é preciso “garantir o acesso aos cuidados de saúde” a toda a população, mas defende ser necessário assegurar que as mulheres “sabem o que devem fazer e como devem fazê-lo” no sistema de saúde. E aponta que, apesar de ser mulher, “sou médica e logo aí o meu acesso [aos cuidados] é diferente” porque conhece o funcionamento da rede. “Não estou preocupada com as médicas. Estou preocupada com a população em geral, com as mulheres que trabalham nas fábricas, nos campos ou nos serviços”, explica.

Para lá da oncologia, o grupo de trabalho reúne peritos em áreas como a medicina geral e familiar, a saúde mental, a cardiologia, a reumatologia ou a saúde sexual e reprodutiva. Mas inclui ainda um olhar atento sobre as questões particulares da comunidade LGBTQIA+, bem como de violência de género. “Acho que fizemos o nosso melhor e estão ali [no documento apresentado segunda-feira] as diretrizes que achamos importante operacionalizar”, considera a patologista.

O documento “A Saúde da Mulher em Portugal” será publicamente apresentado e debatido com uma apresentação inicial por Maria de Belém Roseira, a que se seguem duas mesas-redondas. A expectativa do grupo de trabalho é trazer para a discussão pública a importância de incluir uma perspetiva de sexo e de género nas políticas de saúde, assim como contribuir para a criação de uma estratégia nacional para a saúde da mulher.

49%

é a percentagem de mulheres em Portugal que não conseguem pagar despesas de cuidados de saúde mental, de acordo com o Índice de Igualdade de Género 2021. Nos homens, o valor desce para 41%, colocando o país atrás da média europeia que regista, respetivamente, 39% e 33%
Saúde das Mulheres em Portugal

O que é

O Expresso e a Hologic juntam-se para debater a Saúde da Mulheres em Portugal. O grupo de trabalho composto por especialistas e representantes de entidades científicas refletiu sobre o tema, num processo que culminou na elaboração de um documento com conclusões e sugestões de melhoria ao sistema de saúde. Objetivo é enriquecer e incentivar a discussão do tema em Portugal e contribuir para a melhoria da saúde e do bem-estar das mulheres no país. Durante o evento, será dado a conhecer o resultado deste trabalho com propostas concretas para um Plano Nacional da Saúde da Mulher.

Quando, onde e a que horas?

Segunda-feira, 28, a partir das 15h30, no Palacete Tivoli, em Lisboa.

Quem são os oradores da mesa-redonda?

  • Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde e presidente do grupo de trabalho “A Saúde das Mulheres em Portugal”;
  • Fátima Palma, Sociedade Portuguesa de Contracepção;
  • Vera Pires da Silva, Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar;
  • Helena Canhão, Sociedade Portuguesa de Reumatologia;
  • Ana Timóteo, Sociedade Portuguesa de Cardiologia;
  • José Luís Passos Coelho, Sociedade Portuguesa de Oncologia;
  • Gabriela Sousa, Sociedade Portuguesa de Senologia;
  • Paula Chaves, Liga Portuguesa Contra o Cancro;
  • Maria João Heitor, Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental;
  • Emilia de Alonso, Hologic.

Porque é que este evento é importante?

Numa altura em que cerca de um milhão de portugueses não tem acesso a médico de família, garantir o acesso aos cuidados de saúde é uma prioridade para os especialistas que compõem o grupo de trabalho. Porém, além da realidade que afeta toda a população, os peritos consideram que existem características de sexo e de género que devem ser tidas em conta na definição das políticas públicas de saúde. Dados como aqueles registados pelo Índice de Igualdade de Género 2021, do Instituto Europeu para a Igualdade de Género, mostram que continua a verificar-se maior dificuldade entre as mulheres no acesso aos cuidados, mas também na capacidade financeira para lidar com despesas médicas. Promover o debate e sugerir caminhos a seguir pelos decisores políticos é o grande objetivo do documento apresentado na segunda-feira.

Como posso ver?

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